1.
				Introdução
				
				As contas externas são registradas 
				no Balanço de Pagamentos (BP), onde são contabilizadas todas as 
				transações do país (residentes) com o exterior (não-residentes). 
				O BP é composto basicamente de três partes: a primeira se chama 
				transações correntes (ou conta corrente) e dela fazem parte a 
				balança comercial (exportações e importações de bens), a balança 
				de serviços (viagens internacionais, transportes, aluguel de 
				equipamentos, etc.), a renda primária (pagamento de juros e 
				remessas de lucros e dividendos), e a renda secundária 
				(transferências unilaterais, como por exemplo, o envio de 
				dinheiro de imigrantes brasileiros no exterior para o Brasil). A 
				segunda parte do BP é a conta de capital, composta por ativos 
				não financeiros não produzidos e transferências de capital. A 
				terceira parte é a conta financeira, que registra empréstimos 
				concedidos ao Brasil, por bancos privados ou agências 
				internacionais, aplicações financeiras em ações e títulos – 
				chamados investimentos em carteira – e os investimentos 
				estrangeiros diretos (IED).
				
				O Brasil é signatário do sistema 
				de registros padronizados pelo Manual de Balanço de Pagamentos e 
				Posição Internacional de Investimento, que encontra-se na sua 
				sexta edição (BPM6), adotado em abril de 2015 no Brasil. O 
				Manual é produzido pelo FMI, a partir do STA (departamento de 
				estatísticas macroeconômicas). O STA se reúne para discussão com 
				grupos de especialistas de vários países e outros organismos 
				internacionais. Estes manuais fornecem recomendações para a 
				compilação e apresentação das contas macroeconômicas; asseguram 
				a consistência entre as várias estatísticas macroeconômicas e 
				permitem a comparabilidade das estatísticas entre os países, e 
				de um mesmo país ao longo do tempo.
				
				No Brasil, a elaboração e 
				divulgação dos dados é de responsabilidade do Banco Central, que 
				disponibiliza em seu sítio na internet (www.bcb.gov.br) 
				planilhas com as informações que serviram de base para o 
				presente estudo. Compilamos os dados a partir de 1985 até 2022. 
				Para facilitar a interpretação política, procuramos sempre que 
				possível, dividir os períodos conforme cada governo, 
				considerando que o governo de Dilma Roussef é interrompido em 
				agosto de 2016, e a partir daí, o governo de Michel Temer. 
				Ressaltamos também que, ao iniciar as séries de dados a partir 
				de 1985, pode-se observar a evolução das contas externas 
				coincidindo com a introdução do Real e com a abertura mais 
				efetiva da conta financeira, cujo processo se inicia a partir do 
				final da década de 80, passando pelos anos 90 e consolidando-se 
				até a metade da década de 2000.
				
				
				
				2. Balança Comercial de Bens
				
					
						| Gráfico 1 Brasil - Exportações, importações e saldo 
						da balança comercial de bens
 Em bilhões de dólares
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						| Fonte: 
						Banco Central do Brasil Disponível em 
						https://www.bcb.gov.br/estatisticas/tabelasespeciais
 Elaboração própria.
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				O balanço de pagamentos inicia 
				pelo saldo da balança comercial de bens, ou seja, exportações 
				menos importações. Estas duas sub-contas são as mais volumosas, 
				por isso o seu saldo assume importância determinante no déficit 
				ou no superávit das transações correntes. Durante a série 
				histórica de 28 anos que compreende este trabalho, somente em 
				sete a balança de bens foi negativa, sendo que seis delas foram 
				nos primeiros anos dos governos FHC, quando a política de cambio 
				com o Real apreciado para conter a inflação, desestimulou 
				sobremaneira as exportações (o governo FHC inicia em 1995 com o 
				dólar valendo menos de 1 real), bem como impulsionou as 
				importações. Somente a partir de 2001 a balança passa a ficar 
				positiva, à exceção do ano de 2014, atingindo seu pico entre os 
				anos de 2004 e 2007. O gráfico 1 mostra a evolução das 
				exportações, importações e o saldo. O saldo da balança volta a 
				ser negativo em 2014, face à desaceleração da economia 
				brasileira. A partir de 2016 retornam os saldos expressivos, mas 
				com volume de negócios inferiores. Mesmo com a taxa cambial em 
				alta, as exportações apresentaram redução em 2019 e 2020, e as 
				importações caem ainda mais, refletindo um período de 
				desaceleração na economia. Em 2021 e 2022, exportações e 
				importações voltam a crescer em ritmo acelerado.
				
					
						| Gráfico 2 Brasil - Participação dos principais 
						grupos de produtos nas exportações de bens
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						|  | 
					
						| Fonte dos dados: 
						Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Disponível em: 
						http://comexstat.mdic.gov.br/pt/geral/31594
 Elaboração própria.
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				Quanto às exportações, o gráfico 2 
				mostra que houve mudança substancial na pauta dos produtos. No 
				ano de 1997, manufaturados, máquinas e equipamentos (indústria), 
				representavam quase a metade (44%) dos bens exportados. Já em 
				2022, a indústria recuou sua participação para apenas 20%, 
				enquanto os produtos primários passaram de 43% para 70%. Dos 
				três grupos de produtos primários, o de produtos alimentícios foi 
				o que se manteve praticamente estável, sendo que o discreto 
				aumento se deve basicamente à 
				carnes (bovina, ave e suína), seguido de açúcar, café, milho e 
				algodão. Quanto aos materiais brutos, mais que dobraram sua 
				participação, puxados pela soja e pelo minério de ferro. Os 
				combustíveis e minerais saltaram de 6% para 17%, sendo o 
				petróleo o responsável quase exclusivo por este aumento.
				
					
						| Gráfico 3 Brasil - Participação dos 6 principais 
						países nas exportações de bens
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						|  | 
					
						| Fonte dos dados: 
						Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Disponível em: 
						http://comexstat.mdic.gov.br/pt/geral/31594
 Elaboração própria.
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				Com referência ao destino das 
				exportações, o gráfico 3 também mostra substancial alteração ao 
				longo dos 28 anos analisados. A China sai de insipientes 2% em 
				1997 para liderar o destino de exportações brasileiras em 2022, 
				sendo só ela foi responsável por quase um terço (27%). Em 2022, 
				a China é o destino de 43% das exportações de produtos 
				primários, com destaque para as comodities como soja e minério 
				de ferro: 63% tem como destino a China. Do petróleo e derivados 
				que exportamos, o país asiático responde por 43%. Mostra-se 
				igualmente expressiva a redução dos EUA como destino, 
				considerando que em 1997 era o principal parceiro, e hoje 
				responde por apenas 11%. Igualmente no que se refere a 
				Argentina, Alemanha e Japão, cujas exportações debilitaram-se no 
				decorrer do período, fruto principalmente do recuo da indústria 
				brasileira
				
					
						| Gráfico 4 Brasil - Participação dos 5 principais 
						países nas importações
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						|  | 
					
						| Fonte dos 
						dados: Ministério da Indústria, Comércio Exterior e 
						Serviços. Disponível em: 
						http://comexstat.mdic.gov.br/pt/geral/31594
 Elaboração própria.
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				Sobre as importações, o 
				gráfico 4 mostra alterações expressivas nos países de origem. 
				Também aqui destaca-se a China, que em 1997 respondia por apenas 
				2%, e hoje é o maior fornecedor. Como mostra o gráfico 5, não 
				ocorreu mudança substancial nas importações de manufaturados, 
				máquinas e equipamentos, mas em conjunto com o gráfico 4, 
				conclui-se que passaram a ser comprados da China, e não mais dos 
				EUA. A participação dos EUA, que experimentou retração 
				considerável, hoje tem como pautas principais os produtos 
				químicos e os combustíveis e lubrificantes.
				
					
						| Gráfico 5 Brasil - Participação dos principais 
						grupos de produtos nas
 importações de bens
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						| Fonte dos dados: 
						Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Disponível em: 
						http://comexstat.mdic.gov.br/pt/geral/31594
 Elaboração própria.
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				Os produtos químicos são os que 
				apresentaram maior crescimento, representados principalmente por 
				fertilizantes, herbicidas e inseticidas, na razão direta do 
				aumentos das exportações de soja e outros grãos, razão pela qual 
				Rússia e Índia passam a figurar entre os principais países dos 
				quais o Brasil importa. Também se destacam neste grupo os 
				medicamentos.
				
				Combustíveis minerais tiveram 
				redução, devido ao petróleo, e sua posição se mantém em 
				decorrência das importações de gasolina, diesel e lubrificantes.
				
				
				3. Serviços
				
					
						| Gráfico 6 Brasil - Composição e evolução da conta
 de serviços
 Em bilhões de dólares
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						|  | 
					
						|  | 
					
						| Fonte: 
						Banco Central do Brasil Disponível em 
						https://www.bcb.gov.br/estatisticas/tabelasespeciais
 Elaboração própria.
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				Esta conta é composta pelo saldo 
				entre as importações e exportações de serviços, e também pelo 
				saldo entre os gastos das viagens de residentes ao exterior, 
				menos os das viagens de não-residentes para o país. Conforme se 
				verifica na Tabela 1, o déficit nesta conta é histórico, sendo 
				que em nenhum ano dos 28 analisados o fluxo foi positivo. Nesta 
				conta, destacam-se três subcontas: viagens, serviços de 
				transportes e aluguel de equipamentos. O gráfico 6 mostra a 
				evolução destas sub-contas em cada governo. As viagens de 
				residentes brasileiros ao exterior durante o período analisado 
				proporcionaram um fluxo negativo de 183,1 bilhões de dólares. 
				Mais da metade deste valor (46%) concentrou-se no governo Dilma. 
				O fluxo foi positivo somente em 2003 e 2004, em face da alta 
				taxa de cambio do período imediatamente anterior, o que 
				arrefeceu o volume de viagens para o exterior. A média anual de 
				saída de dólares do país a título viagens, é de 6,54bilhões de 
				dólares. O fluxo negativo da sub-conta transportes é determinado 
				principalmente pelos custos ligados a fretes sobre importações, 
				bem como serviços auxiliares de transporte, aluguel de 
				embarcações tripuladas; movimentação, embalagem e estocagem de 
				cargas. Experimentaram elevada evolução nos governos Lula e 
				Dilma, e são responsáveis por cerca de 32% do fluxo negativo da 
				conta Serviços. Já a subconta Aluguel de Equipamentos, é a que 
				mais pesa no fluxo negativo dos serviços, representando 39% do 
				acumulado no período analisado. Destacam-se nesta rubrica o 
				aluguel de plataformas para exploração de petróleo e gás, 
				embarcações e aeronaves e de satélites para telefonia móvel.
				
				
				4. Renda Primária
				
					
						| Gráfico 7 Brasil - Composição e evolução das sub-
 contas juros e lucros e dividendos
 Em bilhões de dólares
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						| Fonte: 
						Banco Central do Brasil Disponível em 
						https://www.bcb.gov.br/estatisticas/tabelasespeciais
 Elaboração própria.
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				São três sub-contas que compõem a 
				conta de Renda Primária. A primeira é a sub-conta Salários, que 
				registra as receitas decorrentes do recebimento de salários por 
				serviços prestados a não residentes e as despesas relativas ao 
				pagamento de salários a não residentes por serviços prestados à 
				empresa sediada no país. O fluxo resultante é via de regra 
				positivo, mas seu montante não é significativo na determinação 
				do saldo final da Renda Primária.
				
				Em seguida aparece a subconta de 
				juros, que representa os custos referentes a empréstimos tomados 
				no exterior, menos os custos de empréstimos de não residentes 
				obtidos no país. O fluxo negativo indica que o país paga muito 
				mais juros do que recebe. Conforme mostra o gráfico 7, durante 
				os 28 anos analisados o Brasil pagou ao exterior 434,2 bilhões 
				de dólares, quase a metade do déficit em transações corrente no 
				mesmo período.
				
				A terceira subconta mostra a 
				diferença entre a remessa de lucros e dividendos para o exterior 
				e o ingresso no país de valores referentes aos lucros obtidos no 
				exterior. O gráfico 7 mostra que o fluxo retirou do país 587,2 
				bilhões de dólares desde 1995. Nos gráficos 8 e 9 a seguir, são 
				mostrados os principais setores remetentes e os principais 
				países receptores.
				
					
						| Gráfico 8 Brasil - Remessa de lucros e dividendos 
						para o exterior
 Principais setores econômicos remetentes
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						| Fonte: 
						Banco Central do Brasil Disponível em 
						https://www.bcb.gov.br/estatisticas/tabelasespeciais
 Elaboração própria.
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						| Gráfico 9 Brasil - Principais países de destino das 
						remessas de
 lucros e dividendos para o exterior
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						| Fonte: 
						Banco Central do Brasil Disponível em 
						https://www.bcb.gov.br/estatisticas/tabelasespeciais
 Elaboração própria.
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				5. Renda Secundária
				
				Registra as transferências entre 
				residentes e não residentes de uma economia sem que haja 
				contraprestação, financeira ou não, por parte do beneficiário. 
				Incluem-se as contribuições a entidades de classe, a entidades 
				associativas e a organismos internacionais, bilhetes e prêmios 
				de loterias oficiais, impostos, taxas, indenizações não 
				amparadas por seguros, aposentadorias, pensões e reparações de 
				guerra. Inclui, também, as transferências efetuadas por 
				migrantes (remessas de trabalhadores, doações, heranças, etc.). 
				O fluxo positivo é determinado principalmente pelas 
				transferências pessoais do exterior para o Brasil. O saldo geral 
				da conta tem uma influência modesta na composição das transações 
				correntes.
				
				
				6. Transações correntes
				
					
						| Gráfico 10 Brasil - Transações correntes
 Em bilhões de dólares
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						| Fonte: 
						Banco Central do Brasil Disponível em 
						https://www.bcb.gov.br/estatisticas/tabelasespeciais
 Elaboração própria.
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				É a conta que apura o saldo geral 
				de todas as operações vistas anteriormente. Também chamada de 
				conta corrente, quando seu saldo é negativo, significa que o 
				país deverá obter dólares através de fluxo positivo em sua conta 
				financeira, ou seja, deve ter sua conta de capitais aberta para 
				a entrada de capital externo. Em não sendo suficiente a entrada 
				de capitais externos para suprir sucessivos déficits em conta 
				corrente, o país deve ter reservas internacionais suficientes 
				para suportar o balanço de pagamentos. Quando estas alternativas 
				não forem suficientes, só resta socorrer-se de empréstimos de 
				bancos e/ou instituições internacionais, como o FMI. Conforme 
				exposto na tabela 1, o Brasil apresentou superávit em conta 
				corrente em somente cinco anos dos 28 analisados: de 2003 a 2007 
				— face principalmente aos expressivos superávits da balança 
				comercial de bens —. Portanto, antes da abertura da conta 
				financeira, proporcionando a entrada de capitais externos, um 
				país como o Brasil contava quase que exclusivamente com o saldo 
				positivo de sua balança comercial para fazer frente a eventuais 
				déficits em seu balanço de pagamentos. O gráfico 10 mostra como 
				evoluíram as transações correntes e seus componentes em cada 
				governo. Desde o início da série até 2022, o país acumulou 1,065 
				trilhões de dólares de déficit.
				
				
				7. Conta Capital
				
				Esta conta registra transferências 
				de patrimônio resultantes de imigração ou emigração; bens não 
				financeiros não produzidos, que compreende a compra e venda de 
				direitos de propriedade, tais como marcas e patentes. É por esta 
				conta que circula, por exemplo, os valores referentes a venda ao 
				exterior de direitos sobre atletas, que respondem pela maioria 
				dos valores que transitam na conta. O fluxo é quase sempre 
				positivo, mas seu montante não é determinante para o saldo das 
				transações correntes.
				
				
				8. Conta Financeira
				
					
						| Tabela 2 Brasil - Fluxo da conta financeira
 Em milhões de dólares
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						| Fonte: 
						Banco Central do Brasil Disponível em https://www.bcb.gov.br/estatisticas/tabelasespeciais
 Elaboração própria.
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				É a conta que registra a diferença 
				entre os fluxos de investimentos de brasileiros (pessoas físicas 
				e jurídicas) no exterior (Ativos) e os fluxos de investimentos 
				de estrangeiros no Brasil (Passivos). Tanto ativos quanto 
				passivos são compostos por quatro subcontas basicamente: i) 
				investimentos estrangeiro direto, ii) investimento em carteira, 
				iii) empréstimos e títulos. iv) outros passivos. Há uma quinta 
				subconta – Ativos de Reservas – que é a responsável por receber 
				a diferença entre todos os fluxos vistos até aqui. O lançamento 
				nesta rubrica reflete a diferença final do Balanço de 
				Pagamentos. Quando o lançamento é negativo, significa que o país 
				teve que usar reservas para cobrir o déficit no balanço de 
				pagamentos, e quando positivo, o país aumenta seus ativos de 
				reservas.
				
				Conforme a tabela 1, na série de 
				28 anos o país precisou usar reservas para cobrir o déficit do 
				balanço de pagamentos em cinco oportunidades: de 1997 a 2000, em 
				2013, e mais recentemente em 2019, 2020 e 2022. Em todos os 
				demais exercícios, o saldo da conta financeira cobriu o déficit 
				e ainda proporcionou o aumento das reservas. Assim, configura-se 
				que o Brasil cobre seus prejuízos em conta corrente com a 
				entrada de capital externo, seja para investimento direto, 
				investimento em carteira ou empréstimos. 
				
				O Brasil adota o sistema de câmbio 
				flutuante, cuja taxa é determinada pelo próprio "mercado" 
				através da relação entre oferta e procura. Assim, quanto maior a 
				entrada de dólares pela conta financeira, principalmente para 
				investimentos em carteira, mais o real se valoriza, ao passo que 
				quando há mais saída de dólares do que entrada, esse tem seu 
				valor apreciado.
				
				A tabela 2 mostra o resultado dos 
				fluxos de entrada e saída de capitais das principais sub contas, 
				agrupados por cada governo durante o período analisado. Valor 
				negativo indica maior entrada do que saída de capital externo, o 
				que torna o país devedor destes valores, visto que podem sair a 
				qualquer momento, obrigando a converter os reais baixados das 
				aplicações em dólar para retornarem a origem.
				
				O primeiro período (governo FHC) 
				caracteriza-se por desequilíbrios no balanço de pagamentos. 
				Embora com fluxo positivo de capital externo, os déficits da 
				balança comercial e a insuficiência de reservas internacionais, 
				levaram o país a socorrer-se do FMI em duas oportunidades (1998 
				e 2002).
				
				Os dois governos do Partido dos 
				Trabalhadores (Lula e Dilma), caracterizam-se pelo volumoso 
				ingresso de capitais, tanto para investimento direto quanto para 
				investimentos em carteira. Associados aos grandes superávits da 
				balança comercial, estes fatores proporcionaram a formação das 
				robustas reservas internacionais que ainda hoje o país sustenta.
				
				Quanto aos governos Temer e 
				Bolsonaro, há mudanças expressivas na conta, onde somente o 
				investimento direto foi positivo. Pela primeira vez, observa-se 
				fluxo negativo dos investimentos em carteira, que conjugado com 
				outros fatores, resultaram na necessidade de uso de cerca de 20 
				bilhões de dólares das reservas internacionais do país. 
				A conta financeira por sua natureza, necessita de um segundo 
				tipo de controle, para além do controle dos fluxos: trata-se da 
				Posição dos Investimentos no Exterior e da Posição do 
				Investimento Estrangeiro no país, que visa mostrar qual a 
				posição atual destes investimentos. Os saldos de investimentos e 
				empréstimos são afetados tanto pelos fluxos como também pelas 
				variações cambiais. 
				
				O gráfico 11 mostra a evolução da posição dos investimentos no 
				exterior, com dados disponíveis a partir do ano de 2001. O 
				investimento direto representa a maior parte da posição do país 
				no exterior. Os investimentos em carteira feitos por brasileiros 
				no exterior historicamente não assumem grande relevância. As 
				reservas internacionais são parte integrante da Posição dos 
				Investimentos no Exterior, pois configuram um direito do país em 
				moeda estrangeira. As reservas do Brasil estão alocadas 
				basicamente em títulos do governo dos EUA, compondo cerca de 80% 
				das reservas internacionais.
				
					
						| Gráfico 11 Brasil - Posição dos investimentos no 
						exterior
 Em bilhões de dólares
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						| Fonte: 
						Banco Central do Brasil Disponível em 
						https://www.bcb.gov.br/estatisticas/tabelasespeciais
 Elaboração própria.
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				Quanto ao passivo externo mostrado 
				no gráfico 12, ele retrata a posição dos investimentos de 
				estrangeiros no país, tanto aqueles alocados em participação de 
				capital em empresas quanto aplicações em ações e títulos. Além 
				destes investimentos, o passivo espelha a posição dos 
				empréstimos tomados no exterior pelos setores público e privado.
				
					
						| Gráfico 12 Brasil - Posição dos investimentos 
						estrangeiros no país
 Em bilhões de dólares
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						| Fonte: 
						Banco Central do Brasil Disponível em 
						https://www.bcb.gov.br/estatisticas/tabelasespeciais
 Elaboração própria.
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				O investimento direto possui dois 
				componentes: Participação no Capital e Operações Intercompanhia. 
				Participação no Capital refere-se ao investimento de não 
				residentes alocados no capital de empresas residentes no Brasil, 
				quando essa participação for igual ou superior a 10%. Já as 
				Operações Intercompanhia, as transações correspondem aos fluxos 
				líquidos de capitais entre empresas residentes receptoras de IDP 
				e seus investidores diretos não residentes, não havendo qualquer 
				especificação sobre sua aplicação.
				
				A diferença entre o Ativo externo 
				e o Passivo externo, é chamada de “Posição de Investimento 
				Internacional”. Ao final de 2020, a posição brasileira mostrava 
				um montante de 728,41 bilhões de dólares negativo (passivo maior 
				que o ativo).
				
					
						| Gráfico 13 Brasil - Investimento estrangeiro no país 
						| Distribuição por país do controlador final
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						| Fonte: 
						Banco Central do Brasil Disponível em 
						https://www.bcb.gov.br/estatisticas/tabelasespeciais
 Elaboração própria.
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						| Gráfico 14 Brasil - Investimento estrangeiro no país 
						| Distribuição entre os setores econômicos
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						| Fonte: 
						Banco Central do Brasil Disponível em 
						https://www.bcb.gov.br/estatisticas/tabelasespeciais
 Elaboração própria.
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				O gráfico 13 mostra que o EUA 
				detém a liderança dos investimentos via participação no capital, 
				alcançando o valor de 191,6 bilhões de dólares. Em estudo de 
				2017, o Banco Central realizou pesquisa para identificar os 
				controladores finais dos investimentos, visto que, em muitos 
				casos, são usados outros países para concretizar tais 
				investimentos. Esta prática está consolidada em todo o mundo, a 
				ponto de hoje em dia o país com maior volume de investimento 
				direto pelo mundo é a Holanda, embora sua economia não possua 
				status para tal. No Brasil, se considerarmos o investidor 
				imediato, veremos a Holanda em segundo lugar e Luxemburgo em 
				terceiro. O que explica esta situação, é o fato destes países 
				conservarem até hoje acordos seculares de isenções fiscais para 
				trânsito de capitais, o que configura uma prática de evasão 
				fiscal legalizada.
				
				O gráfico 14 mostra os setores 
				econômicos com maior participação de capital externo. O exame 
				desta realidade desmistifica em parte a ideia de que o IDP é 
				sempre saudável para o país receptor, visto que impulsiona sua 
				produção e o consequente desenvolvimento. A liderança do setor 
				de bancos e demais instituições financeiras, demonstra que os 
				maiores investimentos estão em um setor não produtivo, 
				comprometido com os ganhos financeiros oriundos, via de regra, 
				da conversão de capital monetário em capital fictício.
				
				 
				
				 
				
				 
				
				 
				
				9. Reservas internacionais
				
					
						| Gráfico 15 Brasil - Posição das reservas 
						internacionais
 Em bilhões de dólares
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						|  | 
					
						| Fonte: 
						Banco Central do Brasil Disponível em 
						https://www.bcb.gov.br/estatisticas/tabelasespeciais
 Elaboração própria.
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				Último item do balanço de 
				pagamentos, as reservas recebem o saldo final do balanço. Na 
				verdade, não obrigatoriamente crescem quando o saldo do balanço 
				de pagamentos é positivo, pois o país geralmente conserva o 
				eventual valor positivo em uma subconta chamada Ativos de 
				Reservas. Ela representa valores que podem ser convertidos em 
				reservas efetivas se o país decidir comprar moeda estrangeira 
				para elevar suas reservas, ou estes valores podem permanecer 
				estacionados para eventual uso em meses subsequentes quando o 
				saldo do balanço for negativo. Geralmente integram posições em 
				instituições internacionais como o FMI, onde os países possuem 
				um tipo de conta que pode ser usada a qualquer momento, sendo 
				inclusive permitido o uso de um tipo de cheque especial.
				
				O Brasil apresenta atualmente um 
				robusto saldo de reservas, que se formaram principalmente 
				durante o governo Lula, e que hoje agem como um tipo de seguro 
				contra eventuais crises monetárias que possam afetar seu balanço 
				de pagamentos. O governo Bolsonaro gastou cerca de 50 bilhões de 
				dólares das reservas, parte para fechar o balanço de pagamentos 
				e parte em intervenções no mercado de dólares para estabilizar a 
				taxa cambial. É sempre a primeira conta a ser observado por 
				investidores externos antes de ingressarem com seus capitais no 
				país, pois representa em certa medida o poder que o país tem de 
				fazer frente a eventuais fugas de capitais.
				
				Embora representem este “seguro”, 
				as reservas também acarretam o chamado “custo de carregamento”, 
				representado pelo fato de que, para mantê-las e encorpá-las, é 
				preciso, no caso do Brasil, recorrer a outras fontes de 
				financiamento, no caso, a dívida interna. Portanto, como os 
				juros pagos na dívida interna é muito superior ao rendimento das 
				reservas internacionais — preponderantemente representadas por 
				títulos do tesouro norte-americano, a juros quase zero — há 
				efetivamente um custo para se manter as reservas, representado 
				pela diferença entre as duas taxas. 
				
				
				10. Breve 
				histórico sobre a liberalização do fluxo de capitais no Brasil
				
				A partir da década de 1980, parte 
				considerável do mundo passa a viver sob a égide do 
				neoliberalismo, cujo principal componente é o de permitir o 
				livre trânsito de capitais entre os países. No Brasil, esta 
				década ficou conhecida como a “década perdida”, face às 
				sucessivas crises monetárias advindas das dificuldades 
				envolvendo a dívida externa. A partir da unilateral e arbitrária 
				elevação das taxas de juros efetuada pelos EUA em 1979 (de 7,5% 
				para 20%), inviabilizou-se que os países em desenvolvimento 
				continuassem honrando seus compromissos externos. Em 1987 o 
				Brasil inicia sua abertura financeira, quando se permitiu aos 
				residentes no exterior investir no Brasil através da criação de 
				diferentes tipos de fundos de investimentos, e foi 
				gradativamente aumentando. Porém, como estava envolvido com a 
				referida crise da dívida externa — inclusive com uma moratória 
				decretada unilateralmente em 1987 — não atraía capitais externos 
				até mesmo por ainda não possuir um mercado financeiro 
				consistente. Somente a partir de 1994, quando concluíram-se as 
				negociações do chamado “Plano Brady”, que proporcionou que as 
				dívidas dos países emergentes fossem securitizadas, criando 
				instrumentos de dívidas negociáveis nos mercados financeiros, e 
				com a adoção do “Plano Real”, o Brasil coloca-se em condições de 
				se tornar um mercado atrativo para o capital externo. A partir 
				daí várias medidas foram sendo tomadas para permitir tanto o 
				fluxo de capitais externos para o país, quanto o fluxo para fora 
				do país, integrando o país aos mercados financeiros do mundo.
				
				
				Do ponto de vista da entrada de 
				capital, talvez o recurso mais importante tenha sido o chamado 
				Anexo IV da Resolução 1.832/91 do Banco Central, que permitiu o 
				acesso direto dos investidores institucionais estrangeiros ao 
				mercado de ações e de renda fixa nacional. Até então, o único 
				canal para o trânsito de capitais eram as contas “CC5”. "Contas 
				CC5" eram contas previstas na Carta Circular nº 5, editada pelo 
				Banco Central em 1969, que regulamentava as contas em moeda 
				nacional mantidas no País, por residentes no exterior. Referida 
				Carta circular foi revogada em 1996 e, portanto, a expressão 
				“contas CC5” não mais se aplica às atuais contas em moeda 
				nacional tituladas por pessoas físicas e jurídicas residentes, 
				domiciliadas ou com sede no exterior. Hoje, as disposições sobre 
				essas contas constam do Título VI da Circular 3.691, de 16 de 
				dezembro de 2013. O objetivo inicial das CC5 era que o titular 
				no exterior, ao viajar para o Brasil, depositasse o dinheiro em 
				moeda nacional e, ao voltar ao exterior, pudesse sacar o 
				dinheiro em moeda estrangeira. Portanto, era possível, por meio 
				da CC5, trocar reais por qualquer outra moeda. Posteriormente, 
				foi permitido que outras pessoas, desde que devidamente 
				identificadas, depositassem nas CC5 para que o dinheiro fosse 
				sacado pelo titular no exterior. Isso facilitou o envio de 
				divisas para fora do país por um sistema que ficou conhecido no 
				mercado como “barriga de aluguel”. Diante da grande quantidade 
				de valores que estava saindo, em 1996 o governo decidiu limitar 
				a 10 mil reais os depósitos em dinheiro nas CC5. Mesmo assim, 
				continuaram sendo usadas para remessas ilegais, por isso, em 
				2005, depois do escândalo envolvendo o Banestado, o governo 
				restringiu ainda mais a utilização das CC5, até sua extinção no 
				mesmo ano. Atualmente, o brasileiro que quiser enviar dinheiro a 
				outro país deve fazer um contrato de câmbio com uma instituição 
				financeira, que será devidamente registrado e identificado no 
				Banco Central. No âmbito dos bancos, medidas durante o ano de 
				1999 praticamente eliminaram quaisquer impedimentos maiores para 
				a captação de recursos externos, liberando operações para livre 
				aplicação no mercado brasileiro. Assim, durante a década de 
				1990, mesmo sofrendo ataques especulativos e fugas de capitais, 
				gerando crises e tendo que recorrer ao FMI, o país continuou 
				aprofundando a conversibilidade de sua conta de capitais (conta 
				financeira).
				
				A partir de 2000, o processo de 
				liberalização prossegue permitindo-se a atuação de novos agentes 
				e modalidades de aplicação específicas aos investimentos 
				externos, também disponibilizando aos investidores 
				estrangeiros um mecanismo para negociação direta de ações nas 
				bolsas de valores brasileiras. A consolidação da liberalização 
				financeira da economia brasileira se dá em 2005, com o fim da 
				cobertura cambial nas exportações. Com isso, as empresas 
				exportadoras brasileiras ficam desobrigadas a internar no país 
				os dólares recebidos pelas exportações, podendo mantê-los no 
				exterior. Primeiramente com limites de valor e prazo, e em 
				seguida abolindo qualquer restrição, o que vigora até hoje. Esta 
				liberalização retirou do Banco Central um importante instrumento 
				para agir no mercado de cambio, perdendo o que era um mínimo de 
				previsibilidade sobre o ingresso de moeda estrangeira. Além 
				disso, os exportadores, em última instância, passam a atuar sob 
				o mesmo signo dos agentes financeiros, ou seja, trazendo os 
				dólares quando lhe convém, e permanecendo com eles no exterior 
				quando lhes for mais conveniente.
				
				Hoje, restam somente dois aspectos 
				que o mercado ainda espera do Brasil: acabar com as restrições 
				legais para participação de empresas estrangeiras em alguns 
				setores da economia; e o fim da proibição de realização de 
				operações domésticas em moeda estrangeira, ou seja, o curso 
				forçado do Real. Estes dois aspectos são citados pelo FMI como 
				exemplos de “instrumentos de controle de capitais”, o que 
				classifica o Brasil como país que ainda "restringe" o livre 
				trânsito de capital externo.
				
				
				11. Considerações finais
				
				A análise do balanço de pagamentos 
				brasileiro apresentado neste trabalho, compreendendo o período 
				desde a adoção do Real até hoje, nos permite concluir que 
				existem aspectos positivos e negativos no desempenho das contas 
				externas.
				O primeiro ponto a considerar é que o país tem conseguido manter 
				saldo positivo na balança comercial de bens. No entanto, ao se 
				aprofundar a análise nesta conta, é possível perceber 
				vulnerabilidades estruturais. O país, no decorrer dos últimos 20 
				anos, inverteu sua pauta de exportações, de forma a retornar ao 
				passado como um exportador de matérias primas. Não houvesse 
				deprimido sua indústria, poderia conviver hoje com uma 
				diversidade nas exportações que certamente proporcionaria maior 
				robustez na balança comercial. A desindustrialização também 
				afeta as importações, onde se pode observar a presença maciça de 
				bens industrializados.
				
				Outro aspecto positivo é o volume 
				expressivo de reservas internacionais que o Brasil formou e, em 
				certa medida, tem conseguido manter. À exceção dos últimos 
				quatro anos, quando consumiu cerca de US$ 50 bilhões das 
				reservas, estas têm se mantido já há uma década em patamar 
				superior a US$ 300 bilhões.
				
				Quanto ao exame do restante das transações correntes, as contas 
				seguintes à balança comercial apresentaram graves déficits que 
				comprometem sobremaneira o balanço de pagamentos. 
				
				Durante o período analisado, a 
				conta de serviços consumiu todo o superávit da balança comercial 
				de bens. É uma conta pródiga em mostrar as opções que o país fez 
				no decorrer dos anos. Os maiores déficits em serviços estão na 
				subconta Aluguel de Equipamentos, onde se destacam: i) aluguel 
				de plataformas para exploração de petróleo e gás; ii) aluguel ou 
				leasing de embarcações e aeronaves; iii) aluguel de satélites 
				para telefonia móvel. Quando se constata que o país desmanchou o 
				polo de construção de plataformas em Rio Grande no RS, vendeu a 
				Embraer e sucateou as estruturas dos estaleiros nacionais, 
				pode-se entender que o problema é muito mais de opção do que de 
				dependência. O déficit acumulado da conta de serviços nestes 28 
				anos, chegando a 700 bilhões de dólares, poderia ser ainda maior 
				não fosse o resultado positivo de 139 bilhões de dólares da sub 
				conta de serviços de arquitetura e engenharia, mais um setor 
				onde o país fez de tudo para liquidar suas empresas, através dos 
				processos levados à cabo pela operação lava a jato.
				
				Mas nada solapa mais o balanço de 
				pagamentos brasileiro do que a conta de renda primária. Como se 
				viu, por ela transitam os fluxos de juros, lucros e dividendos, 
				e sem nenhum tipo de taxação ou regulamentação, nada menos do 
				que 1 trilhão de dólares sangraram do país desde 1995 por este 
				mecanismo. A quase totalidade dos lucros obtidos em solo 
				brasileiro pelos investimentos estrangeiros diretos e em 
				carteira, são remetidos ao exterior, o que demonstra que estes 
				investimentos, tão decantados pelos economistas liberais como a 
				solução para o desenvolvimento do país, comprometem sobremaneira 
				as contas externas. 
				
				Quando analisamos os investimentos 
				estrangeiros, vimos que a conta sintética Investimento Direto no 
				País, abriga uma subconta chamada “Operações Intercompanhia”. 
				Na prática, é uma conta de livre trânsito de capitais 
				monetários, cujas remessas equiparam-se à empréstimos, gerando 
				assim encargos de juros. Com isso, durante o período 1995 a 
				2022, foram remetidos ao exterior 91 bilhões de dólares a título 
				de “Juros de operações intercompanhia”. Embora tendo essa 
				natureza, a conta Operações Intercompanhia passou a integrar o 
				Investimento direto no país, a partir da versão 6 (BPM6) do 
				Balanço de Pagamentos. Nos últimos cinco anos, as operações 
				intercompanhia tem representado, em média, 30% da conta 
				Investimento Direto no País.
				
				Com exceção do período 
				compreendido entre 2003 e 2007, durante o governo de Lula, o 
				país acumula déficits históricos nas transações correntes (conta 
				corrente). Com isso, é a Conta Financeira que, na maioria das 
				vezes, proporciona um fechamento positivo do balanço de 
				pagamentos. Essa realidade pode explicar a razão pela qual esta 
				conta não tenha restrições ao livre transito dos capitais, pois 
				do contrário ela poderia não ser suficiente para cobrir os 
				sucessivos déficits em conta corrente, e posterior cobertura do 
				balanço de pagamentos sem o uso das reservas.
				
						Gráfico 16
						Brasil - Passivo externo líquido
						
						Em bilhões de dólares
				
				
				
				O exame mais detido do balanço de 
				pagamentos do Brasil, revela um país absolutamente subordinado 
				ao neoliberalismo. A absoluta liberalização da conta financeira 
				e a opção pelo cambio flutuante, colocam o país à mercê dos 
				interesses do capital externo que se utilizam do sistema 
				financeiro nacional para a reprodução de capital fictício. Como 
				vimos no gráfico 12, há uma massa de capital fictício 
				(investimentos em carteira) na ordem de 450 bilhões de dólares, 
				ao qual se pode somar 257 bilhões de dólares das tais “operações 
				intercompanhia”, cujo único objetivo parecer ser o de drenar 
				capital do país a título de juros, totalizando 707 bilhões de 
				dólares, mais que o dobro do valor das reservas internacionais, 
				e aproximadamente 6% do PIB brasileiro. No compito geral, os 
				investimentos estrangeiros no país superam os investimentos no 
				exterior (passivo externo líquido, gráfico 16) em 774 bilhões de 
				dólares, conforme posição em dezembro de 2022. Este quadro atua 
				como uma chantagem à economia brasileira. Haja visto o que 
				ocorreu entre os meses de março e dezembro de 2022, quando cerca 
				de 120 bilhões de dólares evadiram-se do país pela conta 
				financeira, consumindo bilhões em reservas, e elevando a taxa 
				cambial com consequências diretas sobre os custos das 
				importações, contribuindo para a elevação da inflação que 
				penaliza ainda mais a maioria da população.
				
				Por fim, resta claro que qualquer 
				projeto que vise aplacar ou debelar o neoliberalismo, só se 
				viabiliza com a solução dos problemas estruturais apresentados 
				pelo balanço de pagamentos. Uma nova maioria política que possa 
				empreender um processo de reindustrialização, deve focar 
				primeiramente na máxima vigente desde os tempos de Juscelino 
				Kubitschek: a substituição das importações. Como vimos, há 
				apenas 20 anos atrás a indústria contribuía com quase metade das 
				exportações. Retomar este patamar, e diminuir as importações de 
				manufaturados, elevaria o saldo da balança comercial de bens de 
				forma a reduzir substancialmente o déficit em conta corrente. A 
				conta de serviços também pode ter seu prejuízo neutralizado com 
				a retomada do polo de construção de plataformas e a 
				revitalização do setor de construção e engenharia. Somando-se a 
				isso algum tipo de restrição à desenfreada remessa de lucros e 
				dividendos pela conta de renda primária – como também defendia o 
				ex-presidente João Goulart há 60 anos atrás –, o país pode, a 
				médio prazo, alcançar superávit em suas transações correntes. 
				Saldo positivo em conta corrente permite ao país iniciar um 
				processo de regulamentação da conta financeira, privilegiando a 
				entrada de capitais que contribuam para o desenvolvimento da 
				economia real.