Porto Alegre, sexta-feira, 29 de março de 2024

   

Deputado Raul Carrion - PCdoB-RS

11/08/2009
Processo vaza e revela benefício direto de Yeda Crusius em fraude de R$ 44 milhões
A íntegra do processo contra a governadora Yeda Crusius e mais oito pessoas vazou na internet e causou perplexidade. Com 80% do conteúdo baseado em diálogos telefônicos interceptados com autorização judicial, o processo de 1.238 páginas mostra os bastidores de corrupção e troca de favores do governo estadual.

Os líderes dos partidos que assinaram o pedido da CPI receberam com cautela as informações divulgadas pela imprensa sobre o processo. O líder do PcdoB, Raul Carrion, lembrou que o trabalho da nova CPI, a exemplo da CPI do Detran, pode elucidar mais fatos e responsabilizar agentes públicos envolvidos nas fraudes. “Será de extrema importância para que a sociedade gaúcha saiba quem foram os responsáveis pelo desvio de R$ 44 milhões do Detran”, disse.

Líder da bancada do PDT, Adroaldo Loureiro lembrou que hoje a Assembleia começa a analisar o processo. “Vamos ver se realmente não havia elementos para embasar o afastamento”, afirmou.

Áudios comprometedores
Nas páginas da ação por improbidade administrativa que o MPF move contra a governadora Yeda Crusius, a participação dela e dos outros oito réus é descrita com base em testemunhos, diálogos gravados com autorização judicial e depoimentos por escrito.

Das 1.238 páginas da ação civil pública do Ministério Público Federal (MPF), 1.046 – mais de 80% do conteúdo total – são de transcrições de conversas gravadas. A partir delas, os procuradores sustentam a tese de que nove réus, incluindo a governadora Yeda Crusius, participaram ativamente do desvio de R$ 44 milhões do Detran, revelado pela Operação Rodin, em novembro de 2007.

Interceptações telefônicas, algumas inéditas, entre envolvidos na fraude que são réus no processo criminal da Operação Rodin e conversas gravadas entre o consultor Lair Ferst e o ex-representante do Estado em Brasília Marcelo Cavalcante, que morreu em fevereiro, estão entre os principais elementos de prova apresentados.

Na ação, consta que o deputado federal José Otávio Germano (PP) é um dos principais mentores e beneficiários do esquema. Conforme os procuradores da República, o valor de propina era fixado em R$ 450 mil mensais. Parte se destinava ao pagamento do chamado “jurídico”, sendo que R$ 70 mil ficavam com José Otávio. Pelo menos R$ 30 mil eram recebidos pelo presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE), João Luiz Vargas. O restante – R$ 350 mil – eram divididos em duas parcelas de cerca de R$ 175 mil destinadas ao que se chamou de “governo” e de “partidos”.

Segundo o MPF, o depoimento prestado pelo então presidente do Detran, Sérgio Buchmann, em 17 de julho, foi de “extrema relevância” para mostrar a concordância e benefício direto dela na fraude. Em conversas telefônicas, o ex-diretor-presidente do Detran Flavio Vaz Netto ameaçava retornar à CPI do Detran para repassar informações sobre pressões de Delson para poder “resgatar o seu Lair” e pagar as contas da governadora.

O MPF dedicou o maior número de páginas a José Otávio, Yeda e Vargas. Delson, Walna, Rubens Bordini (ex-tesoureiro da campanha de Yeda) e Carlos Crusius (ex-marido) tiveram participação acessória no caso, conforme a ação. Entretanto, o envolvimento teria sido fundamental para Yeda.

Juíza nega afastamento
A juíza Simone Barbisan Fortes, titular da 3ª Vara da Justiça Federal de Santa Maria, negou o pedido de afastamento do cargo da govenadora tucana Yeda Crusius de forma liminar – antes de examinar o mérito da ação do Ministério Público Federal –, no final da tarde desta segunda-feira (10). A decisão dá mais relevância à CPI da Corrupção, que deve ser instalada na próxima semana na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.

Além de negar o afastamento solicitado pelo Ministério Público Federal, a juíza autorizou o fim parcial do sigilo da ação. Em três páginas, a juíza considera “deveras complexa” a ação dos procuradores para que seja tomada uma decisão rápida. O Palácio Piratini, sede do governo gaúcho, reagiu à decisão da Justiça: “A verdade aos poucos vai se restabelecendo”, disse o chefe da Casa Civil, José Alberto Wenzel.

Para os líderes da oposição, a decisão dará maior relevância à CPI. “O processo apenas começou. A decisão reforça a atenção à CPI. Há dois pedidos de impeachment, e outros podem surgir”, afirmou  o líder da bancada do PT, Elvino Bohn Gass.