O surgimento do PC do Brasil não foi algo 
				artificial, fruto da “vontade” de alguns indivíduos ou “uma 
				idéia trazida de fora”, mas refletiu uma necessidade objetiva 
				decorrente da evolução social do país e do amadurecimento da 
				própria classe operária brasileira – correspondeu à sua 
				transformação de “classe em si” em “classe para si”.
				
				Decorreu, em primeiro lugar, da falência do 
				anarcosindicalismo, que dirigiu as grandes lutas do proletariado 
				brasileiro na segunda década do século XX – como as greves 
				gerais de 1917 e 1919 e a insurreição anarquista de 1918 – 
				levando-as a um beco sem saída. Nesse sentido, o PC do Brasil é 
				herdeiro direto dessas grandes mobilizações operárias.
				
				Em segundo lugar, o surgimento do PC do 
				Brasil foi o resultado natural do amadurecimento político das 
				lideranças mais avançadas do movimento operário brasileiro de 
				então que – ao tomarem conhecimento da Revolução Russa, das 
				conquistas do poder soviético e da teoria marxista – perceberam 
				a impotência do anarquismo com o seu espontaneísmo, sua fluidez 
				orgânica e seu apoliticismo. A Revolução Russa de outubro de 
				1917 colocou para eles, de forma clara, a questão da conquista 
				do poder pela classe operária, a necessidade de um partido 
				altamente organizado para dirigir essa luta e de uma teoria e um 
				programa revolucionários. É nesse sentido que se pode falar da 
				enorme influência da Revolução Russa na formação do PC do 
				Brasil, atuando como “catalisadora” desse processo de 
				amadurecimento interno.
				
				Em terceiro lugar, o surgimento do PC do 
				Brasil decorreu do próprio crescimento e concentração da classe 
				operária brasileira que – em conseqüência da industrialização 
				acelerada do país durante a 1ª Guerra Mundial – já chegava, em 
				1920, a 300 mil trabalhadores, tendo seus maiores contingentes 
				em São Paulo (28,3%), Rio de Janeiro (24,6%), Rio Grande do Sul 
				(8,3%) e Minas Gerais (6,3%). Caracterizando sua entrada na fase 
				fabril e um grau razoável de concentração, 65,2% dos operários 
				brasileiros trabalhavam em empresas com mais de 50 operários e 
				as 482 fábricas com mais de 100 trabalhadores englobavam 55,1% 
				da classe operária – uma média de 331 operários por 
				estabelecimento. Os trabalhadores das indústrias têxteis (40,7%) 
				e alimentícias (18,8%) totalizavam 59,5% dos operários;
				
				Como causa mais remota do surgimento do PC do 
				Brasil, podemos considerar o acúmulo histórico das lutas do povo 
				brasileiro, desde a época colonial – como a resistência dos 
				quilombolas, a Inconfidência Mineira, a conspiração dos 
				Alfaiates, a Balaiada, a Revolução Republicana de 1817, a 
				Confederação do Equador, as revoluções Praieira e Farroupilha, a 
				Revolta dos Malês, a Sabinada e a Cabanada, as lutas dos 
				camponeses de Canudos e do Contestado, a Revolta da Chibata, a 
				Coluna Prestes, a Guerrilha do Araguaia e tantos outros 
				episódios –, de cujas tradições o Partido Comunista do Brasil se 
				orgulha de ser herdeiro.
				
				A fundação do Partido Comunista do Brasil
				
				Em 1922 existiam inúmeros grupos comunistas 
				em todo o Brasil. Particularmente ativo era o Grupo Comunista 
				do Rio de Janeiro – criado por Astrojildo Pereira em 7 de 
				novembro de 1921 – que mantinha contato com outros centros 
				operários, divulgando as 21 cláusulas da Internacional Comunista 
				(IC) e conclamando-os para que também formassem grupos 
				comunistas. Em 1º de janeiro de 1922, Cristiano Cordeiro – que 
				entre 1919-1920 havia criado em Recife o Círculo de Estudos 
				Marxistas – funda o Grupo Comunista de Recife. Nesse 
				mesmo mês, o Grupo Comunista do Rio de Janeiro lança a revista
				Movimento Communista, tendo como objetivo “defender e 
				propagar, entre nós, o programa da Internacional Comunista”. No 
				início de 1922, Astrogildo ajuda a fundar um grupo comunista em 
				São Paulo. No Rio Grande do Sul, o Grupo Comunista de Porto 
				Alegre, liderado por Abílio de Nequete, mantém desde 1921 
				contatos com a Internacional Comunista, através do PC do 
				Uruguai, visando à criação do Partido Comunista do Brasil e a 
				sua participação no 4º Congresso da IC.
				
				Finalmente, nos dias 25, 26 e 27 de março de 
				1922, reuniu-se no Rio de Janeiro o Congresso de fundação do 
				Partido Comunista do Brasil. Estavam presentes 9 delegados, 
				representando 73 filiados em todo o país: Abílio de Nequete, 
				barbeiro de Porto Alegre, que também representava o PC do 
				Uruguai e a Agência de Propaganda para a América do Sul da IC; 
				Astrojildo Pereira, jornalista de Niterói; Cristiano Cordeiro, 
				funcionário público de Recife; Hermogênio Silva, eletricista e 
				ferroviário de Cruzeiro (SP); João Jorge da Costa Pimenta, 
				gráfico de São Paulo; Joaquim Barbosa, alfaiate do Rio de 
				Janeiro; José Elias da Silva, funcionário público do Rio de 
				Janeiro; Manoel Cendón, artesão alfaiate; Luiz Peres, artesão 
				vassoureiro do Rio de Janeiro. Destes, 7 eram brasileiros natos, 
				um era espanhol (Cendón) e um libanês (Nequete). Santos e Juiz 
				de Fora, onde também havia grupos comunistas, não puderam enviar 
				delegados.
				
				Abílio de Nequete foi eleito para a 
				Secretaria Geral, a partir de uma indicação de Astrojildo 
				Pereira, possivelmente em deferência à maior antiguidade da 
				União Maximalista de Porto Alegre e por sua relação com o PC 
				do Uruguai e com o Bureau da IC para a América Latina.
				
				Não foi aprovado nenhum documento de análise 
				da realidade ou de orientação política. Como não existia 
				legislação específica para os partidos políticos, o PC do Brasil 
				foi registrado como sociedade civil, publicando os seus 
				Estatutos no Diário Oficial da União de 7 de abril de 1922.
				
				Os primeiros combates
				
				Três meses depois da fundação do PC do 
				Brasil, em 5 de julho de 1922, eclodiu o Levante do Forte de 
				Copacabana, iniciando o assim chamado “ciclo tenentista” – 
				reflexo entre os jovens oficiais da crescente insatisfação da 
				pequena burguesia urbana e de setores da própria burguesia 
				frente à República Velha. É decretado o Estado de Sítio no 
				Distrito Federal e no Rio de Janeiro. Mesmo estando o Partido 
				alheio a esses acontecimentos, a polícia aproveitou para invadir 
				e fechar sua sede, colocando-o na ilegalidade, apenas três meses 
				após a sua fundação. Solto no dia seguinte à sua prisão e 
				ameaçado pela polícia, Abílio de Nequete retornou a Porto 
				Alegre. Astrojildo Pereira foi escolhido para substituí-lo na 
				Secretaria Geral, posto que exerceu até novembro de 1930, com um 
				interregno em 1929, quando passou um ano em Moscou.
				
				Tendo em vista a realização do 4º Congresso 
				da IC em fins de 1922, a Comissão Central Executiva indicou 
				Antonio Canellas para representá-la em Moscou. Impregnado de 
				idéias reformistas e de resquícios da ideologia anarquista, 
				Canellas deixou péssima impressão na liderança da IC, que não 
				aceitou a filiação do PC do Brasil, mantendo-o como partido 
				simpatizante. Só em abril de 1924, o Partido será admitido na 
				Internacional, depois que o dirigente comunista argentino 
				Rodolfo Ghioldi aqui esteve como delegado da Comissão Executiva 
				da IC, para verificar pessoalmente a situação do Partido.
				
				O ano de 1922 encerrou-se com um relativo 
				avanço organizativo do Partido, que passou dos 73 membros 
				originários, para cerca de 250 filiados – dos quais 123 no Rio 
				de Janeiro e Niterói. A adesão de Octávio Brandão – conhecido 
				intelectual progressista, até então vinculado ao anarquismo – 
				foi um importante reforço. Indicado para a Comissão Central 
				Executiva, ele assumiu em abril de 1923 as tarefas de agitação e 
				propaganda. Em maio de 1923, o número dos militantes já havia 
				subido para 300.
				
				Uma das primeiras preocupações dos comunistas 
				era a criação de uma imprensa partidária. A revista Movimento 
				Communista foi transformada em seu órgão oficial, publicando 
				13 números em 1922, num total de 390 páginas, com uma tiragem 
				anual de cerca de 15 mil exemplares. Em 1923, foram editados 
				outros 12 números, sendo o último de junho de 1923. A partir 
				daí, a repressão policial do governo de Arthur Bernardes impediu 
				a sua circulação.
				
				Em julho de 1923, o nº 27 do jornal Voz 
				Cosmopolita, iniciou a publicação – pioneira no Brasil – do 
				Manifesto Comunista de Marx e Engels, com tradução de Octávio 
				Brandão. A publicação do Manifesto só é concluída na edição nº 
				36, de dezembro de 1923. Caberá aos comunistas gaúchos 
				publicarem, pela primeira vez, em 1924, sob a forma de livro, 3 
				mil exemplares dessa tradução do Manifesto Comunista.
				
				No dia 1º de maio de 1925, o PC do Brasil 
				lançou como seu órgão central o jornal A Classe Operária. 
				Seu primeiro número saiu com 5 mil exemplares, que se esgotaram 
				rapidamente. A partir daí, o semanário ampliou sua tiragem, 
				chegando a 9 mil exemplares no seu nº9 e, 11 mil, no nº12. Foram 
				organizados comitês de A Classe Operária, equipes de 
				propagandistas e de “pacoteiros” nas fábricas e oficinas. Grupos 
				de operários passaram a doar um dia de trabalho a cada mês, para 
				sustentá-la. Alguns sindicatos aprovaram contribuições 
				financeiras e eram realizados mutirões de venda do jornal nas 
				principais fábricas. As vendas nas bancas passavam de mil 
				jornais, por edição.
				
				A Classe Operária foi fechada pela 
				polícia, antes de publicar seu décimo terceiro número, 
				programado para 25 de julho de 1925. Mais uma vez, as classes 
				dominantes brasileiras mostravam seu reacionarismo, não 
				permitindo sequer três meses de liberdade para a imprensa 
				comunista. A Classe Operária só retornará em 1º de maio 
				de 1928.
				
				No movimento operário, os comunistas 
				defendiam os sindicatos por indústria, a unidade sindical e a 
				centralização sindical. Reorganizaram a Federação dos 
				Trabalhadores do Rio de Janeiro, dirigiram com êxito importantes 
				greves – como a dos gráficos de São Paulo, em 1923. Em fins de 
				1925, propuseram a criação da CGT. Em 1926, conquistaram o 
				importante Sindicato dos Têxteis do Rio de Janeiro.
				
				O 2º Congresso do Partido Comunista do 
				Brasil
				
				O 2º Congresso do PC do Brasil ocorreu no Rio 
				de Janeiro, entre 16 e 18 de maio de 1925. Além de seis membros 
				da antiga Comissão Central Executiva, participaram do Congresso 
				delegados das organizações do Rio de Janeiro e de Niterói (5), 
				de Pernambuco (2), de Santos (2), de São Paulo (1) e de Cubatão 
				(1); deixou de comparecer a delegação do Rio Grande do Sul.
				
				As resoluções políticas aprovadas – baseadas 
				nas teses que Octávio Brandão desenvolvera em seu livro 
				Agrarismo e Industrialismo – afirmavam que as revoltas 
				armadas de 1922 e 1924 eram ações revolucionárias “do tipo 
				pequeno-burguês” e refletiam a contradição básica “entre o 
				industrialismo e o agrarismo”; que haveria uma “terceira 
				revolta”, a qual os comunistas deveriam apoiar, buscando 
				hegemonizá-la. As resoluções superestimavam o papel progressista 
				da burguesia industrial e subestimavam o papel do campesinato.
				
				1927 – Os comunistas vão às massas
				
				Em 31 de dezembro de 1926 expirou o prazo do 
				estado de sítio, que não foi renovado. A vida política do país 
				retornou à normalidade e o Partido voltou a ter uma atuação 
				legal.
				
				Em fins de 1926, o jornalista Leônidas de 
				Resende – dono do diário A Nação e simpático às idéias 
				comunistas – procurou a direção do PC do Brasil e propõe retomar 
				sua publicação como órgão do Partido. O primeiro número saiu no 
				dia 3 de janeiro de 1927, ostentando a foice e o martelo e o 
				dístico “Proletários de todos os países, uni-vos!”. Na sua 
				direção estavam três dirigentes do PC do Brasil, além de 
				Rezende. No dia 5 de janeiro, A Nação publicou uma “Carta 
				Aberta”, propondo a formação do Bloco Operário para as 
				eleições de 24 de fevereiro para o Congresso Nacional. Respondem 
				favoravelmente o deputado Azevedo Lima, o Centro Político 
				Proletário da Gávea e o Centro Político Proletário de 
				Niterói.
				
				O Bloco Operário apoiou no 2º Distrito 
				a candidatura de Azevedo Lima e lançou no 1º Distrito o gráfico 
				João da Costa Pimenta. O diário A Nação assumiu o comando 
				da campanha eleitoral, que alcançou enorme repercussão. Durante 
				oito semanas foi feito um intenso trabalho de agitação, 
				propaganda e mobilização. Aberta as urnas, no 1º Distrito foram 
				eleitos cinco situacionistas, o menos votado com 6.620 votos; 
				Prestes obteve 3.141 votos e Pimenta 2.024. Mesmo não sendo 
				eleito, Pimenta obteve uma votação considerável para a época e 
				para a força real do Partido. No 2º Distrito, os oposicionistas 
				Adolfo Bergamini e Azevedo Lima lideraram a votação, com mais de 
				11 mil votos. Foi uma grande vitória do Bloco Operário e 
				do PC do Brasil, que pela primeira vez teve no Congresso 
				Nacional um representante eleito com o seu apoio.
				
				Após as eleições, foi criada uma direção 
				provisória da Juventude Comunista. Segundo Basbaum: “A Nação 
				publicava papeletas de inscrição para a JC (...) em poucos meses 
				já havíamos recebido mais de 100 inscrições, não somente do Rio, 
				mas de outros estados (...) 90% dos membros da juventude 
				comunista da época, se consistia de jovens operários, de 15 a 19 
				anos”. [1]
				
				O Partido voltou-se a organização do 
				Congresso Sindical Regional do Rio de Janeiro. A Nação 
				jogou papel decisivo na sua convocação. Participaram do 
				Congresso, realizado em abril de 1927, 36 sindicatos, 23 
				comissões de fábrica e 3 “minorias revolucionárias”, de 
				sindicatos contrários à unificação sindical. Em 1º de maio, foi 
				criada a Federação dos Trabalhadores Gráficos do Brasil, em 
				reunião com representantes do DF, RJ, BA, PB, PA, AM, SP e MG. 
				Dois anos depois, em abril de 1929, seria criada a CGT.
				
				A “Lei Celerada”, o fechamento de A 
				Nação e a criação do BOC
				
				Colhida de surpresa, num primeiro momento, a 
				reação não estava disposta a tolerar a existência de um diário 
				comunista, cuja influência crescia a olhos vistos. O governo 
				encaminhou ao Congresso uma nova lei repressiva – a “Lei 
				Celerada” – que, além de reprimir as greves, autorizava o 
				fechamento de sindicatos, associações e entidades que 
				“incidissem na prática de crimes ou atos contrários à ordem”, 
				proibindo a propaganda de suas idéias. A lei foi aprovada na 
				Câmara dos Deputados no dia 28 de julho de 1927. No dia 11 de 
				agosto, véspera da sua sanção pelo Presidente da República, 
				circulou o último número de A Nação, depois de quase 200 
				edições.
				
				Sancionada a “Lei Celerada”, o PC do Brasil 
				passou novamente à ilegalidade. Baseada na experiência exitosa 
				do Bloco Operário, a direção partidária decidiu 
				estendê-lo a todo país, utilizando-o como cobertura legal para a 
				atuação dos comunistas entre as massas. O Bloco Operário 
				foi transformado em Bloco Operário Camponês (BOC), 
				organizando-se em centros locais permanentes, com estatutos e 
				direção próprias, sob a direção do Partido.
				
				Ainda em 1927, foi mantido o primeiro contato 
				do PC do Brasil com Prestes, comandante da Coluna Invicta. 
				Em fins de dezembro, Astrogildo Pereira propôs a Prestes uma 
				aliança entre os comunistas e os combatentes da Coluna 
				Prestes, isto é, “entre o proletariado revolucionário sob a 
				influência do Partido Comunista e as massas populares, 
				especialmente as massas camponesas, sob a influência da Coluna e 
				do seu comandante”. [2] Nessa ocasião, Astrogildo passou a 
				Prestes ampla literatura marxista.
				
				Nas comemorações do 1º de Maio de 1928, foi 
				relançado o jornal A Classe Operária, que continuou como 
				semanário até o final de 1929, calculando-se que nessa segunda 
				fase sua tiragem normal era de 15 mil exemplares por edição.
				
				Nas eleições municipais de outubro de 1928, o
				BOC lançou Everardo Dias, em São Paulo, e João Freire de 
				Oliveira, em Santos. Everardo obteve uma baixa votação. Freire, 
				apesar de não se eleger, faz quase 5% dos votos. No Rio Grande 
				do Sul, o BOC apresentou a candidatura de Plínio Gomes de 
				Mello, que obteve 584 votos, mais de 5% da votação. Mas, a 
				grande vitória se deu nas eleições do Rio de Janeiro, onde os 
				comunistas elegeram 2 dos 12 conselheiros – o operário negro 
				Minervino de Oliveira, com 7.692 votos, e Octávio Brandão, com 
				7.088.
				
				O 3º Congresso do Partido Comunista do 
				Brasil
				
				O 3º Congresso do PC do Brasil realizou-se 
				nos dias 29, 30 e 31 de dezembro de 1928 e 1, 2, 3 e 4 de 
				janeiro de 1929, em Niterói. Dele participaram 31 comunistas, 
				entre os quais 10 membros da antiga direção, 13 delegados de 6 
				organizações regionais, 2 da juventude comunista, 3 sem direito 
				a voto e 3 observadores. Estavam representados os delegados de 
				Pernambuco, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio 
				Grande do Sul e Distrito Federal. Não enviaram delegados Minas 
				Gerais e Bahia. Dos participantes 16 eram operários, 6 
				empregados, 6 intelectuais e 3 diversos.
				
				Os dados do Congresso indicam que o número de 
				membros efetivos do Partido chegara cerca de 800 militantes, dos 
				quais perto de “400 atuavam no Rio de Janeiro (50 das 80 bases 
				existentes). No estado de São Paulo, onde se concentrava parte 
				considerável dos operários industriais do país, havia 80 
				membros; no Rio Grande do Sul, também 80 comunistas e jovens 
				comunistas. (...) Pernambuco (...) a organização tinha 65 
				membros organizados em 12 células”. [3] Em outro informe, do 
				primeiro semestre de 1928, à IC, a direção do PC do Brasil 
				informava que dos membros do Partido, 98% eram operários, sendo 
				70% brasileiros e 30% imigrantes. O trabalho entre os camponeses 
				praticamente inexistia.
				
				Na sua orientação política, o 3º Congresso 
				manteve no essencial a visão que havia adotado no Congresso 
				anterior, caracterizando a sociedade brasileira como uma 
				economia agrária, semifeudal e semicolonial e considerando que o 
				imperialismo inglês apoiava a burguesia agrária conservadora, 
				enquanto o imperialismo norte-americano se aliava à burguesia 
				industrial liberal. O capital industrial e o capital agrário 
				interpenetravam-se cada vez mais, levando a um recuo da 
				burguesia liberal. A crescente exploração e opressão das massas 
				trabalhadoras se expressavam nas revoltas tenentistas – a 
				primeira em 1922 e a segunda em 1924, resultando na Coluna 
				Prestes –, sendo inevitável uma terceira revolta, a qual o 
				proletariado devia procurar hegemonizar. Segundo o 3º Congresso, 
				a pequena-burguesia “constitui um fator revolucionário de maior 
				importância no momento atual, tendendo a aliar-se às forças 
				revolucionárias do proletariado”, mas, só o proletariado pode 
				“levar a revolução às suas conseqüências”; ele deve apoiar o 
				movimento revolucionário em gestação e reivindicar o seu 
				programa – confisco das terras, supressão dos vestígios 
				semifeudais, libertação do jugo imperialista. [4]
				
				Analisando a experiência do BOC, o 3º 
				Congresso chamou a atenção para o risco de o Partido perder a 
				sua direção – caso em que o mesmo degeneraria em uma máquina 
				eleitoral de oportunistas – ou de diluir-se no seu seio, 
				limitando-se ao trabalho legal e eleitoral. O Congresso apontou 
				para a necessidade de o BOC ser estendido a todo o país, 
				sem restringir-se à luta eleitoral.
				
				1929 – A mudança de rumos
				
				Ainda que com erros, o Partido procurava 
				compreender as contradições da sociedade brasileira e formular 
				uma estratégia que levasse em conta o papel da pequena-burguesia 
				(e, mesmo, de setores da burguesia nacional) na luta contra o 
				domínio oligárquico da República Velha e pela modernização do 
				país.
				
				O 6º Congresso da Internacional Comunista, em 
				setembro de 1928, substituindo a política de “Frente Única” pela 
				de “Classe contra Classe”; a 1ª Conferência Comunista 
				Latino-Americana, em junho de 1929, que criticou duramente a 
				opinião de que a pequena-burguesia era importante aliada do 
				proletariado e do campesinato no processo revolucionário 
				brasileiro; o 3º Pleno do Comitê Central do PC do Brasil, em 
				outubro de 1929, que sob a pressão dessas críticas avaliou as 
				eleições de 1930 como uma mera disputa entre facções da 
				burguesia, da qual o proletariado devia se alhear, lançando 
				candidatos próprios e transformando essa disputa eleitoral em 
				uma verdadeira batalha de classe; e o Pleno do Secretariado 
				Sul-Americano da IC, em novembro de 1929, que atacou o 
				“menchevismo” dos comunistas brasileiros; tudo isso teve o 
				efeito de alterar profundamente os rumos do PC do Brasil e a 
				própria composição do seu núcleo dirigente. Essas críticas à 
				orientação política do PC do Brasil combinaram-se com a chamada 
				“bolchevização” e “proletarização” dos partidos comunistas, 
				incentivada pela IC.
				
				Astrojildo Pereira, que retornou de Moscou, 
				em janeiro de 1930, foi um dos seus impulsionadores. Em reunião 
				do CC, Leôncio Basbaum e Paulo Lacerda foram afastados do 
				Bureau Político e Fernando Lacerda passou a ser suplente. 
				Pouco depois, o Secretariado Sul-Americano da IC determinou a 
				demissão da maioria do CC, inclusive Octávio Brandão, e 
				responsabilizou a antiga direção pelos erros de “um partido 
				mergulhado na ideologia burguesa”. Em novembro de 1930, o 
				próprio Astrojildo Pereira foi afastado do CC. O Partido 
				Comunista do Brasil ingressou em um período de intenso 
				sectarismo e sérios problemas de direção. Uma das conseqüências 
				mais graves foi o seu total alheamento da Revolução de 1930.
				
				NOTAS
				
				[1] BASBAUM, 
				Leôncio. Uma vida em seis tempos: memórias. São Paulo: 
				Alfa-Ômega, 1976, 46-48.
				
				[2] PEREIRA, 
				Formação do PCB, p. 132.
				
				[3] KOVAL, 
				Bóris. História do proletariado brasileiro - 1857 a 1967. São 
				Paulo: Alfa-Ômega, 1982, pp. 221-222.
				
				[4] CARONE, 
				Edgard. Classes sociais e movimento operário. São Paulo: Ática, 
				1989, p. 226.
				
				* Raul K. M. 
				Carrion é Historiador e Deputado Estadual e Líder do PCdoB na 
				Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. É também membro da 
				Comissão Especial do Comitê Central do Partido Comunista do 
				Brasil para redigir a História do PCdoB e coordenador do Centro 
				de Estudos Marxistas e do Centro de Debates Econômicos, Sociais 
				e Políticos do Rio Grande do Sul.
				
				CARRION, Raul. 1922-1929: Os 
				primeiros passos do Partido Comunista do Brasil. In: RUY, 
				José Carlos e BUONICORE, Augusto (Org.). Contribuição à 
				história do Partido Comunista do Brasil, 2ª edição. São 
				Paulo: Anita Garibaldi; Fundação Maurício Grabois, 2012, pp. 
				57-66.