
				
				
				Tive a oportunidade, em julho de 2014, de visitar durante uma 
				semana a República Popular Democrática da Coreia. Na ocasião, 
				cumpri uma intensa agenda, realizando mais de 40 atividades em 
				distintas regiões do país, incluindo visitas a centros de 
				atenção à saúde; centros educacionais; equipamentos culturais, 
				esportivos e de lazer; empreendimentos fabris e agrícolas; 
				modernas áreas residenciais; museus, monumentos e sítios 
				históricos; grandes obras, como o Complexo Hidráulico do Mar do 
				Oeste; a Linha Demarcatória do Armistício, em Panmunjon; etc.
				
				
				Pude, também, manter conversações com o Embaixador brasileiro na 
				RPD da Coreia, Roberto Colin, e com distintas representações 
				governamentais, além de ter acesso a ampla informação e 
				bibliografia sobre as transformações em andamento no país.
				
				
				Constatei, então, a enorme distância entre a realidade e a 
				imagem que é difundida pelos monopólios midiáticos ocidentais em 
				relação à RPDC, apresentando-a como um país retrógrado, 
				belicista e de famintos, a ser salvo pelas “pacíficas”, “nada 
				discriminadoras” e “benevolentes” “democracias” ocidentais, 
				lideradas nada mais, nada menos que pelos EUA de Donald Trump...
				
				
				Ao retornar ao Brasil, apresentei à Assembleia Legislativa do 
				Rio Grande do Sul um relatório detalhado sobre essa viagem, 
				acompanhado de um estudo histórico sobre a Coreia. É com base 
				nessa separata que apresento este texto sobre as profundas 
				transformações ocorridas na Coreia nas últimas décadas.
				
				
				
				OS PRIMÓRDIOS
				
				
				Os primeiros sinais de humanídeos na península coreana datam do 
				paleolítico inferior, há um milhão de anos atrás. Já os 
				primeiros indícios humanos (artefatos, uso do fogo, etc.), datam 
				de 300.000 anos AC.
				
				
				Seus descendentes ingressaram na idade do bronze na segunda 
				metade do quarto milênio AC, tendo criado a Civilização 
				Taedonggang. Surgiu, então, o primeiro Estado da nação 
				coreana – conhecido como Joson Antigo e fundado pelo Rei 
				Tangun. Civilização que irá durar cerca de três mil anos, até 
				108 aC.
				
				
				Em 277 AC, emergiu o primeiro Estado Feudal da Coréia, que 
				rapidamente se expandiu, submetendo progressivamente os demais 
				reinos. No início do século 5º DC, o Estado de Koguryo já 
				dominava um território de 2.400 km de leste a oeste e de 2.000 
				km de norte a sul. Sua capital era Pyongyang.
				
				
				Em 918, o Rei Wangkon estabeleceu a dinastia Koryo, tendo 
				por capital a atual cidade de Kaesong, unificando pela primeira 
				vez a nação coreana. A dinastia Koryo durou até 1392, quando 
				surgiu a dinastia feudal Joson, o último Estado feudal da nação 
				coreana, que no início do século XX foi dominado pelos 
				japoneses.
				
				
				A 
				TRANSFORMAÇÃO DA COREIA EM COLÔNIA JAPONESA
				
				
				No final do século XIX – quando ocorreu a expansão imperialista 
				em todo o mundo – a Coréia sofreu sua primeira agressão em 1866, 
				quando o navio de guerra norte-americano General Sherman 
				invadiu as águas territoriais do país e subiu o Rio Taedong até 
				Pyongyang, mas foi afundado e incendiado pelos coreanos. Após, 
				outros barcos de guerra – da França, Inglaterra e Japão – foram 
				repelidos pelo povo coreano. 
				
				
				Porém, em 1876, o Japão conseguiu impor ao decadente Estado 
				feudal coreano o desigual Tratado de Kanghwado, reduzindo 
				a Coréia a uma semi-colônia japonesa. As guerras sino-japonesa 
				de 1904-1905 e russo-japonesa de 1904-1905 – quando a China e a 
				Rússia foram derrotadas pelo Império Japonês – criaram as 
				condições para o total domínio nipônico sobre a Coréia.
				
				
				Os Estados Unidos apoiaram o Japão em sua ocupação da Coréia, em 
				troca do apoio japonês à ocupação norte-americana das Filipinas 
				(Pacto Secreto Taft-Katsura). O Tratado de Ulsa – 
				imposto pela força das armas em 1905 – e o Tratado 
				Coreano-Japonês de Anexação, em 1910, consumaram a 
				transformação da Coréia em colônia japonesa. A partir de então – 
				usando da maior brutalidade – os japoneses desenvolvem uma 
				política de colonização, apoderando-se das terras, indústrias e 
				riquezas coreanas e explorando duramente o país e o seu povo. Em 
				1925 já eram 425 mil japoneses instalados na Coréia. Em 1942, 
				80% das florestas e 25% das terras cultivadas estavam em suas 
				mãos.
				
				
				A 
				RESISTÊNCIA CONTRA A DOMINAÇÃO JAPONESA
				
				
				Os coreanos nunca aceitaram o domínio japonês e em 1908 o 
				movimento “voluntários anti-japoneses” chegou a abarcar 70 mil 
				guerrilheiros, mas acabou derrotado em 1910. Ocorreram diversas 
				outras rebeliões, mas igualmente foram esmagadas pelos 
				japoneses, com grande violência.
				
				
				Em 1917, Kim Hyong Jik – pai do futuro Presidente da Coréia, Kim 
				Il Sung – criou a organização revolucionaria Associação 
				Nacional Coreana, para lutar contra a dominação japonesa, 
				mas acabou sendo preso. Em 1919, no lugar dos “voluntários 
				anti-japoneses”, que haviam sido derrotados, surgiu o 
				Movimento do Exército Independentista, que retomou a 
				resistência armada aos japoneses. Em 1925, foi formado o 
				Partido Comunista da Coréia, que não foi reconhecido pela 
				Internacional Comunista e se desfez em 1928.
				
				
				Em outubro de 1926, Kim Il Sung fundou a União para Derrotar 
				o Imperialismo (UDI), integrada por jovens comunistas, tendo 
				por objetivos derrotar o imperialismo japonês, alcançar a 
				independência da Coréia e construir o socialismo e o comunismo. 
				Em 3 de julho de 1930, Kim Il Sung criou a Associação de 
				Camaradas Konsol, formada por jovens comunistas, que viria a 
				ser o embrião do futuro Partido do Trabalho da Coréia.
				
				
				Em abril de 1932, foi iniciada a Guerrilha Popular 
				Anti-japonesa, que logo se estendeu para diversas regiões, 
				incluindo a Manchúria. Em março de 1934, ela foi transformada em
				Exército Revolucionário Popular da Coréia. Nas áreas 
				liberadas, foram organizados governos revolucionários 
				populares, unindo todas as forças antijaponesas.
				
				
				Em maio de 1936, realizou-se a conferência constituinte da 
				Associação para a Restauração da Pátria (ARP) – primeira 
				organização permanente da frente única nacional anti-japonesa na 
				Coréia – e foi aprovado o seu Programa de Dez Pontos. Kim 
				Il Sun foi eleito seu presidente.
				
				
				No final da década de 30, os japoneses atacaram duramente o 
				ERPC, que correu o risco de ser aniquilado. Em fins de 1938, sob 
				o comando de Kim Il Sung, o ERPC empreendeu a chamada Marcha 
				Penosa, em pleno inverno, para fugir ao cerco. Após mais de 
				100 dias de marcha, o grosso da guerrilha conseguiu chegar, em 
				março de 1939, à região fronteiriça de Beidadingzi, escapando ao 
				cerco.
				
				
				A 
				DERROTA DO IMPERIALISMO JAPONÊS E A OCUPAÇÃO DO SUL PELOS EUA
				
					
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									| 6 de 
									setembro de 1945: o povo coreano celebra a 
									proclamação da República Popular da Coréia. | 
								 
							 
						 
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				Ao final da Segunda Grande Guerra, após a rendição alemã (8 de 
				maio de 1945), a luta prosseguiu contra o Japão, que continuava 
				dominando inúmeros países na região do Pacífico e ocupando a 
				Coréia. Em 8 de agosto, o Exército Revolucionário Popular da 
				Coréia (ERPC), sob a direção de Kim Il Sung, iniciou sua 
				ofensiva contra os japoneses, em todo o país. Em 9 de agosto, a 
				URSS declarou guerra ao Japão e atacou as tropas japonesas na 
				Manchúria e na Coréia. Nas principais cidades e regiões, a 
				população sublevou-se. A situação tornou-se insustentável para 
				os japoneses.
				
				
				Sem qualquer necessidade, pois o Japão já negociava a rendição, 
				os Estados Unidos lançaram duas bombas atômicas em Hiroshima e 
				Nagasaki, matando mais de 300 mil pessoas, quase todos civis. Em 
				15 de agosto, o Japão assinou a sua rendição. O ERPC e demais 
				lideranças patrióticas organizaram Comitês Populares em 
				toda a Coréia que, reunidos em Seul, proclamaram em 6 de 
				setembro de 1945 a República Popular da Coréia.
				
				
				Desrespeitando a autodeterminação do povo coreano, no dia 8 de 
				setembro, os Estados Unidos ocuparam o Sul da Coréia com suas 
				tropas, até o paralelo 38, inclusive Seul, dissolveram os 
				Comitês Populares e prenderam em massa os seus membros. 
				Segundo o historiador norte-americano Bruce Comings:
				
				A informação 
				interna estadunidense acerca de prisioneiros políticos sob a 
				ocupação dos EEUU dava 21.458 pessoas na prisão em 1947, e 
				17.000 em agosto de 1945; dois anos depois, 30.000 supostos 
				comunistas estavam nos cárceres de Rhee e os processos dos 
				suspeitos de comunismo constituíam 80% de todos os casos 
				judiciais. Uma série de ‘Campos de Tutela’ alojavam esses 
				prisioneiros adicionais (...) a embaixada dos EEUU estimava que 
				70.000 pessoas encontravam-se nesses campos.[1]
				
				O 
				1º comunicado do General Douglas MacArthur, comandante das 
				tropas norte-americanas, não deixou dúvidas quanto ao seu 
				caráter de ocupação militar:
				
				como comandante 
				em chefe das Forças Armadas dos Estados Unidos no Pacífico, 
				exerço através das mesmas o controle militar sobre o Sul da 
				Coréia, desde o paralelo 38, e sobre a sua população. (...) 
				Devem ser respeitadas todas as minhas ordens e as ditadas sob a 
				minha autoridade. Os atos de resistência às forças de ocupação 
				ou qualquer ação que possa obstaculizar a tranqüilidade pública 
				e a segurança serão castigadas com energia. Durante o meu 
				controle militar, o inglês será o idioma oficial.[2]
				
				
				Em seu informe sobre os três primeiros meses de ocupação, o 
				General Hodge afirmou: “[Existe] um crescente ressentimento 
				em relação a todos os estadunidenses na área (...) cada dia que 
				passa em meio a essa situação torna a nossa posição na Coréia 
				mais insustentável e diminui nossa decrescente popularidade 
				(...) a palavra pró-estadunidense é associada a pró-japonês, 
				traidor nacional e colaboracionista.”[3]
				
				
				
				Após negarem ao povo coreano o direito à autodeterminação, os 
				militares estadunidenses – diante das dificuldades em formar um 
				governo pró-americano no Sul da Coréia – foram buscar nos EUA o 
				Sr. Syngman Rhee (um septuagenário que lá vivia há 37 anos) e o 
				impuseram, no início de 1946, como presidente de um fictício 
				Conselho Democrático Representativo, que tinha como 
				principal sustentáculo os antigos colaboracionistas 
				pró-japoneses. Poucos tempo depois, uma série de greves e 
				passeatas – pleiteando melhores salários e direitos trabalhistas 
				– tomaram conta da cidade de Seul. Na manifestação a polícia foi 
				autorizada a atirar na multidão, matando 41 grevistas. Logo 
				depois, centenas de grevistas foram presos, torturados e 
				condenados à pena de morte.
				
				A 
				ocupação norte-americana e seu apoio aos segmentos que haviam 
				colaborado com a ocupação japonesa geraram uma grande reação do 
				povo sul-coreano: “Os torturadores e os integrantes de 
				esquadrões da morte, que até bem pouco haviam sido um dos braços 
				do domínio estrangeiro, estavam de volta, circulando pelas ruas 
				com armamento norte-americano, radiotransmissores e jipes.”[4]
				
				
				No outono de 1946, uma rebelião massiva se espalhou por quatro 
				províncias. Fortemente reprimidos, os rebeldes iniciaram uma 
				guerrilha que se manteve ativa até 1949. Em outubro de 1948, 
				ocorreu uma importante rebelião no porto de Yosu, sufocada ao 
				custo de mais de 2.000 mortos e 3.000 presos. Na ilha de Cheju a 
				resistência foi calada depois de terem sido mortos 60 mil 
				pessoas, terem fugido para o Japão outras 40 mil e terem sido 
				destruídas cerca de 40 mil casas. Das 400 aldeias existentes, só 
				restaram 170.
				
				
				A 
				RECONSTRUÇÃO NA COREIA DO NORTE
				
				
				Enquanto isso, no Norte as tropas russas respeitaram o governo 
				surgido dos Comitês Populares, criados logo após a 
				vitória contra os japoneses.
				
				
				Em 10 de outubro de 1945, Kim Il Sung fundou o Partido 
				Comunista da Coréia do Norte, que em 1946 uniu-se ao 
				Partido Neodemocrático da Coréia, constituindo o Partido do 
				Trabalho da Coréia.
				
				
				Em 8 de fevereiro de 1946, tendo por base os Comitês 
				Populares formados em todo o país, foi constituído o 
				Comitê Popular Provisório da Coréia do Norte – com a tarefa 
				de levar adiante a revolução democrática, anti-imperialista e 
				anti-feudal – o qual elegeu Kim Il Sung como seu presidente.
				
				
				Em 5 de março – sob o lema “a terra pertence aos camponeses que 
				a trabalham” – foi editada a Lei da Reforma Agrária na Coréia 
				do Norte, que confiscou as terras de japoneses, 
				pró-japoneses, traidores da nação e latifundiários, e as 
				distribuiu para 725 mil famílias camponesas sem terra ou com 
				pouca terra. O regime permitiu aos ex-latifundiários que 
				desejassem trabalhar a terra, se mudarem para províncias 
				vizinhas, onde lhes era concedida a mesma quantidade de terra 
				que aos demais agricultores. Os camponeses obtiveram terras que 
				podiam ser transmitidas aos seus filhos, mas não podiam ser 
				compradas ou vendidas no mercado.
				
				
				Em 24 de junho foi promulgada a “Lei do Trabalho para os 
				operários e empregados da Coréia do Norte”, estabelecendo a 
				jornada de 8 horas e a proibição do trabalho às crianças. No dia 
				30 de julho, foi assinada a “Lei da igualdade de direitos do 
				homem e da mulher na Coréia do Norte”.
				
				
				Seguiram-se diversas outras medidas para democratizar as esferas 
				judicial, fiscal, cultural e educacional. Foi estabelecido o 
				ensino gratuito e obrigatório e deflagrada uma grande campanha 
				de alfabetização que criou mais de 16 mil escolas para adultos, 
				só em 1946. No início de 1949, mais de 2,3 milhões de coreanos 
				haviam sido alfabetizados e o analfabetismo foi definitivamente 
				erradicado no país.
				
				
				Em 10 de agosto de 1946, foi assinado o “Decreto de 
				nacionalização de indústrias, transportes, comunicações, bancos, 
				etc.”, pertencentes a japoneses, pró-japoneses e traidores 
				da nação, que tiveram os seus bens expropriados, sem direito a 
				qualquer indenização. Os capitalistas patriotas e pequenos e 
				médios empresários tiveram os seus bens respeitados.
				
				
				Em 3 de novembro de 1946, foram realizadas as primeiras eleições 
				democráticas da Coréia, em seus 5.000 anos de existência: “Nas 
				eleições ao Comitê Nacional Popular de novembro de 1946 o PDC 
				obteve 351 representantes, o Chongu-dang 253 e o PTCN 1.102; 
				foram eleitos, ainda, 1.753 representantes postulados como 
				apartidários.”[5] 
				Em fevereiro de 1947, instalou-se o Comitê Popular da Coréia 
				do Norte, tendo por presidente Kim Il Sung. Em 8 de 
				fevereiro de 1948 foi constituído o Exército Popular da Coréia.
				
				
				Fruto de todas essas transformações econômicas, sociais e 
				políticas, a produção industrial aumentou 3,4 vezes entre 1946 e 
				1949, e a produção para o consumo cresceu 2,9 vezes. Houve um 
				início de diversificação industrial. No ano de 1949, a indústria 
				nacionalizada era responsável por 91% da produção e as 
				cooperativas e o Estado controlavam 57% do comércio. Na 
				agricultura, surgiram as primeiras cooperativas agrícolas e 
				artesanais e um incipiente setor estatal, formado por granjas 
				experimentais e estações de máquinas e tratores.
				
				
				Segundo Cumings:
				
				72% das crianças 
				freqüentavam a escola primária, comparadas com os 42% de 1944; 
				cerca de 40 mil escolas para adultos em todo o país brindavam 
				alfabetização básica a operários e camponeses. Informação 
				estadunidense (...) mostra a produção de lingotes de ferro 
				subindo de 6.000 toneladas em 1947 a 166.000 em 1949, a produção 
				de barras de aço subir de 46.000 toneladas a 97.000, (...) 
				superior à produção japonesa de 1944 (...); a produção 
				industrial subiu 39,6% em 1949(...). O resultado desse esforço 
				extraordinário (...) foi que desde 1940 até meados dos anos 60 
				(...) Coréia do Norte cresceu de maneira muito mais rápida que o 
				Sul (...).[6]
				
				
				
				OS EUA IMPEDEM A REUNIFICAÇÃO E A AUTODETERMINAÇÃO DA COREIA
				
					
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									| O povo 
									coreano participa da primeira eleição 
									democrática em 3 de novembro de 1946. | 
								 
							 
						 
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				Apesar de ter sido acordado na Conferência de Ministros de 
				Relações Exteriores, realizada em Moscou, em dezembro de 1945, 
				que a URSS e os Estados Unidos trabalhariam pela criação de um 
				governo provisório unificado e que no prazo de cinco anos se 
				retirariam da Coréia, no dia seguinte os Estados Unidos passaram 
				a trabalhar pela divisão definitiva do país, em um contexto de 
				“Guerra Fria”.
				
				
				Além de dissolverem pela força os Comitês Populares e 
				reprimirem os que defendiam a reunificação da Coréia, criaram a 
				armaram um exército de 150 mil homens no Sul, sem possuir 
				qualquer mandato para tanto. Não satisfeitos, propuseram em 
				setembro de 1947 que a questão da Coréia – que era um assunto a 
				ser resolvido entre a URSS e os Estados Unidos – passasse para a 
				alçada da ONU, sem ingerência do Conselho de Segurança (onde a 
				URSS podia exercer o direito de veto). Moscou se opôs, mas os 
				EUA – que naquela época manejavam as Nações Unidas ao seu bel 
				prazer – conseguiram aprovar a proposta. Assim, foi formada a 
				Comissão Temporária das Nações Unidas sobre a Coréia, que 
				convocou “eleições gerais” no país, o que não foi aceito nem 
				pela URSS, nem pelos norte-coreanos, que não permitiram que essa 
				comissão fantoche dos Estados Unidos desenvolvesse as suas 
				atividades no Norte da Coréia.
				
				
				Em resposta às maquinações norte-americanas, foi realizada, em 
				abril de 1948, em Pyongyang, uma Conferência conjunta de 
				representantes de partidos políticos e organizações sociais da 
				Coréia do Norte e do Sul – na qual compareceram 695 
				representantes de 56 partidos e organizações, representando mais 
				de 10 milhões de coreanos. A própria imprensa norte-americana 
				foi obrigada a reconhecer que “na Conferência de Pyongyang 
				todas as organizações de direita e de esquerda estiveram 
				representadas, com exceção de três organizações dirigidas por 
				Syngman Rhee, Kim Song Su, etc.”[7]
				
				
				Desrespeitando a vontade do povo coreano, dita “comissão” 
				organizou eleições fraudulentas no Sul, em 10 de maio de 1948. 
				Segundo Vivian Trias, as eleições “foram vergonhosas. Os 
				bandos terroristas assolaram a população; nas seis semanas 
				anteriores foram cometidos quase 600 assassinatos políticos. É 
				claro que ganhou a direita e a comissão internacional considerou 
				o seu triunfo como legítimo e ‘democrático’. (...) A divisão 
				ficou consagrada.”[8]
				
				
				Segundo Bruce Cuming, “praticamente todos os políticos e 
				partidos políticos de expressão, à direita de Rhee, se negaram a 
				participar nas eleições, incluindo a Kim Kyu-sik, um peculiar 
				centrista coreano, e a Kim Ku, um homem situado, provavelmente, 
				à direita de Syngman Rhee”.[9]
				
				
				Como era de esperar, Syngman Rhee obteve ampla maioria e assumiu 
				a presidência. Poucos dias depois, em 15 de agosto de 1948, sob 
				os auspícios do Gal. MacArthur, foi proclamada a República da 
				Coréia, dividindo de forma definitiva a nação. MacArthur 
				ameaçou: “Esta barreira [o paralelo 38] deve ser 
				derrubada e o será. Nada poderá impedir que o vosso povo logre a 
				unidade em liberdade.”[10]
				
				
				Com a posse de Syngman Rhee, chegou ao fim o governo militar de 
				ocupação, mas não a presença militar e a tutela dos EUA sobre o 
				governo do Sul da Coréia. Segundo Vitorino: “seguindo as 
				orientações de Washington (...) Rhee governou a Coréia do Sul em 
				estado de terror e perseguição. (...) Em 1949, o governo de Rhee 
				mantinha em cárcere 36 mil prisioneiros políticos e um saldo de 
				mortes de mais de 100 mil pessoas.”[11]
				
				O 
				próprio Presidente Truman teve de confessar a conivência dos 
				Estados Unidos com esses crimes: “Syngman Rhee (...) 
				rodeou-se de homens reacionários (...) e, quando o fim do 
				governo militar lhe deixou as mãos livres para atuar impunemente 
				contra seus inimigos políticos, adotou métodos policialescos 
				para impedir a liberdade de expressão. (...) Entretanto, não 
				tínhamos outro remédio senão apoiá-lo.”[12]
				
				
				Relatando a evolução política da Coréia do Sul, sustentada pelos 
				EUA, o insuspeito Mário Giordani nos diz:
				
				Syngman Rhee foi 
				reeleito presidente em 1952 e, novamente, em 1956, exercendo 
				poderes ditatoriais para manter-se no governo até 1960, quando 
				teve como sucessor o general Park Chung Hee, que assume o poder 
				em maio de 1961, após um golpe militar. Park foi reeleito em 
				1967 e em 1971, mas em 1979 foi assassinado pelo chefe dos 
				Serviços Secretos. Sobe ao poder Choi Kiu Há que é deposto pelos 
				militares em 1980. Segue-se a presidência do General Chum Doo 
				Hwan (1980-1988), caracterizada por repressões políticas.[13]
				
				
				Como se pode ver, não é de hoje que os Estados Unidos impõem e 
				apóiam ditaduras sem qualquer compromisso com a democracia.
				
				
				
				
				SYNGMAN RHEE – O DITADOR DO SUL – ORGANIZA A INVASÃO ARMADA DO 
				NORTE
				
				
				Em resposta às eleições fraudulentas realizadas no Sul, o Norte 
				organizou, em 25 de agosto de 1948, eleições diretas para a 
				Assembleia Popular Suprema. Devido ao regime de terror 
				implantado por Syngman Rhee, a única alternativa para a 
				indicação dos representantes do Sul na Assembleia Popular foi a 
				indicação clandestina de delegados que, reunidos em Haeju, 
				elegeram os seus deputados. Assim, em 9 de setembro de 1948 – um 
				mês após a criação da República da Coréia no Sul – foi 
				constituída no Norte a República Democrática Popular da 
				Coréia (RPDC) e Kim Il Sung foi eleito o seu Chefe de 
				Estado.
				
				
				Pouco depois, as tropas soviéticas abandonaram a Coréia em 
				respeito à autodeterminação coreana e conclamaram os Estados 
				Unidos a fazer o mesmo. Esses, porém, negaram-se a fazê-lo e só 
				se retiraram da Coréia em 30 de julho de 1949, quase um ano 
				depois. Segundo Bruce Cumings:
				
				Os estadunidenses 
				não podiam retirar suas tropas com tanta facilidade, pois 
				estavam preocupados pela viabilidade do regime no Sul, por suas 
				tendências ditatoriais e por suas intenções (declaradas a todo o 
				momento) de marchar em direção ao Norte. Mas muito mais 
				relevante que isso era a crescente importância que a Coréia 
				adquiria para a política mundial estadunidense como parte de uma 
				nova estratégia dual de contenção do comunismo e revitalização 
				da economia industrial do Japão.[14]
				
				
				Em fevereiro de 1949, falando à Assembleia Nacional, Syngman 
				Rhee disse que se não conseguia anexar a Coréia do Norte com a 
				ajuda da “Comissão da ONU sobre a Coréia” o “Exército de 
				Defesa Nacional (...) deverá necessariamente marchar sobre a 
				Coréia do Norte.”[15] 
				E, em 9 de março, seu Ministro do Interior, Yun Chi Yong, 
				afirmou “que a República da Coréia recupere pela força a 
				terra perdida que é a Coréia do Norte; é a única via para 
				reunificar o Norte e o Sul da Coréia.”[16]
				
				
				Em resposta a essas ameaças, em junho de 1949 realizou-se em 
				Pyongyang um encontro para constituir a “Frente Democrática pela 
				Reunificação da Pátria” que conclamou a reunificação da Coréia 
				pela via pacífica. A FDRP apresentou seis pontos para viabilizar 
				essa reunificação pacífica:
				
				1) A reunificação 
				da Pátria deve ser realizada pelo próprio povo coreano; 2) as 
				tropas dos EUA devem retirar-se imediatamente da Coréia do Sul; 
				3) A ‘Comissão da ONU sobre a Coréia’, organismo ilegal, deve 
				retirar-se sem tardança; 4) Efetuar simultaneamente, em setembro 
				de 1949, em todo o território da Coréia do Norte e do Sul, 
				eleições para um órgão legislativo unificado; 5) Assegurar a 
				legalidade e a liberdade em suas atividades aos partidos 
				políticos e organizações sociais democráticas; 6) O órgão 
				legislativo supremo, surgido das eleições gerais, deve adotar 
				uma constituição e formar, sobre essa base, um governo.[17]
				
				
				Em resposta, em julho de 1949, logo após a publicação do projeto 
				de reunificação pacífica da FDRP, o Ministro da Defesa da Coréia 
				do Sul, Sin Song Mo, ameaçou: “Nosso Exército de Defesa 
				Nacional (...) tem a convicção e a força para ocupar 
				completamente, não importa quando, em um dia, Pyongyang e, 
				mesmo, Wonsan ao Norte, se a ordem for dada.”[18]
				
				
				
				
				AS SUCESSIVAS PROVOCAÇÕES ARMADAS SUL-COREANAS
				
					
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									| Tropas 
									soviéticas retiram-se da Coréia em respeito 
									à autonomia coreana. | 
								 
							 
						 
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				Durante todo ano de 1949, as incursões de tropas sul-coreanas ao 
				território do Norte – que já ocorriam desde 1947 – 
				recrudesceram, deixando claro que o Sul buscava a guerra. Em 
				Kaesong, em 4 de maio, um ataque de tropas do Sul durou quatro 
				dias, causando a morte de 400 soldados norte-coreanos e 22 
				sul-coreanos, além de mais de 100 civis, segundo cifras oficiais 
				estadunidenses e sul-coreanas. Entre 21 de maio e 7 de junho, 
				efetivos da 1ª Divisão do Exército sul-coreano, com apoio aéreo, 
				atacaram os montes Kuksa, Unpha, Kachi e Pidulgi, ocupando-os 
				por algum tempo, mas logo foram expulsos. Em fins de junho, 
				atacaram o monte Unpha, tomando-o e fortificando-se ali. No dia 
				6 de julho, atacaram o monte Kosan, mas sem conseguir tomá-lo. 
				Em 25 de julho, atacaram e ocuparam o monte Song-ak, mas foram 
				expulsos.
				
				
				Em julho de 1949, o General W. L. Roberts chefe do “Grupo 
				Assessor Militar da Coréia” (GAMC) – que sucedeu o governo de 
				ocupação dos EUA na Coréia – afirmou aos comandantes 
				sul-coreanos Chae Pyong Doc e Kim Sok Won que “a presente 
				invasão do Norte servirá de bom terreno de experimentação para a 
				guerra civil iminente; o combate permitirá adquirir 
				conhecimentos vivos através de um contato direto com o inimigo.”[19]
				
				E 
				Kim Sok-Won, comandante das tropas sul-coreanas no paralelo 38, 
				afirmou à CONUC que a península vivia um estado de guerra e que 
				“devemos contar com um programa para recuperar nosso 
				território perdido, a Coréia do Norte, atravessando a fronteira 
				do paralelo 38, fixada em 1945”. E mesmo o historiador 
				norte-americano Bruce Cumings reconhece que “a guerra que 
				eclodiu em junho de 1950 produziu-se depois de uma guerra de 
				guerrilhas e nove meses de combate ao longo do paralelo 38, 
				durante 1949. (...) A razão pela qual a guerra não eclodiu em 
				1949 (...): o Sul queria uma guerra, mas o Norte não a desejava.”[20]
				
				
				Em 4 de agosto de 1949, diante da ocupação do Monte Unpha por 
				tropas sul-coreanas, o Exército Popular da Coréia contra-atacou, 
				aniquilando-as por completo. Diante desse desastre, diversos 
				comandantes militares do Sul propuseram um ataque geral contra o 
				Norte, o que acabou não ocorrendo. Em 23 de agosto, diversos 
				barcos da Marinha do Sul invadiram o Rio Taedong – na Coréia do 
				Norte – e afundaram quatro embarcações norte-coreanas de 35 a 45 
				toneladas. Em 18 de agosto, uma frota naval sul-coreana 
				bombardeou Monggumpho, na província de Hwanghae, no Norte, 
				litoral Oeste da Coréia.
				
				
				Em setembro de 1949, Egon Ranshofen- Wertheimer membro da CONUC 
				informou que “a tentação de Rhee por invadir o Norte e a 
				pressão exercida sobre ele para fazê-lo pode, assim, tornar-se 
				irresistível. As autoridades militares mais altas da República 
				(...) estão exercendo uma pressão permanente sobre Rhee para que 
				ele tome a iniciativa e cruze o paralelo.”[21]
				
				
				Em outubro de 1949, Syngman Rhee discursou a bordo de um navio 
				de guerra dos EUA, ancorado em Inchon, dizendo que o Sul podia 
				tomar Pyongyang em três dias, queixando-se de que só não fazia 
				isso porque os Estados Unidos temiam que isso precipitasse a 
				terceira guerra mundial. E o Ministro da Defesa, em entrevista 
				coletiva realizada em 31 de outubro, declarou que suas tropas 
				estavam preparadas para avançar sobre a Coréia do Norte: 
				“Se pudéssemos manejar-nos por conta própria, já (...) 
				teríamos começado (...) Temos força suficiente para avançar e 
				tomar Pyongyang em uns poucos dias.”[22]
				
				
				Em janeiro de 1950, Preston Goodfellow, assessor de Syngman 
				Rhee, informou ao Embaixador de Taiwan nos Estados Unidos, 
				Wellington Koo, que “eram os sul-coreanos que estavam 
				ansiosos por penetrar na Coréia do Norte, devido a que já se 
				sentiam prontos, com seu exército de 100.000 homens bem 
				treinados.”[23]
				
				
				Apesar de constantemente agredida, a RPDC respondia com uma 
				ampla campanha pela reunificação pacífica da Coréia, sem 
				ingerências estrangeiras. Para bloquear essa campanha – que 
				contava com crescente simpatia da população do Sul –, o 
				Congresso dos EUA aprovou em fevereiro de 1950 a “Lei de Ajuda à 
				Coréia” que estabelecia que essa ajuda terminaria “caso seja 
				formada na República da Coréia um governo de coalizão que inclua 
				um ou mais membros do Partido Comunista ou do partido que 
				atualmente controla o governo da Coréia do Norte.”[24] 
				Através dessa Lei os EUA bloquearam qualquer possibilidade de 
				reunificação pacífica da Coréia e incentivaram o confronto.
				
				
				No mês de junho, três emissários enviados pelo Norte para tratar 
				da reunificação, foram sumariamente fuzilados. Em 18 de junho, o 
				republicano John Foster Dulles – defensor de um confronto 
				preventivo com a URSS, antes que esta alcançasse a paridade 
				nuclear com os EUA – iniciou uma visita à Coréia, que teve a 
				característica de uma “revista às tropas” e de uma verificação 
				sobre seus preparativos guerreiros no paralelo 38. Nesse mesmo 
				dia o Secretário da Defesa Louis Johnson e o General Bradley 
				chegaram a Tóquio para conferenciar com o General MacArthur. 
				Segundo informaram, para inteirarem-se de fatos “que afetam a 
				segurança dos Estados Unidos e a paz do mundo”.[25]
				
				
				Destaque-se, ainda, que em 30 de maio haviam ocorrido eleições 
				para a Assembleia Nacional Coreana, nas quais Syngman Rhee 
				sofrera importante derrota, tendo a oposição eleito 128 das 210 
				vagas no parlamento. Politicamente acuados, Rhee e os 
				norte-americanos começaram ver na guerra com o Norte uma saída 
				para a sua crise política.
				
				
				A 
				ECLOSÃO DA GUERRA DA COREIA
				
				
				No dia 25 de junho de 1950, pela manhã teve início a “Guerra da 
				Coréia”, que durante três anos manteve o mundo a beira de uma 
				Terceira Guerra Mundial e causou sofrimentos indescritíveis ao 
				povo coreano. Até hoje se discute quem deu o “primeiro tiro”. O 
				fundamental, porém, é identificar quem impôs a divisão 
				artificial da Coréia, quem bloqueou e bloqueia até hoje a 
				reunificação pacífica do país e quem multiplicou entre 1947 e 
				1950 as provocações armadas.
				
				
				Em 23 de junho, às 22h, as forças sul-coreanas iniciaram um 
				ataque ao Monte Unpha – palco de agressão semelhante em fins de 
				junho de 1949 –, que prosseguiu até 4h da manhã do dia 25. E, 
				nas primeiras horas do dia 25 de junho, o 17º Regimento da 
				Coréia do Sul atacou os norte-coreanos que defendiam o Monte 
				Turak, em Onjin. Às 11h da manhã, os sul-coreanos divulgaram que 
				seu 17º Regimento havia tomado a cidade de Haeju, no Norte: “O 
				New York Times, o New York Herald-Tribune e o Washington Post 
				informaram que em 25 de junho duas companhias do 17º Regimento 
				haviam ocupado Haeju. O Delegado militar do Reino Unido em 
				Tóquio telegrafou em 27 de junho que dois batalhões do 17º 
				Regimento ocuparam Haeju”.[26]
				
				
				Referindo-se a essa tão documentada ocupação de Haeju – de que a 
				Coréia do Sul se vangloriou publicamente – o historiador 
				norte-americano Bruce Cumings afirma que “este livro não pode 
				excluir a possibilidade de que haja sido o Sul que tenha 
				iniciado os combates em Ongjin, diante da perspectiva da tomada 
				imediata de Haeju.”[27]
				
				
				Confirmando isso, John Gunther, biógrafo de Mac Arthur, relata 
				em “The Ridle of MacArthur”, p. 165, que “dois 
				importantes membros das forças de ocupação realizaram a excursão 
				a Nikko e (...) um deles ‘foi inesperadamente chamado ao 
				telefone’. Ao regressar, disse em voz baixa: ‘acaba de se 
				iniciar uma grande confusão. Os coreanos do Sul atacaram a 
				Coréia do Norte’.”[28] 
				Posteriormente, Gunther sustentaria que esta informação era 
				errônea, baseada numa versão da Coréia do Norte...
				
				
				Em resposta ao ataque sul-coreano, o Exército Popular da Coréia 
				iniciou uma grande contra-ofensiva, que em poucos dias o levou a 
				tomar Seul.
				
				
				A 
				ONU EMPRESTA SUA BANDEIRA À AGRESSÃO DOS EUA À COREIA
				
				
				Às três horas da manhã do dia 25 de junho, tão logo se iniciaram 
				os combates, os EUA telefonaram para o Secretário Geral da ONU, 
				Trygve Lie, e lhe exigiram a convocação do Conselho de Segurança 
				da ONU que – com as ausências da China Continental, excluída do 
				Conselho de Segurança, e da URSS, que poderia vetar qualquer 
				deliberação – reuniu-se na manhã do próprio dia 25. Baseado 
				unicamente em informações dos EUA e da Coréia do Sul e 
				totalmente manipulado pelos Estados Unidos, o Conselho 
				responsabilizou a Coréia do Norte pelo ataque e exigiu que essa 
				suspendesse os combates.
				
				
				Sem autorização do Congresso, o Presidente Truman determinou a 
				intervenção militar norte-americana (chamada de “ação policial”, 
				para driblar a exigência constitucional), o bloqueio naval e o 
				bombardeio da Coréia do Norte. Além disso, aproveitando o 
				pretexto, postou uma poderosa frota naval entre a China 
				Continental e Formosa, em apoio a Chiang Kai Check. No dia 27, o 
				Conselho de Segurança – ao invés de tentar mediar o conflito – 
				aprovou uma resolução dando cobertura legal ao ataque 
				norte-americano e conclamando todos os membros das Nações Unidas 
				a se somarem às forças intervencionistas. Mais do que isso, 
				entregou o comando dessas tropas “da ONU” ao General MacArthur, 
				sem estabelecer qualquer supervisão da ONU sobre suas ações.
				
				A 
				partir daí, os Estados Unidos, a Coréia do Sul e mais 15 nações 
				– Inglaterra, França, Canadá, Itália, Bélgica, Holanda 
				Austrália, Nova Zelândia, Irlanda, Dinamarca, Grécia, Turquia, 
				África do Sul, Filipinas e Colômbia – uniram-se na agressão à 
				Coréia do Norte, contribuindo com tropas, armas, mantimentos e 
				apoio logístico. O Brasil, fortemente pressionado para 
				engajar-se na Guerra da Coréia, negou-se a fazê-lo, por conta da 
				forte campanha contrária, liderada pelo Partido Comunista do 
				Brasil.
				
				
				O 
				CONTRATAQUE AVASSALADOR DA COREIA DO NORTE
				
				
				Apesar da sua inferioridade em número, em armamento e em apoio 
				aéreo e naval, as tropas norte-coreanas – demonstrando grande 
				capacidade estratégica e tática e alta combatividade – avançaram 
				rapidamente, pondo em fuga tanto as tropas sul-coreanas 
				(consideradas pelos EUA como “o melhor exército da Ásia”), 
				quanto os até agora “invencíveis” norte-americanos.
				
				
				Nesse avanço, contaram com o apoio de forças guerrilheiras do 
				Sul da Coréia. Em três dias tomaram Seul. Logo após uma pausa 
				para consolidarem o seu avanço, prosseguiram no dia 5 de julho 
				em direção ao Sul, tomando Taejon. Em fins de agosto, haviam 
				empurrado os exércitos sul-coreanos e norte-americanos até o 
				perímetro de Pusan, libertando mais de 90% do território e 92% 
				da população da Coréia. Nos territórios liberados foram 
				reconstruídos os Comitês Populares que haviam sido 
				liquidados pelos norte-americanos e foram distribuídas aos 
				camponeses pobres as terras dos latifundiários: 43,3% das terras 
				cultiváveis na zona liberada foram confiscadas e distribuídas 
				gratuitamente a 1 milhão e 267 mil famílias camponesas.
				
				
				No dia 9 de julho, derrotado em todas as frentes e cercado no 
				perímetro de Pusan,
				
				MacArthur enviou 
				uma mensagem urgente a Matthew Ridgway, em que solicitava ao 
				Estado Maior Conjunto ‘que considerasse se as bombas A 
				[Atômicas] 
				iam estar ou não à disposição do general MacArthur’ Se solicitou 
				então ao general Charles Bolte, chefe de operações, que falasse 
				com MacArthur acerca do uso de bombas atômicas ‘em apoio direto 
				aos combates terrestres’; poderiam ser disponibilizadas entre 10 
				e 20 bombas (...) não obstante, o Estado Maior Conjunto rechaçou 
				o uso da bomba.[29]
				
				
				Em sua desabalada retirada, as tropas estadunidenses e 
				sul-coreanas realizaram todo o tipo de massacres de civis 
				suspeitos de serem comunistas ou de colaborarem com os 
				norte-coreanos. Em agosto, Alan Winnington publicou no Daily 
				Worker de Londres:
				
				a polícia 
				sul-coreana, sob a supervisão dos assessores do GMAC, havia 
				massacrado 7.000 pessoas na aldeia de Yangwol, perto de Taejon, 
				entre 2 e 6 de julho. (...) chegaram caminhões da polícia na 
				região e fizeram com que fossem cavados seis poços, a duzentos 
				metros um do outro. Dois dias depois, foram conduzidos ao lugar 
				uma série de prisioneiros políticos, sendo executados (tanto 
				através de um balaço na nuca como pela decapitação) e atirados 
				nas fossas uns sobre os outros, ‘como sardinhas’. (...) As 
				fontes sul-coreanas inicialmente falaram em 4.000 mortos (logo 
				mudaram essa cifra para 7.000, alguns meses depois).[30]
				
				
				Os EUA adotaram uma política de terra arrasada e de bombardeio 
				indiscriminado das populações civis: “As forças 
				estadunidenses começaram a queimar as aldeias suspeitas de 
				abrigar guerrilheiros e, em alguns casos, simplesmente as 
				queimaram, para negar às guerrilhas um possível lugar onde 
				esconder-se.”[31]
				Segundo o correspondente britânico Reginald Thompson:
				
				o imenso poder 
				das armas modernas foi desafiado por um punhado de camponeses 
				providos de uns poucos rifles e carabinas e de uma coragem 
				desesperada (...) sofrendo sobre si e sobre o resto dos 
				habitantes o espantoso horror das bombas incendiárias (...). 
				Cada povo e aldeia no caminho da guerra eram borrados do mapa 
				(...) eliminando cegamente gente remota e desconhecida, gerando 
				holocaustos de morte, uma verdadeira produção em massa da morte, 
				espalhando uma desolação abismal sobre comunidades inteiras.[32]
				
				
				
				OS EUA REJEITAM A PROPOSTA DA URSS DE UM ACORDO DE PAZ E 
				ELEIÇÕES GERAIS
				
				
				Quando, em inícios de julho, Nehru se propôs a realizar uma 
				mediação, o Departamento de Estado dos EUA respondeu que “o 
				cessar fogo e o retorno dos coreanos do Norte ao paralelo 38 
				eram condições mínimas e irredutíveis” para a paz. 
				Mas quando, em fins de julho, a URSS somou-se a essa iniciativa 
				e propôs um acordo de paz e eleições gerais “tanto no Norte 
				como no Sul, para eleger um só governo de toda a península”, 
				os EUA se opuseram com veemência, mostrando toda sua hipocrisia.
				
				
				O 
				correspondente chefe do New York Times nas Nações Unidas 
				deixou claras as razões disso:
				
				A dificuldade 
				consiste em que há muita probabilidade de que os comunistas 
				obtenham uma grande maioria se as eleições se celebram antes que 
				se tenha derrotado e desfeito a comunização da Coréia do Norte e 
				antes que o programa de reconstrução da ONU haja amortecido o 
				ressentimento do Norte e do Sul, causado pela destruição de 
				lares feita no curso da liberação pelas forças da ONU. Nesse 
				caso, o comunismo viria a ganhar, mediante eleições, o que não 
				pode obter com a invasão.”[33]
				
				
				Ou seja, as eleições só eram bem vindas se houvesse a certeza da 
				vitória de Syngman Rhee, aliado dos Estados Unidos.
				
				E 
				quando, em 28 de setembro, Inglaterra, Austrália, Canadá, 
				Noruega e Filipinas apresentaram uma resolução prevendo eleições 
				em ambas as zonas, um dos delegados que a elaborou afirmou que
				“era possível que sob esse plano se criasse uma Coréia 
				unificada comunista, em quatro ou cinco anos. As esperanças de 
				uma vitória democrática se acredita que aumentarão se as 
				eleições forem adiadas até que um programa de ajuda das Nações 
				Unidas comece a reparar a destruição causada pela guerra e se 
				possa fazer um esforço para enfrentar a influência comunista na 
				Coréia do Norte.”[34] 
				Não pode haver uma confissão mais clara de que o regime do Norte 
				contava com amplo apoio popular tanto no Norte como no Sul.
				
				
				Aos poucos, a máquina de guerra norte-americana, apoiada por 15 
				nações, começou a pesar na balança:
				
				no dia 29 [de 
				agosto] quase 2.000 homens pertencentes à 27ª Brigada de 
				Infantaria Inglesa chegaram a Pusan, vindos de Hong Kong. Cinco 
				batalhões de blindados, com cerca de 69 tanques cada um, também 
				chegaram em agosto, e no fim do mês a ONU já tinha muito mais de 
				500 tanques no perímetro (...). Esse número dava à ONU uma 
				superioridade de quase 5:1 naquela área. Assim, com a 
				superioridade no ar já garantida, a ONU estava agora em boas 
				condições para manter suas linha e atacar quando chegasse a 
				hora.[35]
				
				
				
				O 
				DESEMBARQUE DOS EUA EM INCHON E A RETIRADA NORTE-COREANA
				
				
				Em 15 de setembro, enquanto a situação mantinha-se crítica em 
				Pusan, os Estados Unidos realizaram o desembarque de 83 mil 
				soldados estadunidenses, mais 57 mil sul-coreanos e britânicos, 
				em Inchon, na retaguarda das tropas norte-coreanas – utilizando 
				261 navios e o apoio de mais de mil aviões. Isto criou um perigo 
				mortal para as tropas norte-coreanas, que tiveram que levantar o 
				cerco a Pusan e realizar uma rápida retirada em direção às 
				regiões montanhosas do Norte, visando preservar as suas forças.
				
				
				Sua retirada foi facilitada pela renhida batalha pela retomada 
				de Seul, que manteve ocupadas as tropas norte-americanas e 
				aliadas até o final de setembro, causando-lhes enormes baixas. À 
				medida que se retiravam as tropas norte-coreanas semeavam 
				inúmeros grupos guerrilheiros no caminho, que passaram a 
				fustigar as tropas estadunidenses e foram decisivos no 
				contra-ataque posterior.
				
				
				Em Seul, a vingança dos novos senhores da capital foi terrível:
				
				Idosos, gestantes 
				e crianças cavaram valas, para nelas serem amontoados uma hora 
				depois. (...) As mulheres correspondiam a um terço dos quatro 
				mil camaradas Centenas delas, comunistas e colaboracionistas 
				foram deixadas em bordéis, para serem violentadas por coreanos e 
				soldados da ONU. Os carrascos da polícia de Syngman Rhee (...) 
				se encarregaram da matança dos que pertenciam aos comitês 
				populares por estes criados, aí se incluindo os dirigentes e os 
				familiares dos dirigentes. Um levantamento oficial realizado na 
				Coréia do Norte apontou 29 mil vítimas da vingança sulista.”[36]
				
				
				Nesse momento, colocou-se uma nova questão para os Estados 
				Unidos: o seu avanço devia deter-se no paralelo 38 ou devia 
				continuar em direção ao Norte? Apesar das advertências 
				transmitidas por Nehru, de que os chineses não tolerariam o 
				avanço das tropas norte-americanas além do paralelo 38, Truman – 
				incitado por MacArthur, que tudo fazia para transformar a Guerra 
				da Coréia em uma cruzada contra o comunismo mundial, ainda que à 
				custa de uma conflagração nuclear – decidiu fazê-lo. Isso apesar 
				do mandato da ONU não autorizá-lo a tanto. Ambos interpretaram a 
				retirada norte-coreana como a ruína total do exército 
				norte-coreano e avaliaram a ameaça chinesa como um blefe. Do 
				alto da sua prepotência, MacArthur afirmou que os comunistas 
				chineses “não dispõem de cobertura aérea; se tentarem a 
				travessia com tropas terrestres vai ser a maior das 
				carnificinas. Serão aniquilados.”[37]
				
				
				Assim, os mesmos que “indignados” haviam acusado a Coréia do 
				Norte de ter cruzado o paralelo 38 – fazendo com que o Conselho 
				de Segurança da ONU a condenasse por isso – agora afirmavam que 
				o paralelo 38 era uma “mera linha imaginária” e que o objetivo 
				da ONU era a reunificação da Coréia sob o governo de Syngman 
				Rhee. “Em outras palavras, o paralelo que cortava em duas a 
				Coréia era um limite internacionalmente reconhecido se os 
				cruzassem os coreanos, mas não o era se o cruzassem os 
				estadunidenses.”[38]
				
				
				Para a sua expedição ao Norte, MacArthur reuniu um corpo 
				expedicionário de mais de 300 mil norte-americanos armados até 
				os dentes, aos quais se somavam centenas de milhares de 
				sul-coreanos e soldados de outros 15 países aliados. Em 2 de 
				outubro, MacArthur apresentou um ultimato à Coréia do Norte: sua 
				única alternativa era a capitulação incondicional.
				
				
				A 
				INVASÃO DA COREIA DO NORTE PELOS EUA
				
					
						| 
						 
						   | 
					
					
						
						
							
								
									| 
									Desembarque das tropas dos EUA na praia em 
									Pusan. | 
								 
							 
						 
						 | 
					
					
				
				
				Em 9 de outubro, o 8º Exército dos Estados Unidos e seus aliados 
				cruzaram o paralelo 38, ingressando na Coréia do Norte. Ao 
				início, encontraram forte resistência. Logo, porém, a 
				resistência cessou, como que por milagre, e as tropas invasoras 
				penetraram profundamente no país, ocupando em 17 de outubro 
				Pyongyang, parcialmente abandonada. Já as tropas que haviam 
				desembarcado em Inchon contornaram a península, em seus mais de 
				200 barcos, e ocuparam Wonsan, a Leste, em 25 de outubro.
				
				O 
				rastro de sangue e de destruição que foi sendo deixado pelas 
				tropas norte-americanas pode ser aquilatado pela ordem expedida 
				pelo General Walker, comandante do 8º Exército, ao iniciar o seu 
				avanço: “Os soldados das forças das Nações Unidas não deixem 
				tremer suas mãos ainda quando diante deles apareçam crianças e 
				velhos. Matem-os! Fazendo isso vocês estarão salvando-se de uma 
				catástrofe e cumprindo o seu dever como soldados das forças das 
				Nações Unidas.”
				
				
				Em Pyongyang, as atrocidades contra civis, crianças, mulheres e 
				idosos ultrapassaram todos os limites, sendo que as autoridades 
				sul-coreanas informaram que já haviam detido 55.909 “malignos 
				colaboracionistas vermelhos e traidores”, logo assassinados. 
				Mas, as forças dos EUA e da ONU não eram alheias e essas 
				atrocidades. Tanto que o Guerrilla Operations Outline, 
				editado pela 8240ª Unidade Armada (United Nations Partisan 
				Force), em seu parágrafo 18, “Assassination”, 
				determinava:
				
				Os principais 
				alvos de assassinato são líderes comunistas coreanos. Líderes 
				comunistas ou do Partido dos Trabalhadores norte-coreano que não 
				cooperam com as nossas forças armadas são mortos. A morte dos 
				líderes comunistas por ordem de importância reduz a ambição dos 
				subordinados. Têm prioridade as táticas terroristas que chamem 
				atenção para o alto índice de mortalidade das lideranças 
				inimigas.”[39]
				
				
				MacArthur anunciou “triunfos espetaculares e prometeu aos 
				soldados que no Natal já estariam em casa. O Comando Supremo das 
				Potências Aliadas declarou que a guerra havia acabado. O New 
				York Times informou que o conflito estava chegando ao seu 
				final e todos falavam de uma “derrota acachapante da Coréia do 
				Norte”.
				
				A 
				realidade, porém era outra. Conforme comentou um oficial do 
				Exército Popular da Coréia:
				
				É possível pensar 
				que ter seguido todo o caminho até o perímetro de Pusan, para 
				logo retirar-se completamente até o Rio Yalu constitua uma 
				derrota total. Mas não é assim. Nós retrocedemos porque sabíamos 
				que as tropas da ONU nos seguiriam até bem ao Norte, estendendo 
				e enfraquecendo suas linhas por esta vasta região. Chegou, 
				então, o momento de que envolvamos essas tropas e as 
				aniquilemos.[40]
				
				
				Como se viu posteriormente, as tropas da ONU passariam a ser 
				atacadas tanto pela frente, quanto pela retaguarda, onde haviam 
				sido deixadas tropas com o objetivo de envolvê-las. 
				Simultaneamente “voluntários” chineses começaram a ingressar na 
				Coréia, cruzando à noite o Rio Yalu e burlando a vigilância 
				norte-americana. Logo, essas forças se uniram nas montanhas às 
				tropas norte-coreanas reagrupadas, preparando o contra-ataque.
				
				
				Embriagados pelo avanço fácil, os estadunidenses nada 
				perceberam:
				
				Em 22 de outubro, 
				os assessores do GMAC informaram que no Norte só existiam focos 
				isolados de resistência; o EPC já não era capaz de “uma defesa 
				organizada”. Em um lapso de uns poucos dias, porém, “tropas 
				coreanas frescas e com equipamento novo” golpearam duramente as 
				linhas de frente da ONU, contando com tanques e apoio aéreo; as 
				unidades do ERdC recuaram, em total confusão. Em 26 de outubro, 
				unidades combinadas chino-coreanas baixaram com estrondo desde 
				as montanha de Unsan (...) golpeando seriamente as forças 
				estadunidenses; esse mesmo dia, os ataques do EPC destruíram o 
				2º Corpo de Exército da ERdC, debilitando assim o flanco direito 
				do 8º Corpo de Exército. (...) esses ataques geraram o “completo 
				colapso e a desintegração” do 2º Corpo.[41]
				
				
				Mas, logo o inimigo sumiu e a calmaria voltou aos campos de 
				batalha.
				
				
				No início de novembro, os EUA iniciaram o bombardeio das pontes 
				sobre o Rio Yalu, na fronteira com a China, na tentativa de 
				impedir a infiltração e tropas, armamentos e mantimentos para a 
				Coréia do Norte.
				
				
				A 
				DEMOLIDORA CONTRAOFENSIVA CHINO-COREANA
				
					
						| 
						 
						   | 
					
					
						
						
							
								
									| 
									Voluntários chineses após cruzarem o Rio 
									Yalu. | 
								 
							 
						 
						 | 
					
					
				
				
				Em 16 de novembro, o comandante das forças chinesas 
				“voluntárias”, Pen Te-huai, difundiu a notícia que suas forças, 
				atemorizadas, iriam retirar-se. Presunçoso, MacArthur lançou, em 
				25 de novembro, a ofensiva “Home by Christmas” (Em casa no 
				Natal!), por ele considerada o golpe de misericórdia contra os 
				norte-coreanos.
				
				A 
				ofensiva de duas colunas – uma pelo Leste e outra pelo Oeste, 
				“para cercar e aniquilar o inimigo” – progrediu sem dificuldades 
				durante três dias, mas a partir do dia 27, as “tropas da ONU” 
				passaram a sofrer terríveis ataques que aniquilaram grandes 
				contingentes de tropas. As forças estadunidenses foram 
				perseguidas desde a represa de Changjin, o 2º Corpo do ERdaC 
				colapsou novamente e iniciou-se uma retirada geral à custa de 
				enormes perdas: “As duas alas dos exércitos das Nações Unidas 
				foram isoladas uma da outra (...) havia começado a autêntica 
				sangria e a destruição. As dizimadas forças das Nações Unidas 
				enquanto se deslocavam para o Sul (...) realizaram uma retirada 
				de ‘terra queimada’ deixando a milhões de coreanos sem lar e 
				famintos.”[42]
				
				
				Enquanto isso, por todos os lados e pela retaguarda, fortes 
				forças guerrilheiras sangravam os exércitos aliados em retirada: 
				“em 6 de dezembro, as forças comunistas tomaram Pyongyang e 
				no dia seguinte a frente aliada estava em seu ponto mais 
				setentrional, a somente 32 quilômetros ao norte do paralelo. A 
				ofensiva combinada chino-coreana limpou a Coréia do Norte de 
				forças inimigas em pouco mais de duas semanas.”[43] 
				No dia 15 de dezembro, as “tropas da ONU” cruzaram de volta o 
				paralelo 38 e continuaram em desabalada carreira para o sul.
				
				
				Em retaliação à derrota nos campos de batalha, a força aérea 
				estadunidense
				
				bombardeou 
				Pyongyang, entre 14 e 15 de dezembro, com 700 bombas de 500 
				libras, caças Mustang arrojando napalm e 175 toneladas de bombas 
				de demolição de ação retardada, que caem dando um golpe seco e 
				logo explodem em momentos estranhos, quando as pessoas tentam 
				escapar da morte sob o fogo do napalm. Ridgway ordenou o 
				bombardeio de Pyongyang ‘com o objetivo de queimar a cidade até 
				os cimentos com bombas incendiárias’.[44]
				
				A 
				cidade foi totalmente destruída. 
				
				
				Na noite do Ano Novo, as tropas chino-coreanas cruzaram o 
				Paralelo 38 e avançaram rapidamente 15 quilômetros, causando 
				pesadas perdas aos EUA e seus aliados:
				
				O VIII Exército, 
				com seu equipamento pesado, viu-se praticamente barrado pelas 
				pontes de Pukhan. Para Washington, os cem mil norte-americanos 
				cercados – um terço das forças – possivelmente transformariam o 
				horror em um ato de desespero. (...) Às três horas, ordenou a 
				retirada total e a evacuação de Seul (...) Na tarde seguinte
				[4 de 
				janeiro] duas divisões dos Voluntários do Povo e a 1ª Divisão 
				norte-coreana entraram na cidade.(...) Com isso se encerrava a 
				terceira fase da ofensiva, que forçara as tropas 
				norte-americanas da ONU a recuar 120 quilômetros na direção sul.[45]
				
				Em janeiro, os 
				chineses, buscando de forma evidente limitar a sua ação, 
				permitiram que a ofensiva decrescesse.[46]
				
				A 
				mesma tática de “terra queimada” foi aplicada contra todas as 
				cidades e centenas de aldeias. Em 18 de janeiro, ao voar sobre a 
				região de Tanyang, o General Barr constatou:
				
				a fumaça das 
				aldeias e as choças em chamas enchem os vales (...) não se pode 
				entender porque as tropas dos EEUU queimam as moradias quando o 
				inimigo não está presente (...) os incêndios sistemáticos que se 
				aplicam aos pobres camponeses quando o inimigo não está ali, vão 
				contra o abastecimento em grãos para os próprios soldados 
				estadunidenses. Dadas as casas em chamas, estimamos uma cifra de 
				8.000 refugiados e esperamos mais. Os refugiados são em sua 
				maioria os velhos, os aleijados e as crianças. 
				E George Barret, do New York Times, ao visitar uma aldeia 
				atacada, relatou: “Os habitantes ao longo da aldeia e nos 
				campos circundantes foram atingidos e assassinados pelo napalm, 
				conservando as posturas exatas que tinham quando se produziu o 
				ataque incendiário – um homem a ponto de montar sua bicicleta, 
				50 meninos e meninas jogando em um orfanato, uma dona de casa 
				surpreendentemente sem ferimentos, tendo nas mãos uma página 
				enrugada de um catálogo da Sears-Roebuck.[47]
				
				
				Apesar de seus métodos bárbaros, os norte-americanos sofreram 
				uma humilhante derrota:
				
				VIII Exército 
				desfez-se ao longo do caminho. Até mesmo as unidades que não 
				sofriam ameaça abandonaram seus equipamentos e fugiram, tentando 
				evitar um cerco. (...) Desde a derrota da França, em maio de 
				1940, não se tinha conhecimento de tamanho fracasso. A incrível 
				visão de todo um exército norte-americano abandonando armas e 
				feridos no campo de batalha, para salvar a própria pele traduzia 
				o ardente desejo de deixar o país pela via mais rápida. (...) Em 
				dez dias o VIII Exército recuou 180 quilômetros. (...) No dia 15 
				de dezembro, atravessaram o paralelo 18 em direção ao sul. Em 7 
				de janeiro, (...) o cabo James Cardinal (...) escreveu a seus 
				pais, em Nova York (...): “Está parecendo o princípio do fim. Os 
				chineses meteram o pé no traseiro do exército dos EUA, e eu 
				penso que vamos cair fora. (...) pensem no fato de que todo 
				soldado aqui está sentindo o mesmo”.[48]
				
				
				Ressaltando o papel – tantas vezes ignorado – dos norte-coreanos 
				nessa contra-ofensiva, Cumings comenta:
				
				o efeito de shock 
				que causou a intervenção chinesa foi o elemento decisivo no 
				desmantelamento do contra-ataque estadunidense na Coréia do 
				Norte. Mas a contribuição coreana a esse resultado também foi 
				importante, tanto na estratégia como no poder militar e é 
				usualmente subestimada na literatura sobre o tema. (...) 
				MacArthur (...) não só ignorou a palpável ameaça chinesa; foi, 
				ainda, amplamente superado como estrategista pelos generais do 
				EPC.[49]
				
				
				
				DERROTADOS, OS EUA AMEAÇAM COM A GUERRA NUCLEAR
				
					
						| 
						 
						   | 
					
					
						
						
							
								
									| 
									Vista geral da cidade queimada de Taejon em 
									30 de setembro de 1950, vítima da tática de 
									"terra queimada" aplicada pelas tropas dos 
									EUA. | 
								 
							 
						 
						 | 
					
					
				
				
				Em fins de 1950, o pânico tomou conta das altas esferas do 
				governo norte-americano, que passou a trabalhar com a hipótese 
				de utilizar o seu arsenal nuclear, mesmo que ao custo da eclosão 
				de uma terceira guerra mundial. Em 30 de novembro, em coletiva 
				de imprensa amplamente divulgada, o Presidente Truman, 
				traumatizado pelas perdas diárias de suas tropas – 11 mil homens 
				naquele dia e no dia seguinte –, afirmou que os EUA estavam 
				dispostos a utilizar qualquer arma do seu arsenal, em uma alusão 
				explícita ao seu arsenal nuclear. Em dezembro as perdas 
				norte-americanas se mantiveram e no dia 3 o General Bradley 
				cogitou da evacuação de suas tropas da Coréia.
				
				
				No dia 9 de dezembro, MacArthur solicitou 26 bombas atômicas 
				para serem usadas na Coréia. Na noite de Natal, Mac Arthur 
				enviou a Washington uma lista contendo 24 alvos nucleares, entre 
				os quais Xangai, então com três milhões de habitantes. Em 
				entrevista publicada posteriormente, MacArthur afirmou que tinha 
				um plano para ganhar a guerra em dez dias: “teria lançado entre 
				30 e 50 bombas atômicas (...) ao redor do pescoço da Manchúria” 
				e “espalharia detrás de nós – desde o Mar do Japão até o Mar 
				Amarelo – um cinturão de cobalto radioativo, com uma vida ativa 
				entre 60 e 120 anos.” Diga-se, de passagem, que o cobalto 60 tem 
				uma radioatividade 320 vezes maior que o rádio.
				
				
				Segundo Bruce Cumings, “a crise de dezembro levou também à 
				utilização, ou à ameaça de utilização, do que Washington 
				denominava como ‘armas de destruição massiva’: atômicas, 
				químicas e biológicas.”[50] 
				Em abril de 1951, Leavenworth escreveu na Revista Militar, 
				órgão do Comando do Exército Norte-americano que “os 
				micróbios devem ser cultivados e é necessário possuir grandes 
				quantidades dos mesmos, prontas a serem utilizadas (...) a 
				enfermidade produzida deve ser a mais difícil possível de 
				diagnosticar, deve ser difícil de determinar-se a origem (...) e 
				o gérmen não deve ser suscetível de nenhuma terapêutica química 
				especial”.
				
				
				Em setembro do mesmo ano, o U.S. News and World Report 
				informou que “novas armas serão utilizadas. (...) fala-se no 
				Congresso de que novas armas não atômicas, de forma ‘fantástica’ 
				estariam disponíveis para serem utilizadas na Coréia.” Em 
				seguida surgiram as denúncias do uso de armas químicas e 
				bacteriológicas pelos norte-americanos contra a 
				população-coreana:
				
				foram coletadas 
				centenas de provas do emprego de armas microbianas pelos 
				americanos na Coréia, e muitas delas pela Comissão Internacional 
				de Juristas Democratas (...) desde o paralelo 38 até quase o Rio 
				Yalu, os americanos lançaram micróbios de terríveis moléstias 
				como a peste, o cólera, o tifo, a encefalite, etc. (...) A 
				guerra química também foi utilizada pelos agressores ianques. 
				(...) A Comissão de Juristas examinou os resultados da autópsia 
				das vítimas.”[51]
				
				
				Em 11 de abril, MacArthur foi demitido por divergências com 
				Truman, sendo substituído pelo General Ridgway. Os primeiros 
				dias de abril de 1951 foram os dias em que os Estados Unidos 
				estiveram mais perto de utilizar armas atômicas; foram 
				paradoxalmente, os dias em que Truman destituiu MacArthur. 
				Ridgway solicitou, em maio de 1951, 38 bombas atômicas, mas o 
				seu pedido não foi acatado pelo Alto Comando, em parte por 
				pressão dos aliados europeus, que temiam uma retaliação nuclear 
				soviética na Europa.
				
				
				Truman chegou a autorizar um ataque atômico, em determinadas 
				circunstâncias:
				
				em fins de maio 
				já estavam operativas as plataformas de lançamento da bomba 
				atômica dispostas na base aérea de Cadena, em Okinawa; as bombas 
				foram levadas para lá desmontadas, sendo armadas na base – 
				faltando-lhes somente o núcleo atômico vital. Em 5 de abril, o 
				EMC 
				[Estado Maior Conjunto] ordenou uma represália nuclear 
				imediata contra as bases manchurianas se grande número de tropas 
				novas ingressassem no conflito ou, aparentemente, se fossem 
				lançados desde aí bombardeiros contra as possessões 
				estadunidenses. (...) O Presidente firmou ainda uma ordem que 
				autorizava o uso das ogivas contra objetivos chineses e 
				norte-coreanos.[52]
				
				
				
				AS NEGOCIAÇÕES PARA POR FIM À GUERRA E NOVAS AMEAÇAS NUCLEARES
				
					
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									| 
									Bomba de napalm sobre Hanchon. | 
								 
							 
						 
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				A 
				partir de fins de maio de 1951, porém, a frente estabilizou-se 
				em torno do paralelo 38, com ofensivas alternadas de ambos os 
				lados, sempre com pesadas perdas. Por um lado, os chineses e 
				norte-coreanos – cientes dos riscos de uma escalada nuclear 
				norte-americana – julgavam ter atingido seu principal objetivo: 
				infligir uma humilhante derrota aos norte-americanos, acabando 
				com sua áurea de invencibilidade, e forçá-los a retornar ao sul 
				do paralelo 38. Objetivos maiores exigiriam forças superiores às 
				que dispunham.
				
				
				Já os norte-americanos – ressabiados do enfrentamento com as 
				tropas chinesas e norte-coreanas – se deram conta que só 
				atacando frontalmente a China e a Rússia – o que levaria à 
				terceira guerra mundial – poderiam vencer a guerra na Coréia.
				
				
				
				Cresceram, então, interna e externamente, as pressões pelo 
				encerramento da guerra. Em 30 de junho de 1951, o General 
				Matthew Ridgway – “Comandante Geral das tropas da ONU” – propôs 
				a abertura de negociações para estabelecer um armistício. Após 
				718 reuniões e quase dois anos de tratativas, finalmente as 
				negociações chegaram a um entendimento, levando ao armistício.
				
				
				Diante das resistências de Syngman Rhee em aceitar o armistício, 
				“Washington ofereceu-lhe uma ajuda no valor de 200 milhões de 
				dólares e o equipamento de 20 divisões, além de apoio militar na 
				eventualidade de um ‘caso claro de agressão’. E também o retorno 
				aos velhos tempos. Rhee disse que não assinaria o armistício, 
				mas o respeitaria.”[53]
				
				
				Antes, porém, o impasse nas negociações colocou de novo o mundo 
				à beira de uma guerra atômica. Em outubro de 1952, Mark Clark, 
				sucessor de MacArthur e de Ridgway solicitou a Washington “que
				sejam feitos planos para o uso de armas atômicas” Em 2 de 
				fevereiro de 1953, Eisenhower, em seu discurso sobre a situação 
				nacional, “mencionou a possibilidade de empregar armas 
				nucleares contra a China” Em 25 de maio de 1953, os EUA 
				exigiram que a China concordasse com o armistício,
				
				caso contrário os 
				B-29 de Le May plantariam o cogumelo atômico em Xangai, Nanquim, 
				Beijing e Shenyang. (...) Na primavera de 1953, (...) uma nova 
				carga de ogivas atômicas foi levada em um navio para Okinawa; 
				desta feita, segundo os fidedignos depoimentos de Eisenhower e 
				Dulles, não como um blefe. (...) Em manifestações públicas e 
				conversas privadas, ele e Dulles haviam dito que encaravam as 
				bombas atômicas como “uma parte normal do arsenal de guerra” 
				(...) Seu governo, disse o presidente, considerava “essas armas 
				convencionais”. (...) “De uma maneira ou outra, o tabu que cerca 
				o uso de armas atômicas teria que ser destruído.”[54]
				
				
				Prevendo o eventual fracasso das negociações de armistício, 
				Eisenhower e o alto comando norte-americano aprovaram a 
				National Security Council Action Nº 794, que determinava, 
				nesse caso, o “uso extensivo, estratégico e tático de bombas 
				atômicas contra a Manchúria e toda a China. (...) O alvo do 
				ataque era a China e o objetivo a ser atacado era a totalidade 
				da sua população urbana, a razão de ser de uma arma nuclear.”[55]
				
				
				Esses quase dois anos de intermináveis tratativas – durante as 
				quais os Estados Unidos tentaram reverter sua derrota na Coréia 
				através de inúmeras ofensivas fracassadas – foram responsáveis 
				por 45% das perdas norte-americanas. Nesse período, os EUA 
				adotaram uma estratégia de terra arrasada e de destruição da 
				Coréia, “batizando a sua nova política coreana com o nome de 
				‘Operação Assassino’, carnificina sem fim e sem objetivos que, 
				como escreveu Pearl Buck, ‘nos fez perder o que sempre 
				deveríamos ter conservado: o afeto dos asiáticos’.”[56] 
				Ao contrário disso, os comandantes estadunidense jactavam-se de 
				que nem em cem anos o povo coreano levantaria de novo a cabeça:
				
				Os combates 
				aéreos (...) mataram a milhões de pessoas antes que a guerra 
				concluísse (...) destruindo desde o ar “toda fábrica, cidade ou 
				aldeia” ao longo de milhares de quilômetros quadrados de 
				território norte-coreano. (...) Para 1952, quase todo o centro e 
				norte da Coréia haviam sido arrasados. O que restava de 
				população tinha que viver em covas (...) como ato final de sua 
				bárbara guerra aérea, bombardearam grandes represas que 
				irrigavam água para 75% da produção de alimentos do Norte. (...) 
				A força aérea estava orgulhosa da destruição que havia gerado: 
				“a corrente resultante inundou 43 km de vale curso abaixo e o 
				caudal de águas inundadas varreu 
				[rotas de 
				abastecimento, etc.] (...) O cidadão ocidental 
				dificilmente consegue conceber a incrível importância que a 
				perda [do arroz] tem para a fome e a morte lenta dos 
				asiáticos.” (...) Quando a guerra finalmente concluiu, em 27 de 
				julho de 1953, o Norte havia sido devastado por três anos de 
				bombardeios que dificilmente deixaram um edifício moderno em pé. 
				Ambas as Coréias haviam presenciado um virtual holocausto que 
				arrasou seu país.[57]
				
				O 
				Chefe do Estado Maior da Aeronáutica dos EUA, Curtis LeMay 
				gabava-se: “Incendiamos cada cidade da Coréia do Norte, de 
				qualquer modo, e algumas da Coréia do Sul também. (...) Durante 
				um período de mais ou menos três anos, matamos 20% da população 
				da Coréia como baixa direta da guerra ou de fome e exposição às 
				intempéries.” No seu desvario genocida, LeMay escreveu em 3 
				de agosto de 1952 a Vandenberg, “dizendo que, em abril, sua 
				capacidade para bombardear a Rússia em seis dias havia aumentado 
				de 140 para 146 bombas atômicas. (...) ‘isso vai virar uma 
				guerra total. Isso significa que Moscou, São Petersburgo, 
				Mukden, Vladivostok, Beijing, Xangai, Port Arthur, Darien, 
				Odessa, Stalingrado (...) serão eliminadas’.”
				
				
				[58]
				
				
				Impotentes para derrotar a pequenina Coréia, os EUA vingavam-se 
				transformando a guerra em um genocídio contra o povo coreano e 
				preparando um ataque atômico não provocado à China e à URSS, o 
				que daria início à III Guerra Mundial e ao holocausto nuclear. E 
				ainda há gente que acredita que é a Coréia do Norte – e não os 
				EUA – quem ameaça a humanidade com a deflagração de uma 
				hecatombe nuclear.
				
				
				A 
				ASSINATURA DO ARMISTÍCIO DE PANMUNJON
				
					
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						   | 
					
					
						
						
							
								
									| 
									O general do Exército dos EUA Mark W. Clark 
									assina o acordo Armistício da Guerra da 
									Coreia em 27 de julho de 1953. | 
								 
							 
						 
						 | 
					
					
				
				
				Apesar dos delírios dos militaristas estadunidenses, finalmente 
				chegou-se a um acordo para a pacificação da península coreana 
				Envergonhados por sua incapacidade em vencer a República Popular 
				Democrática da Coréia, os norte-americanos queriam que a 
				assinatura do armistício – marcada para 27 de julho de 1953, na 
				localidade de Panmunjon, na Coréia do Norte – ocorresse da forma 
				mais discreta possível. Mas os norte-coreanos não aceitaram isso 
				e construíram, em tempo recorde, um amplo pavilhão especialmente 
				para a cerimônia de assinatura do armistício. Um comando armado 
				dos Estados Unidos ainda tentou derrubar esse pavilhão na 
				madrugada que antecedeu a assinatura do acordo, mas foi impedido 
				pelos soldados norte-coreanos.
				
				O 
				general norte-americano Mark Clark, que assinou o armistício, 
				diria amargurado: “Eu ganhei a nada invejável distinção de 
				ser o primeiro Comandante do Exército dos Estados Unidos a 
				assinar um acordo de armistício sem vitória”.
				
				O 
				armistício assinado estabeleceu uma linha demarcatória de em 
				torno de 250 quilômetros de extensão – que atravessa o país de 
				leste a oeste, seguindo um trajeto próximo ao paralelo 38 –, em 
				torno da qual se estende uma área desmilitarizada, de 2 km de 
				cada lado, na qual é proibida a existência de armas automáticas 
				ou de alto poder de fogo.
				
				
				As perdas dos Estados Unidos e de seus aliados, nos três anos de 
				guerra, foram de 1.567.128 soldados mortos, feridos ou 
				capturados (dos quais 405.498 norte-americanos); 12.224 aviões 
				derrubados ou capturados; 564 navios de guerra afundados ou 
				capturados (inclusive o cruzador pesado Baltimore); 3.255 
				tanques e veículos blindados destruídos ou capturados; 13.350 
				carros, 7.695 armamentos de diferentes tipos e 925.152 pequenas 
				armas destruídas ou capturadas.
				
				
				Referindo-se a isso, o General Omar Bradley, Chefe do Estado 
				Maior do Exército dos Estados Unidos, desabafou: “Falando 
				francamente, a Guerra da Coréia foi uma grande catástrofe 
				militar, foi uma guerra errada, realizada no local errado, no 
				momento errado e contra o inimigo errado.”
				
				
				A 
				ÁRDUA RECONSTRUÇÃO DA RPDC SOB A PERMANENTE AMEAÇA DOS EUA
				
				
				Após três anos de guerra – durante os quais os EUA submeteram a 
				RPDC a um bombardeio genocida por ar, terra e mar – o país havia 
				sido completamente destruído e precisava recomeçar a partir do 
				zero. A evacuação do Sul pelas tropas norte-americanas, a não 
				introdução de novas armas e a reunificação pacífica da Coréia 
				por meio de eleições gerais – previstas no armistício – jamais 
				aconteceram, mas as Nações Unidas não tomaram qualquer medida 
				para exigir que os EUA cumprissem com o acordado.
				
				O 
				armistício mostrou não significar qualquer garantia sólida de 
				paz e de não agressão atômica contra a RPDC por parte dos EUA: “Depois 
				que finalizou a Guerra da Coréia, os Estados Unidos introduziram 
				armas nucleares na Coréia do Sul, apesar do acordo de armistício 
				proibir a introdução de armamento novo enquanto ao seu tipo. 
				(...) Syngman Rhee (...) com freqüência ameaçava reabrir a 
				guerra.”[59] 
				Em agosto de 1957, Eisenhower aprovou a NSC 5702/2, autorizando 
				o estacionamento de armas nucleares no país e permitindo:
				
				apoio 
				estadunidense a uma iniciativa unilateral da RdC, em resposta a 
				uma rebelião de massas ao estilo húngaro na Coréia do Norte. 
				(...) Rhee não diminuiu a sua defesa do uso de bombas de 
				hidrogênio quando fizesse falta; sobressaltou inclusive seus 
				partidários republicanos quando defendeu o seu uso em um 
				discurso dirigido ao Congresso, em 1954. (...) Em janeiro de 
				1958, os Estados Unidos colocaram canhões nucleares de 280 mm e 
				mísseis nucleares tipo ‘Honest John’ na Coréia do Sul e um ano 
				mais tarde a força aérea ‘estacionou permanentemente um 
				esquadrão de mísseis cruzeiro tipo Matador na Coréia’. Com um 
				alcance de 1.100 quilômetros, os Matador foram dirigidos à China 
				e à URSS, assim como também à Coréia do Norte.[60]
				
				É 
				nesse quadro de grave ameaça externa que a RPDC teve que trilhar 
				o árduo caminho da sua reconstrução. Isso a obrigou a despender 
				importantes recursos – de que tanto necessitava para sua 
				reconstrução pacífica – em ações de defesa. Na 6ª Sessão 
				plenária do Comitê Central do Partido do Trabalho da Coréia, 
				realizada em 5 de agosto de 1953, logo após a assinatura do 
				armistício, o Presidente Kim Il Sung afirmou: “Na construção 
				econômica do pós-guerra devemos seguir a orientação de assegurar 
				preferentemente o restabelecimento e o desenvolvimento da 
				indústria pesada e, ao mesmo tempo, desenvolver a indústria leve 
				e a agricultura.”[61]
				
				
				No decorrer do Plano Trienal (1954-1956), consagrado 
				essencialmente à retomada da economia, a produção de meios de 
				produção aumentou a uma média anual de 59% e a de bens de 
				consumo a uma média anual de 28%, ultrapassando em 1,7 vezes e 
				2,1 vezes, respectivamente, o nível de produção de 1949, ano que 
				antecedeu a guerra.
				
				
				Já o 1º Plano Qüinqüenal (1957-1961) – cumprido em apenas quatro 
				anos –, teve por objetivo lançar as bases do socialismo. O nível 
				de destruição na agricultura, na indústria, no comércio e no 
				artesanato havia sido tal que as diferenças de classes e de 
				posses haviam sido praticamente eliminadas e estavam a exigir 
				esforços conjuntos para garantir a sobrevivência de todos. Isso 
				favoreceu uma rápida socialização dos meios de produção – tanto 
				no campo como na cidade –, o que foi realizado de maneira 
				voluntária, sem o uso da coerção, através do exemplo e da 
				comprovação das vantagens do trabalho coletivo sobre o 
				individual.
				
				
				A 
				RECONSTRUÇÃO NA AGRICULTURA
				
					
						| 
						 
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									| 
									Fazenda cooperativa Migok, em Sariwon. | 
								 
							 
						 
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				A 
				socialização da agricultura começou por uma fase experimental, 
				quando foram criadas algumas cooperativas por circunscrição, 
				englobando camponeses pobres e membros do Partido. Muito 
				rapidamente, apesar da ausência de maquinário agrícola, a 
				exploração cooperativa – que se beneficiava do auxílio do Estado 
				– mostrou a sua superioridade sobre a pequena propriedade 
				parcelar: “A nossa experiência mostrou que a cooperativização 
				agrícola é perfeitamente possível, mesmo nas condições em que 
				não existem praticamente máquinas agrícolas modernas (...) a 
				exploração cooperativa assim organizada é, apesar disso, 
				decisivamente superior à economia individual”.[62]
				
				A 
				partir daí ela generalizou-se, atingindo 80,9% em 1956, 95,6% em 
				1957 e 100% em 1958. Aos “grandes proprietários” (que na Coréia 
				não eram tão grandes) foi permitido se manterem trabalhando a 
				terra, em províncias adjacentes, onde lhes foi concedida a mesma 
				quantidade de terra que aos demais agricultores.
				
				
				As cooperativas criadas foram inicialmente de três tipos, 
				respeitando as particularidades locais e o nível de consciência 
				dos camponeses: 1) As cooperativas elementares eram formadas por 
				uma equipe de cooperação de trabalho, onde os camponeses 
				cultivavam em comum suas terras individuais, com seus próprios 
				meios de trabalho e a retribuição era segundo a terra, os meios 
				de produção e o trabalho fornecidos; 2) Nas cooperativas 
				semi-socialistas, as terras eram postas em comum e exploradas 
				coletivamente, com retribuição segundo o trabalho realizado e a 
				quantidade de terra aportada por cada um; 3) Nas cooperativas 
				plenamente socialistas, as terras e os principais meios de 
				produção eram tidos em comum e a retribuição de cada um era 
				proporcional ao trabalho realizado. Rapidamente o conjunto das 
				cooperativas evolui para o terceiro tipo. Cada família camponesa 
				teve direito a conservar uma pequena parcela para uso 
				individual, com alguns porcos, aves e pequenos animais. O 
				produto excedente dessas parcelas individuais podia ser 
				livremente vendido no mercado.
				
				
				Em 1958, uma vez concluída essa primeira etapa, foi realizado um 
				reagrupamento das cooperativas por circunscrição administrativa, 
				cada uma passando a ter uma média de 275 agregados (3.843 
				cooperativas com 1.055.000 camponeses, em 1958). Em 1960, as 
				cooperativas exploravam 84% das superfícies cultivadas, contra 
				16% das 1.609 granjas estatais, das quais 39 eram geridas 
				centralmente e 130 eram geridas por comitês populares regionais. 
				Com esse reagrupamento, a área média de terras cultivadas por 
				cada cooperativa passou de 130 para 500 hectares: “O 
				reagrupamento das cooperativas permitiu utilizar racionalmente 
				os meios de produção, desenvolver a revolução técnica, melhorar 
				a utilização da mão-de-obra e diversificar a economia 
				cooperativa. Além disso, uniu estreitamente as unidades de 
				produção com a administração e submeteu a um controle único a 
				produção, o comércio e o crédito”.[63]
				
				
				Tendo em conta que dos 12,8 milhões de hectares do Norte da 
				Coréia, somente 2 milhões eram de terras aráveis, foi feito um 
				enorme esforço para ampliar as superfícies cultivadas, seja pelo 
				ordenamento das planícies e montanhas (através de plataformas 
				nas encostas íngremes), seja pela recuperação das terras salinas 
				no litoral, o que exigiu um grande investimento em trabalho. Ao 
				mesmo tempo, nos setores montanhosos foram incrementadas as 
				culturas arbustivas – especialmente frutíferas – e o 
				reflorestamento.
				
				A 
				partir de 1958, os principais esforços para ampliar a produção 
				se voltaram para a implementação da revolução técnica:
				
				Sem transformar a 
				atrasada técnica da agricultura é impossível mostrar no plano 
				geral a superioridade da exploração cooperativa e desenvolver 
				mais as forças produtivas da agricultura. À medida que se 
				concluía a cooperativização da agricultura, o nosso Partido 
				preparou-se imediatamente, sem perda de um instante, para a 
				modernização técnica da economia rural.[64]
				
				O 
				primeiro elemento dessa revolução técnica foi a expansão da 
				irrigação. Para isso, o sistema de canais foi renovado e 
				ampliado, de forma que o conjunto dos arrozais e boa parte das 
				áreas dedicadas a outras culturas – como o milho e a 
				horticultura – passaram a contar com a irrigação mecânica: “Em 
				1967, contavam-se 39.726 km de canais de irrigação. Os trabalhos 
				realizados substituíram os antigos sistemas de irrigação locais 
				por vastos sistemas regionais. (...) A superfície de arrozais 
				irrigados passou de 387.900 djeungbos [cada djeungbo 
				equivale a aproximadamente 1 Hectare], em 1946, para 509.698, 
				em 1960, e para 700.000, em 1970.”[65]
				
				A
				eletrificação foi o segundo aspecto dessa revolução 
				técnica, sendo que em 1967 já havia alcançado a 98,2% das 
				circunscrições administrativas e a 86,1% das famílias 
				camponeses. A título de comparação, lembremos que só muito 
				recentemente – com o Programa “Luz para Todos” de Lula– a 
				energia elétrica chegou para a maioria dos trabalhadores rurais 
				brasileiros.
				
				O 
				terceiro aspecto da revolução técnica foi a mecanização 
				da agricultura. Em um primeiro momento – tendo em vista que o 
				parque fabril encontrava-se destruído – a ênfase foi para o 
				aperfeiçoamento do material de arar manual e de tração animal. 
				Será somente a partir de 1960, com a recuperação industrial, que 
				a mecanização da agricultura passou a jogar papel. Assim, o 
				número de tratores passou de 372, em 1953, para 6.313 em 1960, 
				ultrapassando os 20 mil em 1970, fazendo com que a totalidade 
				dos arrozais de planície passasse a ser trabalhada com tratores 
				e que a totalidade da debulha fosse mecanizada.
				
				
				Por fim, a quimização – isto é, o uso generalizado de 
				adubos químicos, herbicidas e inseticidas – foi o quarto 
				elemento da revolução técnica na agricultura. O uso médio de 
				adubos químicos por hectare saltou de 13 quilos, em 1949, 
				para160 quilos em 1960 e 510 quilos em 1970, eliminando na quase 
				totalidade o uso de excrementos animais com adubo.
				
				
				Em 1960, os cereais ocupavam 82,4% das áreas semeadas (sendo 
				18,1% arroz e 28,3% milho); os legumes e as forragens 13,4%; e 
				as plantas industriais 4,2%. Pode-se considerar que em meados da 
				década de 1970 a revolução técnica da agricultura havia sido 
				concluída no seu essencial e o país podia considerar cobertas as 
				suas necessidades básicas de alimentação, com destaque para o 
				arroz, o milho, a batata, leguminosas e hortigranjeiros. O 
				desenvolvimento forrageiro e, em conseqüência, da pecuária ainda 
				sofriam importantes atrasos.
				
				O 
				imposto em espécie, que em 1945 havia sido de 25%, caiu em 1959 
				para 8,4%, sendo totalmente suprimido em 1966. Houve uma 
				melhoria considerável do nível de vida dos camponeses e o Estado 
				assumiu a responsabilidade da reconstrução das habitações 
				rurais, de qualidade equivalente às moradias urbanas.
				
				
				A 
				RECONSTRUÇÃO DA INDÚSTRIA
				
					
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						   | 
					
					
						
						
							
								
									
									Fábrica de Fertilizantes de Hamhung.  
									A produção atual é de 500.000 toneladas e 
									nela trabalham cerca de 7.000 pessoas. | 
								 
							 
						 
						 | 
					
					
				
				O 
				Plano Trienal (1954-1956) e o Plano Qüinqüenal (1957-1961) 
				puseram ênfase na reconstrução e desenvolvimento da indústria 
				pesada (energia elétrica, siderurgia, indústria mecânica, 
				produtos químicos, etc.), colocando a produção de bens de 
				consumo em segundo plano. Nessa empreitada, a RPDC contou com o 
				apoio da URSS e da China, ainda que nem de longe próxima do que 
				o Sul recebeu dos Estados Unidos e do Japão. Isso fez com que a 
				indústria da RPDC crescesse a uma taxa média anual de 41,7% 
				durante o Plano Trienal e de 36,6% durante o 1º Plano 
				Quinquenal.
				
				
				Em junho de 1958, cada circunscrição foi orientada a construir 
				uma indústria de pequeno ou de médio porte, com os seus próprios 
				recursos. Até o final de 1958, foram construídas mais de 1.000 
				empresas locais, mobilizando recursos e mão-de-obra ociosos, as 
				quais já eram responsáveis, em 1960, pela metade da produção de 
				bens de consumo do país. Em 1964 elas já eram mais de 2.000. 
				Dessa forma, o Estado pode concentrar 82,6% dos seus 
				investimentos na indústria pesada, contra 17,4% na indústria 
				leve; apesar disso, a fabricação de bens de produção cresceu 3,6 
				vezes e a de bens de consumo cresceu 3,3 vezes. Além disso, as 
				indústrias locais contribuíram muito para o desenvolvimento 
				regional, aproximaram a agricultura da indústria e diminuíram 
				progressivamente as disparidades entre a cidade e o campo.
				
				
				Ao mesmo tempo em que incentivava a emulação socialista – do que 
				o movimento Chollima foi um claro exemplo – o Partido do 
				Trabalho da Coréia nunca caiu na tentação “igualitarista” e 
				sempre defendeu a retribuição de acordo com o trabalho aportado 
				por cada um:
				
				O impulso 
				político e moral do trabalho sob o socialismo deve estar ligado 
				ao estímulo material. A distribuição segundo a qualidade e a 
				quantidade do trabalho é uma lei objetiva da sociedade 
				socialista e é um potente meio contra aqueles que querem comer 
				sem trabalhar, a expensas dos outros, e para estimular 
				materialmente o ardor dos trabalhadores na produção.[66]
				
				
				No período do 1º Plano Quinquenal, o desequilíbrio entre a 
				indústria extrativa e a indústria de transformação foi superado, 
				paralelamente à grande expansão da produção de máquinas e 
				equipamentos: “a participação das construções mecânicas no 
				valor global da produção industrial passou de 17,3% em 1956 para 
				21,3% em 1960 e a taxa de auto-suficiência nacional para os 
				equipamentos mecânicos, de 46,5% a 90,6%, no mesmo período.”[67]
				
				
				Foram desenvolvidos novos ramos industriais e os que já existiam 
				foram qualificados. A indústria metalúrgica foi diversificada e 
				reequilibrada, reduzindo o excesso de fundição em relação à 
				produção de aço; esta passou de 30%, antes da Libertação, para 
				70%, em 1960. A indústria química, restrita aos adubos, 
				expandiu-se para a produção de matérias plásticas e produtos 
				sintéticos. A indústria de bens de consumo ampliou enormemente a 
				sua gama de produtos.
				
				
				Em 1960, a produção industrial alcançou um volume 7,6 vezes 
				maior que 1944. Em 1964, as indústrias mecânicas já eram 
				responsáveis por 26% do total da produção industrial e a Coréia 
				já supria quase 95% de suas necessidades em máquinas e 
				equipamentos.
				
				
				O 
				DIVERSOS PLANOS SETENAIS E SEXENAIS
				
					
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									| 
									Complexo siderúrugico de Chollima. | 
								 
							 
						 
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				O 
				1º Plano Setenal (1961-1967) projetou uma taxa anual de 
				crescimento de 18%, mas o agravamento das tensões com os EUA e a 
				suspensão da ajuda da URSS – devido ao apoio coreano à China, na 
				disputa Sino-Soviética – fizeram com que o Plano fosse 
				prorrogado por três anos, devido à necessidade da destinação de 
				maiores recursos para a defesa nacional. Por essas razões, o 
				crescimento da produção industrial limitou-se a 12,8% ao ano, 
				entre 1961 e 1970, o que ainda é uma taxa extremamente elevada. 
				Segundo Cumings, “nas duas décadas posteriores à Guerra da 
				Coréia o crescimento do Norte deixou muito para traz o Sul, 
				colocando medo no coração dos funcionários estadunidenses, os 
				quais se perguntavam se Seul decolaria em algum momento.”[68]
				
				
				Apesar de todos esses percalços, entre 1956 e 1970 o valor da 
				produção industrial aumentou 11,6 vezes – sendo 13,3 vezes para 
				os meios de produção e 9,3 vezes para os bens de consumo – e o 
				peso da indústria no total da produção saltou para 75%, tornando 
				a Coréia um país predominantemente industrial. Na geração de 
				energia ocorreram importantes mudanças, aumentando a 
				participação das centrais térmicas – alimentadas a carvão – em 
				relação à geração hidroelétrica. Assim, a produção global de 
				energia aumentou 70%, enquanto a geração térmica cresceu 11 
				vezes.
				
				
				Diante da carência de coque metalúrgico na Coréia, foram 
				desenvolvidos diferentes processos técnicos para produzir o aço 
				sem o uso do coque (aço elétrico, ferro granulado, etc.). A 
				indústria siderúrgica diversificou-se, elevando o percentual de 
				aços especiais e produtos semi-acabados (laminados, tubos de 
				aço, etc.). O país passou a ser grande produtor e exportador de 
				tungstênio, molibdênio, cromo e níquel, entre outros, e 
				desenvolveu a produção de metais não ferrosos como o cobre, 
				chumbo, zinco e alumínio.
				
				A 
				indústria mecânica deu um enorme salto, passando a produzir 
				navios, tratores, caminhões e outros veículos, locomotivas 
				elétricas e a diesel, vagões, turbinas, transformadores, 
				equipamentos elétricos e de transmissão, máquinas têxteis, 
				prensas, máquinas para mineração, motores diesel, além de bens 
				de consumo duráveis: “o maior êxito registrado no 
				estabelecimento da indústria pesada foi a criação da nossa 
				própria indústria das construções mecânicas, que constitui o 
				fundamento do desenvolvimento da economia nacional e do 
				progresso técnico.”[69]
				
				A 
				indústria química também teve uma grande expansão. Além de uma 
				refinaria, ampliou a produção de adubos nitrogenados, 
				super-fosfatos, uréia, amoníaco, plásticos, álcool, metanol, 
				ácido clorídrico, carbureto de cálcio, etc. Destaca-se, ainda, a 
				produção de borracha – tanto natural quanto sintética – e de 
				pneus A indústria da construção passou a contar com diversas 
				fábricas de cimento, vidro, madeira e pré-moldados para a 
				produção moradias.
				
				A 
				indústria leve tem o seu ponto alto na indústria têxtil, 
				incluindo a fiação, tecelagem, impressão e confecção. Ela 
				trabalha o algodão, a lã, a seda e as fibras sintéticas, onde se 
				destacam o Vinalon – criado com tecnologia puramente 
				coreana, a partir de antracita e cal – e os têxteis celulósicos. 
				Na indústria alimentar tem importância a indústria da pesca e 
				das conservas a ela associadas.
				
				
				Na área dos transportes, o esforço principal do Plano Setenal 
				foi no sentido da eletrificação do sistema ferroviário (de 12% 
				em 1960 para 55% em 1970) e a expansão da rede rodoviária a 
				todas as aldeias do país.
				
				O 
				1º Plano Sexenal, iniciado em 1971, colocou a necessidade de 
				fazer a produção ingressar em uma nova etapa:
				
				As três tarefas 
				principais apontadas à revolução técnica pelo Plano Sexenal 
				(...) são reveladoras da preocupação pelo homem que está no 
				centro da política do Partido do Trabalho da Coréia e do 
				governo: eliminar os trabalhos penosos, reduzir a diferença 
				entre o trabalho na agricultura e na indústria, libertar as 
				mulheres dos trabalhos domésticos.[70]
				
				O 
				esforço para a eliminação dos trabalhos pesados ou nocivos à 
				saúde levou a mais ampla mecanização e automatização da 
				indústria e dos transportes, exigindo o rápido desenvolvimento 
				da indústria eletrônica. Na agricultura, significou a ampliação 
				da irrigação, o amplo uso de adubos químicos, a seleção de 
				variedades cultiváveis, a eletrificação e a generalização da 
				mecanização. Fruto disso, a produção de cereais alcançou 7 
				milhões de toneladas em 1974, 8 milhões em 1976, 9 milhões em 
				1979 e 10 milhões em 1984. A libertação das mulheres das tarefas 
				doméstica ensejou o desenvolvimento da indústria de preparação 
				prévia dos alimentos e a 
				produção massiva de eletrodomésticos (refrigeradores, máquinas 
				de lavar, marmitas elétricas, etc.).
				
				
				Visando a atualização e a modernização tecnológica, a RPDC 
				adquiriu durante o Plano Sexenal plantas industriais completas 
				no campo socialista, no Japão e no Ocidente. Comparando o 
				desenvolvimento do Norte e do Sul nesse período, o historiador 
				norte-americano Bruce Cumings afirma em 2004:
				
				estudo da CIA, 
				publicado em 1978, situa a renda per capita da RPDC no mesmo 
				nível da RdC para 1976 e outro estudo estimou que as taxas de 
				crescimento per capita  do Sul e do Norte foram iguais até 1986. 
				(...) A produção total de eletricidade, carvão, fertilizante, 
				máquinas ferramenta e aço na Coréia do Norte era comparável ou 
				maior aos totais da Coréia do Sul no início dos anos 80, 
				devendo-se ter em conta que a população da RdC era o dobro da 
				RPDC. (...) um crítico do rendimento econômico norte-coreano 
				avaliou o seu crescimento industrial anual, entre 1978-1984, em 
				12,2%. (...) o nível de vida das massas na Coréia do Sul, ainda 
				que ligeiramente melhores, não sobressaem sobre os níveis médios 
				dos coreanos 
				[do Norte]. (...) 
				Engenheiros agrônomos da ONU constataram que o Norte utilizava 
				sementes milagrosas de arroz em 1980 e que havia substituído o 
				adubo humano (ainda amplamente utilizado no Sul a essa época) 
				por fertilizantes químicos. (...) A moral da população é 
				claramente melhor que na ex União Soviética e tanto as fábricas 
				como as cidades dão uma imagem de eficiência e trabalho duro. 
				(...) Nos anos 90, o consumo per capita de energia se estimava 
				quase tão alto como no Sul, ainda que os consumidores da RdC 
				utilizam muito mais energia que os do Norte, onde se aplica 
				fundamentalmente à indústria.[71]
				
				
				Fruto dessas medidas,
				
				a produção 
				industrial cresceu a uma média anual de 15,9%, de 1970 a 1979. 
				No mesmo período, o valor global da produção industrial aumentou 
				3,8 vezes: 3,9 vezes pela produção de bens de produção, 3,7 
				vezes pela dos bens de consumo. (...) A produção industrial 
				continuou a desenvolver-se rapidamente durante a execução do 
				segundo Plano Setenal. (...) O valor global da produção 
				industrial cresceu 2,2 vezes entre 1978 e 1984 – 2,2 vezes no 
				que se refere aos meios de produção e 2,1 vezes em relação aos 
				bens de consumo. Seu ritmo de crescimento anual foi de 12,2%. 
				(..) Em 1984, relativamente a 1977, a produção de eletricidade 
				aumentou 78%, o carvão 50%, o aço 85%, as máquinas-ferramenta 
				67%, os tratores 50%, os veículos automotores 20%, os adubos 
				químicos 56%, o cimento 78%, os tecidos 45% e os equipamentos 
				para a pesca 120%. (...) Durante esse período, foram construídas 
				e colocadas em funcionamento 17.785 fabricas e oficinas 
				modernas. (...) A produção de máquinas se multiplicou por 2,3. 
				Assinale-se em particular a ampliação dos centros de produção de 
				máquinas pesadas, de equipamentos sob encomenda, de equipamentos 
				de extração, de meios de transporte, de aparelhos eletrônicos e 
				de elementos de automatização. Em 1984 a renda nacional havia 
				crescido 80% em relação a 1977 
				
				
				
				[72]
				
				
				Após o 2º Plano Setenal, concluído em 1984, houve um período de 
				reajustamento, entre 1985 e 1986, com o objetivo de reequilibrar 
				o desenvolvimento econômico do país e prepará-lo para maiores 
				avanços. Durante esse período as prioridades foram a produção 
				energética, os transportes ferroviários e a indústria 
				siderúrgica.
				
				
				Em 1987, teve início o 3º Plano Setenal (1987-1993), tendo como 
				principais objetivos ampliar em 90% a produção industrial (a uma 
				média de 10% ao ano), em 40% a produção agrícola (alcançando 15 
				milhões de toneladas de cereais) e em 80% o PIB. A meta de 
				crescimento da renda de operários e empregados foi fixada em 60% 
				e dos camponeses em 70%. Foi definido um ambicioso plano 
				energético, prevendo a construção de diversas hidroelétricas e 
				centrais térmicas, além de uma central atômica. Nas regiões 
				costeiras e montanhosas foi prevista a construção e numerosas 
				centrais eólicas.
				
				
				Outras prioridades do 3º Plano Setenal foram a indústria do 
				carvão, a produção de aços especiais, metais não-ferrosos, 
				máquinas-ferramentas com comando numérico, robôs, caminhões, 
				tratores, navios, máquinas extratoras, implementos agrícolas, 
				indústria eletrônica e microeletrônica. Na indústria da 
				construção foi estabelecida a meta de construir de 150 mil a 200 
				mil moradias nas cidades e nos campos a cada ano.
				
				
				Esses resumidos dados nos mostram quão longe da realidade estão 
				aqueles que nos apresentam a República Popular Democrática da 
				Coréia como um país atrasado, estagnado e inviável.
				
				
				
				IMPORTANTES AVANÇOS SOCIAIS
				
				A 
				RPDC – após a guerra que devastou o país e liquidou boa parte da 
				sua população – teve de enfrentar simultaneamente inúmeras 
				tarefas: a reorganização da agricultura, a industrialização (com 
				prioridade para a indústria pesada), a defesa nacional e a 
				melhoria das condições de vida da população.
				
				
				Assim, no âmbito do atendimento à sua população, esforçou-se 
				para assegurar a todos o essencial: alimentação, vestuário, 
				moradia, educação e atendimento à saúde. Em conseqüência, na 
				RPDC tem enorme importância o “salário social” (não monetário), 
				usufruído através da moradia disponibilizada pelo Estado – 
				gratuitamente ou com aluguéis extremamente baixos, incluídas a 
				luz e a calefação –, da alimentação com preços subsidiados, do 
				vestuário fornecido pelas empresas a seus trabalhadores e pelas 
				escolas aos seus alunos (da pré-escola à universidade), pela 
				educação e atendimento à saúde, totalmente gratuitos.
				
				
				Ao lado de um crescente aumento dos salários e rendas da 
				população, houve uma diminuição persistente dos preços 
				industriais e dos bens de consumo. No decorrer do Plano Sexenal, 
				o ganho real dos operários e empregados cresceu 70% e os ganhos 
				dos trabalhadores rurais cresceu 80%. Em 1974, foram suprimidos 
				todos os impostos sobre a população.
				
				
				Tendo em vista a completa destruição das moradias nos campos e 
				nas cidades, devido aos bombardeios genocidas dos Estados 
				Unidos, um dos maiores desafios enfrentados foi a construção de 
				habitações para a população. Só durante o Plano Sexenal, foram 
				construídas 414 mil moradias nas cidades e 472 mil nas áreas 
				rurais, em um país que contava com apenas 15 milhões de 
				habitantes. Hoje, o problema habitacional está totalmente 
				resolvido na Coréia.
				
				
				Em 1956, foi instituído ensino primário obrigatório. Em 1958, o 
				ensino obrigatório passou a ser de 7 anos e hoje já é de 12 
				anos. Foi construído um amplo sistema de estabelecimentos de 
				ensino superior – sendo a Universidade Kim Il Sung de Pyongyang 
				a mais importante –, completado por uma rede de universidades 
				noturnas e por correspondência para os trabalhadores.
				
				
				Na década de 70 as emissões de televisão passaram a cobrir todo 
				o território da RPDC. A rede de creches, que em 1970 já atendia 
				80% das crianças, ao final do Plano Sexenal já cobria 100% das 
				necessidades. O Estado assumiu integralmente os numerosos órfãos 
				de guerra, privilegiando-os para que possam superar a 
				desvantagem social de que foram vítimas.
				
				O 
				atendimento à saúde também se tornou exemplar:
				
				funcionários da 
				Organização Mundial da Saúde e outros organismos da ONU elogiam 
				a provisão de serviços básicos de saúde; as crianças na Coréia 
				do Norte estão melhor cobertas pela vacinação que as crianças 
				estadunidenses. A informação das Nações Unidas mostra que a 
				expectativa de vida nesse pobre e pequeno país é de 70,7 anos 
				(contra 70,4 da RdC), um número só ligeiramente inferior ao dos 
				Estados Unidos. A mortalidade infantil é de 25 por mil 
				nascimentos, frente aos 21 por mil no Sul. (...) Em torno de 74% 
				dos norte-coreanos vive nas cidades, frente a 78% no Sul (...) 
				um grau de urbanização e industrialização acorde aos níveis 
				internacionais.[73]
				
				
				Durante o 2º Plano Setenal (1977-1984), a renda real dos 
				operários e empregados aumentou em 60% e a dos agricultores em 
				40%:
				
				Durante esse 
				período as vestimentas, os calçados, os artigos de uso escolar e 
				os produtos alimentares foram fornecidos gratuitamente (...) a 
				todas as crianças, alunos e estudantes. 
				(...) Em fins de 
				1984, o país contava com 216 estabelecimentos de ensino superior
				[em 1989, já eram 270] (...) assim como com 1.250.000 
				técnicos e especialistas. No âmbito da saúde pública, foram 
				construídos mais de 290 estabelecimentos de saúde – preventivos 
				e terapêuticos –e o número de médicos e de leitos aumentou, 
				respectivamente, em 40% e 6%.[74]
				
				
				
				OS ESFORÇOS DO NORTE PELA REUNIFICAÇÃO DA COREIA
				
				
				Logo após o armistício, a RPDC retomou os seus esforços para uma 
				reunificação pacífica do país, mas encontrou forte resistência 
				dos Estados Unidos e do governo ditatorial de Seul. Em novembro 
				de 1953, os EUA fizeram malograr a conferência política prevista 
				pelos acordos de armistício. Em abril de 1954, quando a questão 
				da Coréia foi discutida na Conferência de Genebra, a República 
				Popular Democrática da Coréia propôs a reunificação nacional, a 
				retirada de todas as tropas estrangeiras e a realização de 
				eleições livres em todo o país. A proposta foi rejeitada pelos 
				Estados Unidos, que se negavam a sair da Coréia do Sul, mas 
				exigiam a retirada dos voluntários chineses.
				
				
				Em outubro de 1954, o governo da RPDC propôs
				
				a convocação para 
				Pyongyang ou para Seul de uma conferência conjunta da Assembleia 
				Popular da República Popular Democrática e da Assembleia 
				Nacional de Seul, a fim de discutir intercâmbios econômicos e 
				culturais, comunicações postais e livre circulação entre as duas 
				partes da Coréia. Essas propostas, bem como as que se seguiram – 
				agosto de 1955, abril de 1956, setembro de 1957 e fevereiro de 
				1958 – esbarraram com uma recusa ou nem sequer tiveram resposta 
				por parte do regime de Syngman Rhee.[75]
				
				
				No decorrer de 1958, em um gesto de boa vontade, todos os 
				voluntários e militares chineses retiraram-se da RPDC, mas as 
				tropas norte-americanas não só permaneceram no Sul como 
				ampliaram suas bases militares e reforçaram o seu armamento, o 
				que estava proibido pelo acordo de armistício.
				
				
				A 
				DERRUBADA DE SYNGMAN RHEE E A DITADURA DO GENERAL PARK CHUNG HEE
				
				
				Em abril de 1960, em protesto contra mais uma eleição fraudada, 
				eclodiram em todo o país grandes manifestações populares. Apesar 
				do apoio norte-americano, Syngman Rhee não conseguiu resistir e 
				foi apeado do poder. Em julho de 1960, assumiu Chang Myun.
				
				
				Em agosto de 1960, o Presidente Kim Il Sung apresentou uma nova 
				proposta para a reunificação da Coréia:
				
				se as autoridades 
				da Coréia não podiam aceitar (...) eleições gerais livres em 
				toda a Coréia, poderia ser criado um sistema de confederação do 
				Norte e do Sul, como medida transitória antes da reunificação 
				completa. Seria formado um Conselho Nacional Supremo, 
				compreendendo representantes dos governos da República 
				Democrática da Coréia e da República da Coréia (...). Os 
				sistemas políticos do Norte e do Sul permaneceriam inalteráveis 
				e os dois governos prosseguiriam as suas atividades 
				independentes.[76]
				
				
				Diante do profundo eco que essa proposta alcançou entre a 
				população do Sul da Coréia, os Estados Unidos perceberam que o 
				governo de Chang Myun seria incapaz de deter o clamor pela 
				reunificação e organizaram em 16 de maio de 1961 um golpe 
				militar que colocou a frente do governo de Seul o General Park 
				Chung Hee. Este, tão logo assumiu, desatou a mais feroz 
				repressão contra o povo sul-coreano. Assim, foi momentaneamente 
				refreado o movimento a favor da reunificação. Apesar disso, o 
				governo da RPDC continuou a apresentar propostas para a 
				reunificação pacífica da Coréia, como em junho de 1962, outubro 
				de 1962, dezembro de 1963, março de 1964, maio de 1965, etc.
				
				
				O 
				INÍCIO DAS NEGOCIAÇÕES PARA A REUNIFICAÇÃO DA COREIA
				
					
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									Encontro diplomático entre as Coréias 
									visando a reunificação,1972. | 
								 
							 
						 
						 | 
					
					
				
				
				Em janeiro de 1972, em entrevista ao jornal japonês Yomiuri 
				Shimbun, Kim Il Sung afirmou:
				
				Para eliminar a 
				tensão na Coréia é necessário substituir o acordo de armistício 
				da Coréia por um acordo de paz entre o Norte e o Sul. Insistimos 
				para que o Norte e o Sul concluam um acordo de paz e que as 
				forças armadas do Norte e do Sul da Coréia sejam 
				consideravelmente reduzidas, com a condição de que as tropas de 
				agressão do imperialismo americano sejam retiradas da Coréia do 
				Sul. Por mais de uma vez declaramos que não temos a intenção de 
				‘invadir o Sul’. Se os governantes sul-coreanos não tiverem a 
				intenção de realizar a ‘reunificação através da marcha em 
				direção ao Norte’, não haverá qualquer razão para não darem o 
				seu assentimento ao estabelecimento do acordo de paz entre o 
				Norte e o Sul..[77]
				
				
				Aqui temos o claro desmentido da acusação feita pela chamada 
				“livre imprensa ocidental” de que é a RPDC que não aceita 
				estabelecer um acordo da paz...
				
				
				Em 4 de julho de 1972, após negociações prévias em Pyongyang e 
				em Seul, os representantes da Coréia do Norte e da Coréia do Sul 
				assinaram uma Declaração manifestando “o desejo comum de 
				realizar a reunificação pacífica do país o mais cedo possível” 
				e definindo os três princípios que deveriam orientar a 
				reunificação (referendando os três pontos propostos 
				anteriormente pela RPDC): 1) Reunificação independente (sem 
				ingerências estrangeiras); 2) Reunificação pacífica (sem o 
				recurso às armas); 3) Reunificação através de uma grande unidade 
				de toda a nação (transcendendo as diferenças de concepções, 
				ideais e sistemas).
				
				
				Mas o General Park Chung Hee – fortemente pressionado pelos EUA 
				– recuou dos compromissos assumidos e desatou, em julho de 1952, 
				uma forte repressão contra os manifestantes que pediam a 
				reunificação, condenando inúmeros líderes oposicionistas 
				sul-coreanos à morte ou à prisão perpétua. Em 17 de outubro de 
				1972, proclamou a lei marcial e impôs uma nova Constituição que 
				lhe permitia continuar de forma vitalícia na presidência e lhe 
				concedia todos os poderes, sem qualquer controle. Curiosamente, 
				não houve qualquer protesto por parte dos Estados Unidos e das 
				nações ditas “democráticas” do ocidente, nem lhe foi imposta 
				qualquer sanção econômica ou diplomática pela ONU...
				
				
				Com isso as negociações para a reunificação da península 
				“voltaram à estaca zero”.
				
				A 
				administração Jimmy Carter (1977-1981), que anunciou uma 
				retirada gradual forças terrestres estadunidenses da Coréia (o 
				que acabou não acontecendo), abriu espaço para um melhoramento 
				da relação entre o Norte e o Sul.
				
				
				Assim, em 1980, no 6º Congresso do Partido do Trabalho da 
				Coréia, o Presidente Kim Il Sung propôs como caminho para a 
				reunificação da Coréia a formação de um Estado Federal Unitário 
				e de um governo nacional unificado, no qual o Norte e o Sul 
				estariam representados com o mesmo peso e sob o qual ambos os 
				lados exerceriam a respectiva autonomia regional, com direitos e 
				deveres iguais. Ou seja, uma federação baseada em uma nação, um 
				estado, dois sistema e dois governos. Esse estado federal 
				assumiria um caráter independente e democrático e se chamaria 
				República Federal Democrática do Koryo, retomando o nome do 
				Primeiro estado unificado na história da Coréia. Mais uma vez – 
				apesar do enorme apoio que essa proposta recebeu tanto no Norte, 
				como no Sul –, o governo sul-coreano a rejeitou.
				
				A 
				ascensão de Reagan à presidência dos EUA – em substituição a 
				Jimmy Carter – teve como conseqüência o agravamento das tensões 
				na península:
				
				Reagan convidou o 
				ditador Chun Doo Hwan 
				[que sucedera Park 
				Chung Hee] a visitar Washington em fevereiro de 1981, como 
				seu primeiro ato de política exterior (...) se agregaram 4.000 
				estadunidenses aos 40.000 já existentes ali, se venderam a Seul 
				caças F-16 avançados e se levaram a cabo, a cada início de ano, 
				grandes exercícios militares (chamados Espírito de Equipe) que 
				envolviam a mais de 200.000 soldados estadunidenses e coreanos. 
				(...) O Secretário da Defesa, Caspar Weinberger, declarou em 
				1983 (...) que se os soviéticos atacassem o Golfo Pérsico, os 
				Estados Unidos podiam responder atacando qualquer ponto que 
				elegessem. O documento dizia que a Coréia era esse ponto.[78]
				
				O 
				resultado dessa política agressiva dos EUA foi o congelamento de 
				quaisquer tratativas. 
				
				
				O 
				COLAPSO DO LESTE EUROPEU E DA URSS E OS IMPACTOS NA RPDC
				
				
				Entre 1989 e 1991, produziu-se o colapso do Leste Europeu e a 
				União Soviética deixou de existir, fracionando-se em diversas 
				repúblicas. Na sua maioria, governos reacionários e 
				anti-comunistas passaram a dirigi-las. As anteriores relações 
				inter-estatais no interior do campo socialista e os tratados 
				comerciais em vigor foram abandonados da noite para o dia, 
				criando enormes dificuldades econômicas para os países que 
				persistiram no caminho socialista, como Cuba, Vietnam, Laos e a 
				República Popular Democrática da Coréia. A China – que havia 
				iniciado as suas reformas e a sua abertura em 1986 – foi menos 
				afetada, inclusive devido à sua pujança econômica, dimensões e 
				vasto mercado interno:
				
				O colapso do 
				bloco socialista privou Pyongyang de importantes mercados, 
				causando vários anos de queda do PIB a princípios dos anos 90. 
				Dados sul-coreanos situam essa queda na faixa de 2 a 5% e 
				analistas governamentais estadunidenses pensam que o pior havia 
				passado para a Coréia do Norte em fins de 1993. (...) Pyongyang 
				reconheceu pela primeira vez publicamente “grandes perdas na 
				nossa construção econômica” e “uma situação externa e interna 
				sumamente complexa e aguda” no 21º Pleno do Partido do Trabalho, 
				em dezembro de 1993. A maior parte da responsabilidade na crise 
				foi atribuída não ao sólido sistema socialista norte-coreano, 
				mas ao “colapso dos países socialistas e ao mercado socialista 
				mundial”, que “destroçou” a muitos sócios de Pyongyang e seus 
				acordos comerciais.[79]
				
				
				Até a década de 70, o comércio exterior da RPDC havia sido quase 
				que unicamente com o boco socialista, mas nos anos seguintes 
				havia se diversificado com o Japão, Europa Ocidental e várias 
				nações do Terceiro Mundo. Em meados dos 70, 40% do seu comércio 
				era com países não comunistas e somente 30% com a URSS. Mas, no 
				final dos anos 80, por falta de divisas fortes e outras 
				dificuldades, a RPDC voltara a ser dependente do comércio com a 
				URSS. A exigência da recém criada Federação Russa de que 
				o petróleo e outros produtos passassem a ser pagos com moedas 
				fortes foi, assim, um duro golpe para os norte-coreanos.
				
				
				Os problemas se agravaram ainda mais devido à ocorrência nesse 
				exato momento de sérias perturbações climáticas, prejudicando a 
				produção de alimentos e causando uma situação de insegurança 
				alimentar, contornada com grandes sacrifícios da população e com 
				alguma ajuda internacional. Esse período ficou conhecido como a 
				“marcha penosa”, em analogia com a dura luta travada pelo 
				Exército Revolucionário Popular da Coréia contra os 
				ocupantes japoneses, em 1934, quando enfrentou o risco de 
				aniquilamento. Os líderes norte-coreanos, agindo com habilidade, 
				procuraram fazer as alterações de rumo necessárias para 
				enfrentar as novas circunstâncias e as novas condições do cerco 
				imperialista:
				
				a crise (...) 
				resultou na apresentação de uma nova legislação sobre inversões 
				estrangeiras, relações com empresas capitalistas e novas zonas 
				de livre comércio. Numerosas leis foram sancionadas para o 
				sistema bancário, na área do trabalho e das inversões. (...) 
				Numerosas empresas de Hong Kong, Japão, França e Coréia do Sul 
				formularam compromissos de abertura de fábricas de manufaturas 
				na RPDC (...) No outono de 1990, pela primeira vez foram 
				mantidas conversações entre primeiros ministros, em Seul em 
				setembro, em Pyongyang em outubro. Em 1991, ambas as Coréias se 
				uniram às Nações Unidas, apesar da prolongada oposição dos 
				norte-coreanos a entrar nesse organismo aceitando duas bandeiras 
				coreanas. (...) em 13 de dezembro de 1991 (...) os 
				primeiros-ministros da RdC e da RPDC firmaram um acordo de 
				reconciliação, não agressão, cooperação econômica e intercâmbio 
				em muitos campos e a livre passagem entre as duas metades do 
				país para estimadas 10 milhões de famílias separadas pela 
				guerra.”[80]
				
				
				No mesmo diapasão, Kim Il Sung tornou público, em 1993, o seu 
				Programa de Dez Pontos da Grande Unidade Pan-Nacional para a 
				Reunificação da Pátria, propondo: 1) Fundar um Estado 
				unificado independente, pacífico e neutro, mediante a grande 
				unidade pan-nacional; 2) Lograr a unidade baseada no amor à 
				nação e no espírito de independência nacional; 3) Unir-se no 
				espírito de fomentar a coexistência, a co-prosperidade e 
				interesses comuns e entregar tudo à causa da reunificação da 
				Pátria; 4) Unir-se após por fim a toda luta política que fomente 
				a divisão e o enfrentamento entre os compatriotas; 5) Confiar 
				mutuamente e unir-se após eliminar por igual os temores de 
				agressão ao Norte ou ao Sul, à vitória contra o comunismo ou à 
				comunização; 6) Valorizar a democracia e ir de mãos dadas pelo 
				caminho da reunificação da Pátria, sem rechaçar um ao outro por 
				professar diferentes doutrinas e opiniões; 7) Proteger os bens 
				materiais e espirituais do indivíduo e da organização e fomentar 
				a sua utilização em favor da conquista da grande unidade 
				nacional; 8) Todos os integrantes da nação devem compreender-se 
				e confiar uns nos outros e unir-se mediante contatos, viagens e 
				diálogos; 9) Os integrantes da nação que residem no Norte e no 
				Sul do país e no ultramar devem fortalecer a solidariedade entre 
				si na busca da reunificação da Pátria; 10) Valorizar enormemente 
				os que contribuam para a obra da grande unidade nacional e da 
				reunificação da Pátria.
				
				
				Uma vez mais a proposta da RPDC – apesar de amplo apoio tanto no 
				Norte como no Sul – não obteve qualquer resposta concreta por 
				parte da Coréia do Sul, instigada pelos Estados Unidos ao 
				confronto.
				
				
				Em 2000, Kim Jong Il – que substituiu Kim Il Sung, retomou os 
				esforços norte-coreanos buscando a reunificação da Coréia e 
				realizou um encontro com o Presidente da Coréia do Sul, Kim Tae 
				Jun, em Pyongyang. Foi adotada, então, a Declaração Conjunta 
				Norte-Sul de 15 de junho, passo decisivo para desanuviar as 
				tensões entre as duas Coréias. Outra reunião foi realizada em 4 
				de Outubro de 2000, quando foi aprovada a Declaração de 4 de 
				Outubro, que deu desdobramentos concretos à Declaração de 
				15 de junho, incluindo a criação do Parque Industrial 
				conjunto de Kaesong, o estabelecimento de uma zona especial de 
				paz e cooperação no Mar do Oeste, o restabelecimento da ligação 
				férrea entre o Norte e o Sul, a participação conjunta nos jogos 
				olímpicos de Pequim, em 2008, e intercâmbios culturais e 
				familiares.
				
				
				Inconformados com a aproximação entre as duas Coréias, os EUA 
				passaram a pressionar o governo de Seul, ampliaram as manobras 
				militares conjuntas e a nuclearização da Coréia do Sul e 
				impuseram novas sanções econômicas à RPDC, elevando enormemente 
				as tensões na península e inviabilizado maiores avanços na 
				reunificação entre o Norte e o Sul da Coréia.
				
				
				
				OS EUA AMEAÇAM A RPDC COM O OBJETIVO DEDESESTABILIZÁ-LA
				
				É 
				nesse momento de graves dificuldades da RPDC que os EUA 
				decidiram apertar o cerco econômico, diplomático e militar 
				contra a RPDC, com o objetivo de levá-la ao colapso. O pretexto 
				foi o programa de energia nuclear norte-coreano, iniciado em 
				1962 através de um pequeno reator nuclear com fins 
				investigativos, de apenas 4 MW, cedido pela URSS. Este reator já 
				havia sido colocado em 1977 sob a supervisão da Agência 
				Internacional para a Energia Nuclear da ONU (AIEA). 
				Posteriormente, a Coréia construiu um reator de gás-grafite, de 
				30 MW, que iniciou suas operações em 1987, em Yongbyon, tendo a 
				AIEA sido convidada a inspecioná-lo.
				
				É 
				nesse contexto que no início da década de 90 a imprensa e as 
				agências de notícias norte-americanas começaram a martelar o 
				tema do “perigo nuclear norte coreano”:
				
				Os repórteres 
				(...) escrevem de forma rotineira que a Coréia do Norte tem 
				recusado as inspeções; entretanto (...), a Coréia do Norte havia 
				permitido seis inspeções formais da AIEA no sítio de Yongbyon, 
				entre maio de 1992 e fevereiro de 1993. (...) Nessa época já era 
				uma rotina entre os analistas estadunidenses influentes 
				sustentar que Kim Il Sung era malvado ou louco, ou ambas as 
				coisas, que o seu regime devia ser derrubado e, se fosse 
				necessário, que seus recursos nucleares deveriam ser eliminados 
				pela força.[81]
				
				
				As ameaças mais graves iniciaram em 26 de janeiro de 1993,
				
				quando o 
				presidente Bill Clinton, recém empossado, anunciou que as 
				manobras militares “Espírito de Equipe” seriam retomadas (...). 
				Em fins de fevereiro, o General Lee Butler, encarregado do novo 
				“Comando Estratégico” dos Estados Unidos anunciou que estava 
				mudando o alvo das armas nucleares estratégicas (isto é, as 
				bombas de hidrogênio), pensadas para a antiga URSS, para a 
				Coréia do Norte.[82]
				
				
				Em março de 1993, dezenas de milhares de soldados estadunidenses 
				chegaram para exercícios militares na Coréia e com eles vieram 
				bombardeiros B-1B e B-52 da base de Guam, além de vários navios 
				de guerra com mísseis de cruzeiro. Diante de tais ameaças dos 
				EUA, a RPDC anunciou que poderia abandonar o Tratado de
				Não Proliferação de Armas Nucleares (TNPN), visto 
				que este prevê que os países sem armas nucleares não podem ser 
				ameaçados por aqueles que as têm (algo que os EUA nunca 
				respeitaram).
				
				
				Uma vez terminadas as manobras militares, a RPDC aceitou reabrir 
				negociações e não levou adiante a sua ameaça de abandonar o 
				TNPN. Porém, a AIEA, instigada pelos Estados Unidos, insistiu em 
				“inspeções especiais” – que nunca havia solicitado em nenhuma 
				parte –, inclusive em áreas sem instalações nucleares, o que, 
				evidentemente, não foi aceito pelos norte-coreanos. Depois de 
				muitas tensões, em julho de 1993, os norte-coreanos propuseram 
				que o seu programa nuclear – baseado em reatores de grafite e 
				urânio natural – fosse substituído por reatores de água leve, 
				proporcionados pelos Estados Unidos, menos propensos a serem 
				utilizados com fins militares. Essa proposta causou surpresa, 
				pois tornaria a RPDC dependente do abastecimento externo de 
				combustível.
				
				
				Depois de muitas marchas e contramarchas, em outubro de 1994 foi 
				acordado que
				
				em troca do 
				congelamento de seus reatores de grafite e da permissão de 
				inspeções completas sob o TNPN, um consórcio de nações (...) 
				proporcionaria os reatores de água leve (...). Enquanto isso, os 
				Estados Unidos forneceria o petróleo para solucionar os 
				problemas energéticos da RPDC e começaria a incrementar 
				gradualmente relações diplomáticas.[83]
				
				
				Os Estados Unidos, porém, não só não honraram os compromissos 
				assumidos – alegando falta de aprovação pelo Congresso e outras 
				desculpas – como autorizaram a Coreia do Sul a estender o 
				alcance de seus mísseis balísticos a todo o território da RPDC e
				
				desenvolveram um 
				plano que denominaram ‘dissuasão sob medida’ (...) o qual apela 
				a operações militares conjuntas sul-coreanas-estadunidenses 
				contra a Coreia Popular (...) incluindo incidentes menores (...) 
				tanto em tempo de paz como de guerra. (...) O Plano apela a um 
				ataque antecipado (preemptive), baseado na percepção de 
				um lançamento iminente de mísseis norte-coreanos. O 
				vice-comandante do Comando Coreia das Nações Unidas, general 
				Jean-Marc Jouas, explicou que mísseis norte-coreanos podiam ser 
				rapidamente alvejados ‘antes de estarem em posição de serem 
				empregados’. Para dizer isso em termos simples, poderia ser 
				lançado um ataque a sítios de mísseis com base em suposições, 
				mesmo quando os mísseis norte-coreanos não estivessem em uma 
				posição de fogo.[84]
				
				A 
				resposta da RPDC – após anos de paciente espera e covardes 
				ameaças – foi denunciar o referido acordo e a retomar o seu 
				programa nuclear, retirando-se do TNPN e anunciando que diante 
				das reiteradas ameaças nucleares dos EUA, passaria a produzir 
				suas próprias armas nucleares, como meio de dissuasão a qualquer 
				agressão norte-americana.
				
				O 
				que pouco depois foi concretizado, através da realização de dois 
				testes nucleares. Da mesma forma – comprovando o seu elevado 
				desenvolvimento científico e tecnológico – a RPDC colocou em 
				órbita, em abril de 2012, um satélite de observação da terra e 
				lançou à continuação diversos satélites no espaço.
				
				
				Em retaliação, os EUA e seus aliados na ONU – violando 
				abertamente o tratado internacional do espaço exterior que 
				garante o direito de explorar o espaço a “todos os Estados, 
				sem discriminação de qualquer espécie” – fizeram aprovar no 
				Conselho de Segurança da ONU, em 22 de janeiro de 2013, a 
				resolução 2087, com duras sanções à RPDC.
				
				
				Na ocasião, o representante da RPDC na ONU, So Se Pyon denunciou 
				a hipocrisia e discriminação da referida resolução: “Houve 
				não menos de 2.000 testes nucleares e pelo menos 9.000 
				lançamentos de satélites no mundo desde que a ONU existe, mas 
				nunca houve uma única resolução do seu Conselho de Segurança que 
				proibisse testes nucleares e lançamento de satélites”[85] 
				Sem acovardar-se diante das ameaças estadunidenses e de seus 
				cúmplices na ONU, a Coreia Popular efetuou
				
				o seu terceiros 
				teste nuclear em 12 de fevereiro de 2013. Vários dias depois, 
				numa aparente referência ao Iraque e à Líbia, as mídias 
				norte-coreanas recordaram os destinos que haviam acontecido 
				àqueles que haviam abandonado suas armas nucleares em resposta à 
				pressão estadunidense. Estes exemplos, acrescentaram, “ensinam a 
				verdade de que a chantagem nuclear dos EUA deve ser contida com 
				contra-medidas substanciais, não com compromissos ou retirada.”[86]
				
				
				Em resposta, os Estados Unidos – além de um endurecimento sem 
				precedentes das sanções econômicas, financeiras e diplomáticas – 
				ampliaram em muito a sua ofensiva belicista contra a RPDC, com 
				total cobertura da ONU, sempre calada diante das reiteradas 
				transgressões norte-americanas do TNPN e das normas do Direito 
				Internacional. E, em 7 de março de 2013, aprovaram no Conselho 
				de Segurança a resolução 2094, que ampliou as sanções e impôs 
				inclusive a inspeção dos navios e aviões norte-coreanos que 
				fossem suspeitos de transportar bens proibidos, em um atentado à 
				soberania da RPDC e à Carta das Nações Unidas.
				
				
				Em um alentado artigo, o Professor 
				
				Gregory Elich denunciou essa prepotência e arrogância 
				estadunidense e elencou um conjunto de provocações e ameaças 
				contra a RPDC:
				
				Num aumento do 
				arsenal sul-coreano, os EUA aprovaram a venda de 200 bombas 
				destruidoras de bunkers, adequadas para alveja 
				instalações subterrâneas norte-coreanas. (...) A Coreia do Sul 
				também planeja comprar da Europa 200 mísseis de cruzeiro 
				Taurus, lançados do ar, 
				os quais são capazes de penetrar até seis metros de concreto 
				reforçado. (...) Os EUA constituíram uma organização militar 
				responsável pela entrada na Coreia Popular e captura de 
				instalações e armas nucleares no caso de uma crise na RPDC. 
				Naquele cenário, as forças dos EUA também prenderiam “figuras 
				chaves” (...) Não foi revelado quais indivíduos norte-coreanos 
				seriam sujeitos à prisão pelas forças dos EUA. (...) A 
				administração Obama nunca quis negociar com a Coreia Popular e, 
				claramente, pretende efetuar mudança de regime quando acumula 
				sanções sobre sanções e desenvolve planos militares que ameaçam 
				a existência da RPDC. Com efeito, ações dos EUA encorajaram a 
				Coreia Popular a desenvolver um programa de armas nucleares como 
				seu único meio de dissuasão realista contra ataques (...).[87]
				
				
				Sem intimidar-se – apesar das ameaças e sanções – a RPDC 
				desenvolveu com êxito diferentes tipos de mísseis de médio e 
				longo alcance e detonou a sua Bomba de Hidrogênio, aumentando 
				enormemente o seu poder de dissuasão e tornando-se uma potência 
				nuclear de primeira linha.
				
				
				Só então – depois de inúmeras ameaças infrutíferas, que se 
				chocaram com a firmeza e a altivez dos norte-coreanos –, os EUA 
				– já sob o governo de Donald Trump – baixaram o tom e propuseram 
				um diálogo com a RPDC, como é de conhecimento público...
				
				
				Desde então, Trump já viajou três vezes ao Sudeste Asiático, 
				para encontrar-se com Kim Jong Un – a quem não cansa de elogiar 
				como “um grande líder de seu povo”. O último encontro, 
				inclusive, ocorreu em território norte-coreano, em Panmunjon, 
				onde exatamente os Estados Unidos se viram forçados a assinar, 
				por primeira vez, um armistício sem vitória...
				
				
				Ao mesmo tempo em que a RPDC reafirma a sua disposição em 
				discutir a desnuclearização de toda a península coreana 
				(incluindo o Sul), nega-se a qualquer desarmamento unilateral e 
				exige contrapartidas concretas, como o levantamento das sanções, 
				um tratado de paz e garantias contra agressões militares. O que 
				até agora os EUA se negam a aceitar.
				
				
				Em recente artigo, de 12 de julho de 2019, intitulado “Quão 
				real é a nova flexibilidade da administração Trump com a Coréia 
				do Norte”, Gregory Elich observa:
				
				Se a Coreia do 
				Norte desnucleariza-se ou não, depende inteiramente dos EUA. Se 
				a administração Trump acredita que pode intimidar a Coreia do 
				Norte forçando um desarmamento unilateral está, então, 
				infelizmente, errada. Se, por outro lado, vier a reconhecer que 
				a única maneira de alcançar o seu objetivo é oferecer alguma 
				medida de reciprocidade, a desnuclearização se torna uma meta 
				alcançável. Neste ponto, há pouca indicação de que os EUA 
				estejam preparados para ir além da posição anterior. (...) É uma 
				noção curiosa essa expectativa de que nada precisa ser oferecido 
				à Coreia do Norte em troca de atender às exigências dos EUA. 
				Mais estranha ainda é a convicção de que a Coreia devia estar 
				satisfeita em ser atormentada por sanções incapacitantes para 
				cada concessão que faz. Mas o imperialismo e a arrogância andam 
				de mãos dadas. Não há razão, no entanto, para esperar que os 
				norte-coreanos sejam servis. “A Coreia do Norte quer ações, não 
				palavras”, observa Christopher Green, do International Crisis 
				Group. “Eu não tenho certeza se os EUA estão mentalmente prontos 
				para isso, mesmo agora.”[88]
				
				
				A 
				PAZ E A REUNIFICAÇÃO NÃO ACONTECEM DEVIDO AOS EUA
				
				
				Evidentemente, não temos a pretensão – neste breve estudo sobre 
				a história da Coréia – de abarcar todos os aspectos e esclarecer 
				todas as controvérsias acerca da atribulada trajetória do povo 
				coreano. A nossa intenção é unicamente levantar o véu de 
				desinformação e de falsidades que as agências de notícias e de 
				propaganda norte-americanas e ocidentais disseminam em todo o 
				mundo, buscando apresentar a Coréia como membro proeminente do 
				“eixo do mal” e pintar os Estados Unidos como o mais “pacífico” 
				e “benemérito” Estado que a humanidade já conheceu.
				
				
				Os fatos aqui relatados, depois de minuciosa pesquisa – baseada, 
				na sua maioria, em autores ocidentais sem qualquer simpatia com 
				a República Popular Democrática da Coréia – demonstram de 
				forma cabal as atrocidades cometidas pelos norte-americanos na 
				Guerra da Coréia, dizimando 20% da sua população e arrasando sem 
				necessidade o país. Da mesma forma, mostram a total 
				irresponsabilidade e prepotência com que os seus “estadistas” 
				manejavam sua momentânea superioridade em armas nucleares nos 
				anos 50, ameaçando por diversas vezes a humanidade com uma 
				hecatombe nuclear.
				
				
				Pode-se dizer que a Terceira Guerra Mundial só não ocorreu nesse 
				momento devido à pressão de seus aliados europeus – que temiam 
				serem os primeiros a sofrer uma eventual retaliação soviética – 
				e pela extrema cautela da URSS e da China. Esta, depois de ter 
				aplicado – junto com os norte-coreanos – uma tremenda surra nas 
				tropas estadunidenses, retornou ao paralelo 38, evitando 
				aniquilá-las, para não justificar uma vindita nuclear.
				
				
				Encerrada a guerra com o armistício, todos os esforços para 
				estabelecer uma paz definitiva e para realizar a reunificação 
				pacífica da Coréia foram barrados pelos Estados Unidos, que não 
				escondem o seu objetivo de manter na Coréia do Sul uma poderosa 
				base militar e nuclear, de onde possam ameaçar a China, a 
				ex-URSS e a própria Coréia do Norte.
				
				
				Frustrados por não terem conseguido forçar a República Popular 
				Democrática da Coréia ao colapso nos anos que se seguiram ao 
				desmantelamento do Leste Europeu da URSS, os Estados Unidos 
				continuam tentando por todos os meios estrangulá-la, sem 
				qualquer respeito para com a autodeterminação dos povos e o 
				Direito Internacional. Para isso, os EUA utilizam a sua 
				hegemonia na ONU, aplicando todo o tipo de sanções econômicas, 
				financeiras e diplomáticas contra o heróico povo norte-coreano e 
				usam todo o seu poderio tecnológico e militar para ameaçá-lo.
				
				
				Como afirmou o vice-Diretor do Departamento Internacional do 
				Partido do Trabalho da Coréia, Pak Gun Kwang na conversa que 
				tivemos em 2014, quando de nossa viagem à RPDC:
				
				Os Estados Unidos 
				mantém 30 mil soldados e mais de 1.000 artefatos nucleares na 
				Coréia do Sul. Ameaçam permanentemente a RPDC com seus B52 e 
				suas bases nucleares no Hawai e em Guam. Por isso a RPDC viu-se 
				obrigada a desenvolver suas armas nucleares. Os EUA não 
				conseguem liquidar com a RPDC devido ao seu poderio nuclear. 
				Essa é a única garantia da paz.
				
				 
				
					NOTAS
					
						
						
						
						
						[1]
						
						
						CUMINGS, Bruce. El Lugar de Corea en El sol – Una 
						historia moderna. Córdoba: Comunic-arte Editorial, 
						2004, pp. 244-245.
 
					
						
						
						
						
						[2]
						
						
						GARCIA ALVAREZ, Raul I. e PARDILLO GOMEZ, Mayra. 
						Corea Sí. Pyongyang, 1992, p. 115.
 
					
						
						
						
						
						[3]
						
						
						CUMINGS, idem, p. 219.
 
					
						
						
						
						
						[4] 
						FRIEDRICH, Jörg. 
						
						Yalu – à beira da terceira guerra mundial. 
						
						Rio de Janeiro, 2011, p. 188.
 
					
						
						
						
						
						[5] 
						CUMINGS, idem, p. 251.
 
					
						
						
						
						
						[6] 
						CUMINGS, idem, pp. 478-479.
 
					
						
						
						
						
						[7] 
						JO AM e NA CHOL GANG. 
						
						Corea en El Siglo XX. 
						
						Pyongyang, 2002, p. 98.
 
					
						
						
						
						
						[8]
						
						
						TRIAS, Vivian. Historia del imperialismo 
						norte-americano-2. La hegemonia:1919-1963. Buenos 
						Aires, 1977, p. 224.
 
					
						
						
						
						
						[9]
						
						
						CUMINGS, idem, p. 233.
 
					
						
						
						
						
						[10]
						
						
						HOROWITZ, D. Estados Unidos Frente a la Revolución 
						Mundial (de Yalta al Vietnam). 
						
						Barcelona, 1968, p. 147.
 
					
						
						
						
						
						[11] 
						VITORINO, William. Guerra na Coréia – A origem de um 
						conflito. São Paulo, 2010, p. 59.
 
					
						
						
						
						
						[12] 
						ZENTNER, Christian. Grandes Guerras de nuestro tiempo 
						– Las Guerras de La Postguerra (I). Barcelona, 1980, 
						p. 70.
 
					
						
						
						
						
						[13] 
						GIORDANO, Mário Curtis. História do Século XX. 
						Aparecida/SP, 2012, p. 572.
 
					
						
						
						
						
						[14] 
						CUMINGS, idem, p. 231.
 
					
						
						
						
						
						[15]
						HO 
						JONG HO, KANG SOK HUI E PAK THAE HO. 
						
						L’impérialisme US, provocateur de la guerre de Corée.
						
						
						Pyongyang, 1993, p.85.
 
					
					
					
					
						
						
						
						
						[19]
						Compilação de provas documentais da provocação pelos 
						imperialistas americanos da Guerra Civil da Coréia.
						
						
						Pyongyang, p.115.
 
					
						
						
						
						
						[20] 
						CUMINGS, idem, p. 276.
 
					
						
						
						
						
						[21]
						New York Herald Tribune, 
						30.10.49. In: CUMINGS, idem, p. 286.
 
					
					
						
						
						
						
						[23] 
						CUMINGS, idem, p. 284.
 
					
						
						
						
						
						[24]
						New York Times, 
						20.06.50.
 
					
						
						
						
						
						[25]
						Daily Mail, Londres, 19.06.50, edição parisiense.
 
					
						
						
						
						
						[26] 
						FO317, fragmento nº 84057, Gascoigne a FO, 27 de junho 
						de 1950.
 
					
						
						
						
						
						[27]
						
						
						CUMINGS, idem, p. 293.
 
					
						
						
						
						
						[28]
						
						
						STONE, Irving F. La historia oculta de La Guerra de 
						Corea. 
						
						Cuba, 1952, p. 62.
 
					
						
						
						
						
						[29] 
						CUMINGS, idem, p. 304.
 
					
					
					
						
						
						
						
						[32] 
						Idem, pp. 300; 303-304.
 
					
						
						
						
						
						[33] 
						New York Times, 24.08.50.
 
					
						
						
						
						
						[34] 
						New York Times, 29.09.50.
 
					
						
						
						
						
						[35] 
						HEIFERMAN, R., SHERMER,D. e MAYER, S.L. Guerras do 
						Século 20. Rio de Janeiro, 1975, p. 463.
 
					
						
						
						
						
						[36] 
						FRIEDRICH, idem, p. 243.
 
					
						
						
						
						
						[37] 
						FRIEDRICH, idem, p. 259.
 
					
						
						
						
						
						[38] 
						CUMINGS, idem, p. 309.
 
					
						
						
						
						
						[39] 
						FRIEDRICH, idem, p. 263.
 
					
						
						
						
						
						[40] 
						CUMINGS, idem, p. 311.
 
					
					
						
						
						
						
						[42] 
						HOROWITZ, idem, p. 149.
 
					
						
						
						
						
						[43] 
						CUMINGS, idem, p. 318.
 
					
					
						
						
						
						
						[45] 
						FRIEDRICH, idem, p. 334.
 
					
						
						
						
						
						[46] 
						HOROWITZ, idem, p. 149.
 
					
						
						
						
						
						[47] 
						CUMINGS, idem, pp. 325-326.
 
					
						
						
						
						
						[48] 
						FRIEDRICH, idem, pp. 287-290.
 
					
						
						
						
						
						[49] 
						CUMINGS, idem, p. 319.
 
					
					
						
						
						
						
						[51] 
						BRITTO, Letelba R. de. Um brasileiro na Coréia, 
						Rio de Janeiro, 1952, p. 16; p. 20; pp. 102-105.
 
					
						
						
						
						
						[52] 
						CUMINGS, idem, pp. 322-323.
 
					
						
						
						
						
						[53] 
						FRIEDRICH, idem, p. 423.
 
					
						
						
						
						
						[54] 
						Idem, pp. 413-414; p. 421; p. 436.
 
					
					
						
						
						
						
						[56] 
						HOROWITZ, idem, p. 151.
 
					
						
						
						
						
						[57] 
						CUMINGS, idem, pp. 324-329.
 
					
						
						
						
						
						[58] 
						FRIEDRICH, idem, p. 467.
 
					
					
					
						
						
						
						
						[61]
						
						
						KIM IL SUNG. Informe al 6º Pleno del Comité Central 
						del Partido del Trabajo de Corea, 05.08.53. In: KIM 
						IL SUNG. La Construcción del Socialismo. Buenos 
						Aires, 1973, p. 60.
 
					
						
						
						
						
						[62] 
						KIM IL SUNG. Sur l’édification socialiste. 
						
						
						In: SURET-CANALE, J e VIDAL, J.E. A República Popular 
						Democrática da Coréia. Lisboa, 1977, p. 43.
 
					
						
						
						
						
						[63] 
						HONG SEUNG EUN. Le Developpement Economique de la 
						Republique Populaire Démocratique de Corée. 
						
						Pyongyang, 1990, pp. 38-39.
 
					
						
						
						
						
						[64]
						
						
						KIM IL SUNG. Rapport d’activité Du Comité Central.
						
						
						In: SURET-CANALE, J. e VIDAL, J.E., idem, p. 43.
 
					
						
						
						
						
						[65] 
						SURET-CANALE, J. e VIDAL, J.E., idem, p.50.
 
					
						
						
						
						
						[66]
						
						
						KIM IL SUNG. Rapport d’activité du Comité Central.
						In:SURET-CANALE, J. e VIDAL, J.E., Idem, p. 45.
 
					
						
						
						
						
						[67] 
						HONG SEUNG EUN, idem, p. 27.
 
					
						
						
						
						
						[68]
						
						
						CUMINGS, idem, p. 481.
 
					
						
						
						
						
						[69] 
						KIM IL SUNG. Rapport d’activité..., idem, p. 
						87-88.
 
					
						
						
						
						
						[70] 
						SURET-CANALE, J. e VIDAL, J.E., idem, p.10.
 
					
						
						
						
						
						[71] 
						CUMINGS, idem, pp.481-483.
 
					
						
						
						
						
						[72] 
						HONG SEUNG EUN, idem, pp. 49-50; pp. 56-59.
 
					
						
						
						
						
						[73] 
						CUMINGS, idem, p.482.
 
					
						
						
						
						
						[74] 
						HONG SEUNG EUN, idem, p. 60.
 
					
						
						
						
						
						[75] 
						SURET-CANALE, J. e VIDAL, J.E., idem, p. 118.
 
					
					
						
						
						
						
						[77] 
						SURET-CANALE, J. e VIDAL, J.E., idem, p. 128-129.
 
					
						
						
						
						
						[78] 
						CUMMINGS, idem, pp. 528-529.
 
					
						
						
						
						
						[79] 
						CUMMINGS, idem, p. 484.
 
					
						
						
						
						
						[80] 
						Idem, p. 484; p. 531.
 
					
						
						
						
						
						[81] 
						Idem, pp. 540, 542-543.
 
					
						
						
						
						
						[82] 
						CUMMINGS, idem, p. 543.
 
					
					
						
						
						
						
						[84] 
						ELICH, Gregory. Como Obama fomenta uma crise na 
						Península Coreana. CounterPunch, 21.04.13.
 
					
					
					
					
						
						
						
						
						[88] 
						ELICH, Gregory. Quão real é a 
						nova flexibilidade da administração Trump com a Coreia 
						do Norte?CounterPunch, 12.07.19.