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Deputado Raul Carrion - PCdoB-RS

27/09/2012
Sessão solene da Assembleia homenageia Revolução Farroupilha
Foi realizada em 19 de setembro a sessão solene em homenagem à Revolução Farroupilha, no Plenário Bento Gonçalves, no Memorial do Legislativo.

A solenidade foi iniciada com a execução do Hino Nacional, pela Banda da Brigada Militar. Representantes das bancadas do Parlamento tiveram espaço para se manifestar durante a sessão.

A Semana Farroupilha promovida pela Assembleia Legislativa prestou  homenagem ao centenário de Guido Mondin, gaúcho que se destacou na política e nas artes, como escritor e artista plástico. Além de ter exercido dois mandatos como deputado estadual, Mondin foi deputado federal, senador e ministro do Tribunal de Contas da União.

CONFIRA A ÍNTEGRA DO PRONUNCIAMENTO DE RAUL CARRION:

Exmo. Sr. Presidente desta Casa, deputado Alexandre Postal; Exma. Sra. Helena Beatriz Coelho; Exmo. Sr. Marcelo Lemos Dornelles; Exmo. Sr. Nilton Leonel Arnecke Maria; Exmo. Sr. Carlos Bolivar Goellner; Exmo. Sr. Gaspar Marques Batista; Ilma. Sra. Talita Mondin, filha do parlamentar Guido Mondin, homenageado neste centenário do seu nascimento; Exmas. Sras. e Exmos. Srs. Parlamentares; e todos os que nos acompanham:

Ao iniciarmos esta manifestação em nome da bancada do PCdoB, por ocasião dos 177 anos do início da mais longa revolta republicana contra o todo poderoso Império brasileiro, centralizador e escravocrata, deve-se fazer uma pergunta: por que insistir em relembrar um episódio tão longínquo no tempo, em que, após quase 10 anos de luta, os rio-grandenses foram derrotados e o Império foi vencedor? Por saudosismo, por diletantismo?

Penso, como historiador e homem público, que isso é indispensável para que compreendamos melhor a nossa história e o processo pelo qual forjamos nossa identidade e nossa maneira de ser e pelo qual ajudamos a construir a grande Nação Brasileira, o que nos permitirá contribuir ainda mais, nos dias de hoje, no enfrentamento dos grandes desafios que o nosso Estado e o nosso País precisam superar.

A gesta farroupilha se inscreve no contexto das inúmeras revoltas federalistas e republicanas do pós-independência, como a Confederação do Equador, em 1824, a Balaiada, em 1830, a Cabanagem, em 1835, a Sabinada, em 1837, as Rebeliões Liberais de São Paulo e Minas Gerais, em 1842, e a Revolução Praieira, em 1847.
Disputavam-se nesses confrontos os rumos do Brasil a ser construídos. De um lado uma monarquia oligárquica e centralizadora, instrumento dos grandes proprietários escravistas monocultivadores do café para exportação do Vale do Paraíba do Sul; de outro, o projeto de uma federação republicana mais aberta e progressista, para alguns liberta do trabalho servil. Acabou prevalecendo o caminho do império centralizador e escravocrata.

Por algum tempo a rebeldia foi sufocada, mas não extirpada. Qual brasas adormecidas, persistiram os ideais da federação, da república, da emancipação dos escravos. A luta não fora em vão. A Abolição, em 1888, e a Proclamação da República, em 1889, não aconteceram, obviamente, por acaso e nem surgiram do nada. Decorreram do acúmulo de forças das lutas anteriores, entre as quais a Revolução Farroupilha.
Tenho a convicção de que o espírito rebelde, libertário, progressista e patriótico dos rio-grandenses, que sempre marcaram presença nas grandes lutas do povo brasileiro, como na Coluna Prestes, em 1924, na Revolução de 30, na campanha O Petróleo é Nosso, nos anos 40, no Movimento da Legalidade, em 1961, na luta pela redemocratização do País e na luta contra o neoliberalismo, é inseparável do que significou a epopeia farroupilha. Por isso é importante rememorá-la.
Encerro meu pronunciamento valendo-me de versos do nosso grande payador Jayme Caetano Braun:

Levantam-se na paisagem
desta minh´alma campeira
as crinas da cabeleira
daquela indiada selvagem,
que misturava coragem
com rasgos de fidalguia,
entremeando ventania,
com terra e com sacrifício
– peleadores por ofício,
porque a vergonha exigia.
Olho no espaço e vejo,
na brasa que o céu destapa,
a minha terra farrapa,
fruto do nosso falquejo
– o berço altivo do andejo
que encarava o sol de frente;
a gente da minha gente,
a cepa – o tronco, a raiz,
posta perante o País,
na condição de indigente!
Velhos sinais de perigo,
ou – melhor dito – de luto,
até parece que escuto
trovoadas de um tempo antigo,
quando o taura – ao desabrigo,
com sangue à meia costela,
calçava o pé na cancela,
neste garrão de querência,
pra manter a permanência
da Pátria Verde-Amarela!